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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
Livros Publicados:
a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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sexta-feira, abril 29, 2005

ENTREVISTA SOBRE LITERATURA DA LÍNGUA PORTUGUESA


Resolvendo, finalmente, aceitar as indicações, em primeiro lugar, do Manoel Carlos (Agrestino), depois da Ilmara (Bisbilhoteira), também de nossa amiga Amita (brancoepreto), da Borboleta Azul (Borbo2005) e de Marta Matos (Minhas Idéias), eis minhas respostas ao divulgado questionário sobre a Literatura da Língua Portuguesa. Quero, outrossim, informar que não me prenderei somente aos autores da citada língua, contrariando um pouco a finalidade da entrevista, como também alguns fizeram. Mas, vamos ao que interessa:

1. Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?

A obra do escritor Guimarães Rosa.

2. Já alguma vez ficaste apanhadinho (a) por um personagem de ficção?

Entre alguns outros citarei o personagem Macunaíma, do livro homônimo de Mario de Andrade, o chamado herói sem caráter ou um anti-herói. E recorro ainda a dois personagens da literatura estrangeira: um masculino e outro feminino. Na primeira alternativa cito o extraordinário personagem Aureliano Buendía, do romance Cem anos de solidão, do colombiano Gabriel Garcia Márquez. E na segunda, a não menos extraordinária Ana Paúcha, do livro Ana-Não, obra definitiva do escritor espanhol Agustín Gómez-Arcos.

3. Qual foi o último livro que compraste?

Comprei e lerei brevemente Ensaio sobre a cegueira, do escritor José Saramago.

4. Qual o último livro que leste?
Li alguns autores norte-riograndenses, como o Moacy Cirne (Luzes, sombras e magias), o Bartolomeu Correia de Melo (Lugar de Estórias) e o livro organizado pelo Ruy Castro Um filme por dia (Crítica de choque ? 1946- 73), do Antonio Moniz Vianna.

5. Que livro estás a ler?

No presente momento dei uma breve trégua. Estou compondo, passo a passo, uma espécie de autobiografia e divulgando neste meu blogue. Talvez a história de Gupiara (cidade que existiu e não existe mais, infelizmente) vista através dos olhos críticos desde a infância, depois adolescência e posteriormente fase adulta de mim mesmo. E seus alumbramentos: sejam sexuais, sociais, existenciais e morais ou fundamentais.

6. Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?

Não tenho interesse algum em ir para uma ilha deserta. Basta a ilha de pedra em que vivemos. Mas, poderia ir numa condição muito especial. Se pudesse voltar no tempo e levar comigo as belas mulheres que fizeram parte de minha existência, além da linda, na época, claro, atriz Kim Novak. E na minha exigência, preferiria que elas se alternassem nas cores, ou seja, algumas loiras, outras morenas e também ruivas. Arrumaria, então, a bagagem com as mesmas e os seguintes livros, muito mais do que os cincos que pediram: do escritor Machado de Assis levaria Memórias póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro, do contista Rubem Fonseca poderia levar Feliz ano novo e O Prisioneiro. Levaria também alguns contos do Aníbal Machado e também do Ivan Ângelo, fora o Corpo vivo, do Adonias Filho. E a obra poética do Carlos Drummond de Andrade, juntamente com outro mineiro, o Luiz Vilela e seus belos contos. Sem falar em Angústia e Memórias do Cárcere do Graciliano Ramos e o Corpo de baile, do Guimarães Rosa. Também não me esquecer da Clarice, a sempre Lispector (que apesar de ter nascido na Ucrânia, veio para o Brasil com dois anos), autora, evidentemente, consagrada no nosso país.
E a língua estrangeira, o que nos traria: levaria alguns livros do Franz Kafka, entre eles O Processo, e o livro de Thomas Hardy Judas, o Obscuro (belíssimo romance e um dos meus primeiros alumbramentos literários), além de Albert Camus e o já citado Ana-Não. Levaria também O apanhador no campo de centeio, de J. D. Salinger. E poderia levar O amante de Lady Chaterlley, de D. H. Lawrence, que dividiria leitura com minhas parceiras.
Mas, são tantos os livros, hein?

7. A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e por quê?

Passarei este testemunho para três amigas queridas:

1. Ângela, do colcha de retalhos (
http://anjosa39.zip.net/ )

2. Marta, do minhas idéias (
http://martamatos.blog.uol.com.br/ )

3. Keila, a Loba (
http://uivosdaloba.weblogger.terra.com.br/ ).


ESPAÇO LIVRE

Compartilho hoje com vocês de outro bonito poema do amigo e poeta Horácio Paiva (Natal):


EPITÁFIO


hoje eu não estou só
mas com todos
e com tudo

sou a noite

ou talvez
a extrema impossibilidade da morte



segunda-feira, abril 25, 2005

DÉCIMOS QUINTOS ALUMBRAMENTOS


E, então, da melhor maneira possível, no começo, meio às escondidas, enfrentei e pus em jogo minha nova afeição adolescente. Encontrava-me no apogeu, acho que com 17 ou 18 anos, e sedento de carícias e outras coisas, querendo vivenciar o momento como se fosse um longo prazer. Embora soubesse que dali poderia sair apenas mais uma ilusão. Longe, contudo, de meu primo, que deve ter se entendido ou não com Mirtô.(Soube depois que ele acabara seu namoro e fora estudar fora da cidade, esperneando-se para não fazê-lo, já que ficaria longe de tudo e logicamente de suas almejadas conquistas. Na certa deve ter feito alguma estripulia ou não quisesse estudar com afinco. E a pobre da Mirtô ficava na espera de um possível e breve retorno). Pareceu-nos que ela esperaria uma decisão dele, mesmo sabendo de sua inesperada ida para outra cidade.

Eram as facetas e piruetas da vida, passadas, presentes, repetidas e suplicadas, pois tudo ia e vinha, acabava e depois retornava, esparramava-se e logo a seguir amasiava-se, tudo discreto ou leviano e novidadeiro. Seriam os aspectos e características das possibilidades existenciais, dos redemoinhos e dúvidas, incoerências ou harmonias. Dessa colateralidade ou retilinidade do estar ou não, de um inseparável e depois afastamento gradativo (por que não dizer súbito?) de uma convivência. Eram, enfim, as ausências sentidas e logo em seguida evidenciadas de um cessar de tudo, que seria a própria morte.

Portanto, minha nova e bela pretendente chamava-se Maria das Graças, uma gracinha de pessoa, no auge de seus 13 ou 14 aninhos. Novamente uma idade patamar para os meus relacionamentos. Mas, acredito que tenha sido apenas uma coincidência, sei não... E, dela, a garota, ah!, o que falar? Sei que estava ainda em formação, os peitinhos crescendo vivificantes e apressados e o corpo delineando-se na pele morena e já viçosa. Sua face, bonita e detalhada, afeiçoava-se no aspecto abrangente. Poder-se-ia dizer que aquela cútis trigueira moldava-se e perfilava-se com serenidade, oferecendo, desde já, um belo formato para o conjunto limitado. Seria, sem pestanejar, com precisão e certeza, uma formosura de mulher.

Pois é, estava diante de mim uma garota em crescimento, uma tessitura, imaginava, inigualável. Dali em diante, a esplêndida menina-moça em questão passaria pelas diversas fases da vida. Poderia se encantar ou se decepcionar, sentir poucas alegrias e muitas tristezas. Ou vice-versa. Eram os encantamentos e desencantamentos que viriam de ano em ano. E depois ela estaria adulta e desassombrada para os transtornos e também adornos de uma existência. Quem não se apaixonaria?

ESPAÇO LIVRE


TRAJETO AO ORGASMO


Nos teus olhos verdes
a esperança.
E o encantamento.
Nos carnudos lábios
o meu desejo.
E a sagacidade voraz.
Nos seios volumosos
minha inquietude.
E o bêbado arroubo.
Nos quadris delineados
o cego tateamento.
E minha volúpia.

E na vagina febricitante
ato contínuo e final.


Bené Chaves



quinta-feira, abril 21, 2005

DÉCIMOS QUARTOS ALUMBRAMENTOS


Estava, depois de um namoro mal resolvido, embora bem amado, dedicando-me mais aos estudos, pois minha mãe, a Mainhô, reclamara das baixas notas que enfeitavam e enfeavam o boletim. Menino, nada de namoro, você está descuidando e se prejudicando, desse jeito vai ser reprovado. Avie-se!, exclamava ela com inquietação. E, então, deste modo, os acontecimentos seguiram rumo, tudo avexado nas circunstâncias de momento. O que ficou realmente sobrou, restaram somente as saudades ainda não diluídas. Permaneceriam acesas para tentar retemperar um passado cheio de alegria e entretenimento. Um passado de ilusões, outrora ilusões que mantinham novas esperanças sobre um futuro incerto. E fixavam sombras perdidas ao acaso, a interinidade de amores desiludidos ou não no caminho de uma existência.
Numa ação paralela e de bom grado, resolvi aguçar minha capacidade criativa, participando e ateando discussões outras, conquanto também revolvia os ambientes inertes ou pusilânimes. Era chegada a hora de uma maior peleja com as partes acomodáveis. E assim sendo, tentava transformar e sitiar um pouco posições distorcidas e abrandadas. Minha intenção talvez não tivesse êxito imediato, porém com o andar e carregar do tempo, ela pudesse resultar num feito admirável. Sim... Por que não?
Mas, nem tudo sai como se quer. E o certo é que o desejo ficou somente na vontade, pois era realmente difícil controlar situações adversas. Parece-me que houve um exacerbado descontrole e tudo ficou como antes. As posturas não foram corretas, ensejando discordâncias e retaliações. E enquanto a cidade embaçava também de poluição, maldizendo seu fado e progresso, acordos e maquinações (aliás, Gupiara ia aos poucos se tornando uma atrevida e esnobe província, alterada com o crescente aparecimento de sotaques e costumes incomuns ao seu cotidiano. Eram expressões que destoavam e faziam da mesma uma urbe com características anômalas), arranjei novamente outra namorada. Para desespero de Painhô e Mainhô.
Que diachos!, não sei explicar, mas tinha uma facilidade de envolvimento incrível. Seria o tal do belo porte preconizado pela parteira na hora de meu nascimento? Ou, talvez, elas, as garotas, vissem que eu era uma pessoa de conduta ilibada. Nem tanto, nem tanto... Acho que desejavam apenas namorar. A idade, claro, favorecia nossos apetites e da mesma forma a vontade de uma aproximação do sexo oposto. Portanto, que tal incitação tivesse livre arbítrio entre nós, pudesse entrar e se alojar como bem quisesse.
No caso aqui em especial, ou seja, da menina conquistada, também pudera... Minha nova namorada era uma garota linda, talvez até mais jeitosa e gostosa do que Alba. E quem não toparia? Lógico que não iria deixar a mercê de outros, de jeito nenhum. Todavia, tal relacionamento não seria bom nem para mim e tampouco para minha recém parceira. Iriam dizer que poderia prejudicar nossos estudos. Menos ainda para minha mãe, que já estava de olho bem aberto quanto às travessuras de seu jovem mancebo. Ora mais!... Fazer o quê? Deixar-me amar, era minha sina sempre amar, fantasiar, sonhar, deliciar, apalpar, beijar e por fim transar, verbo ainda não em uso para o fim proposto na época vivida. Partir para mais outra tentativa de rejubilação. Posterior separação e sofrimento não vinham ao caso. Éramos sagazes para não pensarmos ainda neste substantivo masculino de impacto sobre nossos sentimentos. E a minha idade adolescente teimava em não permitir tais legitimidades. Enfim, era a vida!...

ESPAÇO LIVRE

OS MELHORES E OS PIORES DO CINEMA BRASILEIRO

MELHORES FILMES

1. Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha)
2. Vidas Secas (Nelson Pereira dos Santos)
3. Terra em Transe (Glauber Rocha)
4. Cabra Marcado para Morrer (Eduardo Coutinho)
5. Anahy de las Misiones (Sérgio Silva)
6. Tudo Bem (Arnaldo Jabor)
7. Memórias do Cárcere (Nelson Pereira dos Santos)
8. Ganga Bruta (Humberto Mauro)
9. Os Fuzis (Ruy Guerra)
10. O Bandido da Luz Vermelha (Rogério Sgarzela)
11. Eles não usam Black-Tie (Leon Hirzsman)
12. A Hora da Estrela (Suzana Amaral)
13. Limite (Mário Peixoto)
14. Anjos do Arrabalde(Carlos Reichenbach)


PIORES FILMES

NORDESTE SANGRENTO (Wilson Silva)
MATEMÁTICA 0... AMOR 10(Carlos H. Christensen)
SELVA TRÁGICA (Roberto Faria)
A FALECIDA (Leon Hirszman)
ONDE A TERRA COMEÇA(Ruy Santos)
VEREDA DA SALVAÇÃO (Anselmo Duarte)
A LEI DO CÃO (Jece Valadão)
OS SETE GATINHOS (Neville D'Almeida)
PERDIDA (Carlos Alberto P. Correia)
MÃOS VAZIAS (Luis Carlos Lacerda)
AMOR VORAZ (Walter H. Khouri)
R. C. EM RITMO DE AVENTURA (Roberto Faria)
GABRIELA (Bruno Barreto)
A DAMA DO LOTAÇÃO (Neville D'Almeida)
PEDRO MICO (Ipojuca Pontes)
CAPITALISMO SELVAGEM (André Klotzel)
JARDIM DE ALAH (David Neves)
SOMBRAS DE JULHO (Marco Altberg)
O CEGO QUE GRITAVA LUZ (João B. de Andrade)
MIRAMAR (Julio Bressane)
TIETA DO AGRESTE (Cacá Diegues)


Bené Chaves













domingo, abril 17, 2005

DÉCIMOS TERCEIROS ALUMBRAMENTOS



O rapazelho estava cedendo lugar a um rapazola, com as devidas proporções e determinações. Crescia na idade e tudo o mais. E olhando meu corpo, já sentia os primeiros sinais pubescentes formando também uma espécie de triângulo ao redor do pênis. Seriam os naturais e ditos pentelhos, vocábulo atualmente desusado para a finalidade proposta e abusado em outras denominações. O próprio órgão sexual aparecia ereto a qualquer pequeno estímulo, com os pêlos nascendo vaidosos no corpo inteiro.

Era, portanto, a minha fase inicial, a fase inicial de nossa transição, quando você não podia tomar um banho que necessariamente ou quase teria de se masturbar. E sempre com uma revistinha ao lado, embora a mesma fosse ainda tímida quanto a fotos estimulantes e desnudas. Ou, então, com o pensamento voltado para alguma menina-moça que lhe viesse refrescar a mente. As garotas também em crescimento e já revelando o aspecto apreciável de seus corpos em formação. O que nos deixava ainda mais excitados.

Depois me separei um pouco daqueles atos e brincadeiras juvenis, resolvendo ficar um período sozinho. Meu primo continuou seu namoro e afastou-se de mim um certo tempo. Ele teve talvez mais sorte do que eu, pois Mirtô (ah, que bela loira! Quando penso naquele tempo, vejo os acontecimentos repassados e vivenciados como se fossem atualmente, com Alba também a desfilar ante meus olhos com a sua ingenuidade do período) parecia encantada com sua pessoa, já que era fino no trato e na imprudência. Sorte dele, azar o meu, quando ouvia dizer que era um menino com uma lábia capaz de conquistar boa parte das menininhas que circulavam entre nós. Mas, tinha a Mirtô como uma namorada, digamos, oficial. E penso que a mesma estava era doida por um agasalho de orelha. Podia ser que dali, diziam as línguas tagarelas, surgisse um futuro casamento, já que meu primo era totalmente imprevisível. Porém, eu não acreditava, visto suas estripulias praticáveis, ou seja, de rapaz namorador.

Eram as moldações do tempo se inserindo nos caminhos traçados e apanhados. As hesitações de uma época de exaltação fervilhando dentro da gente. Acabara, sim, meu namoro com Alba, mas não sabia o que teria dito a mesma sobre minhas intenções. Talvez, quem sabe, alguma coação de seus pais a fez tomar tal decisão. E não podia culpa-la, lógico, de sua atitude. Éramos jovens ainda para uma responsabilidade maior e dedicada a uma relação duradoura. Evidente que o desgaste chegaria com o tempo, como efetivamente chegou, pois não teria condições e tampouco decisões no instante presente para assumi-la com seriedade. Iria continuar meu itinerário (sem saber, contudo, o que viria pela frente) e ela deveria seguir seu destino... Passei e repassei.

ESPAÇO LIVRE

Compartilho com vocês o bonito poema Ponto Final de Linaldo Guedes (
http://linaldoguedes.blog.uol.br/), poeta paraibano e autor do livro os zumbis também escutam blues .


Ponto Final

é durante
o encanto
que a dor existe


e
(só)
depois da dor
que o amor fica



quarta-feira, abril 13, 2005

No dia 22 de março de 1995, portanto há dez anos passados, o jornal Tribuna do Norte publicava este meu comentário sobre Rebecca, a mulher inesquecível, filme de Alfred Hitchcock. Compartilho com vocês, hoje, tal divulgação.



REBECCA, A MULHER INESQUECÍVEL



Dizem que Alfred Hitchcock é, possivelmente, o mais conhecido dos cineastas. E que com certeza resume um gênero cinematográfico: o suspense.
Depois de rejeitar várias ofertas de Hollywood, o gorducho realizador das obras-primas Um Corpo que Cai / Vertigo (1958) e Janela Indiscreta (1954) aceitou a proposta de David Selznick, importante e poderoso produtor, para fazer Rebecca, a mulher inesquecível, resultando num grande sucesso de bilheteria e consagrado com o Oscar de melhor filme em 1940. (Aqui a premiação num raro momento de lucidez da afamada estatueta americana).
Portanto, a fita em questão, é o primeiro trabalho americano de Hitchcock, extraído que foi da novela de Daphné Du Maurier, que posteriormente o mesmo cineasta viria a realizar Os Pássaros(1963) e cuja idéia básica seria também inspirada num conto da própria Du Maurier.
Em Rebecca, a mulher inesquecível, o chamado mestre do suspense especula e joga com o medo, a paranóia e outros assuntos inerentes ao seu estilo. É a história de uma jovem e bonita mulher (Joan Fontaine, mais bela do que nunca) que se apaixona e casa com um viúvo inglês (Laurence Olivier) muito rico e vai viver com ele na mansão que outrora pertencia e era ocupada pela primeira esposa.
Contudo, a nova mulher do aristocrata é perturbada com fatos relacionados à falecida, vindo daí situações de tensão em um clima peculiar e próprio ao gosto de Hitchcok. Inclusive ressalte-se a atmosfera nitidamente expressionista em todo o desenrolar do drama e da trama.
Tudo começa com a narração de um sonho, a do retorno à fabulosa mansão dos Manderleys, onde se nota, desde já, uma força sobrenatural e intimista que irá situar toda a fita, daí passando para a realidade, onde o personagem central, junto a um penhasco, tenta algo contra si. E então começa a intriga propriamente dita, envolvendo o inglês rico e a mulher pobre e humilde. Num simples acaso, portanto, eles se juntam e se apaixonam.
Mas, aquela jovem de aparência frágil poderia substituir a tão querida Rebecca? O clima de suspense é alojado na mansão e Hitchcock começa a instalar o seu ambiente de tensão e angústia. Iniciam-se as lembranças caracterizadas nas expressões dos criados e, sobretudo, na sinistra governanta. Tudo girava em torno da primeira esposa, como lençóis e lenços gravados e os mínimos detalhes possíveis. A própria governanta fazia questão de mostrar o domínio que a antiga patroa exercia, quando exibia com orgulho o rico guarda-roupa da mesma.
E quando em dado momento a jovem casada resolve se impor e consegue do companheiro um desejo da falecida, presenciamos, então, um baile de fantasias. Mas, quando ela se veste e fica parecida com Rebecca, todos desaprovam, inclusive o marido. E, aí, a frustração cai como um peso sobre a candura de nossa heroína, entrando em antagonismo com a força da lembrança da outrora e dominadora mulher. Sempre no apurado domínio da narrativa que o velho gorducho conduzia suas histórias.
Mas, o enredo nos revela uma surpresa. Sobe à tona, além do barco, outro fator que desencadeará novas situações. É sabido que o aristocrata não morria assim de amores pela primeira mulher. Pelo contrário, não viviam nada felizes. A verdade finalmente surge e o certo é que a trama pode ser avaliada também como uma simulação. Afinal, mais um ponto na carreira de Hitchcock, que soube desenvolver com mestria o livro da famosa escritora. E cujo filme ainda não envelheceu, apesar de mais de sessenta anos de existência.


ESPAÇO LIVRE


SOFREGUIDÃO


No silêncio eu escuto
o conluio de teu amor
o sibilar dos passarinhos
teu ardor cego e infinito.

Observo uma cantiga
no sossego extasiado
o ronronar nos ouvidos
tua inquietude rosnar.

E entre nós dois amando
eu posso estrangular
os soluços do porvir.

Bené Chaves



sábado, abril 09, 2005

DESFECHO DE UM EFÊMERO AMOR



Estava crescendo e também, suponho, perdendo Alba. Seria realmente amor a palavra certa para externar nossos juvenis sentimentos? Na minha idade, acho que já com uns quinze anos, era difícil definir. Tudo não passava de uma empolgação. Creio que para ela fosse a mesma coisa. Não havia a tal da ligação definida. Talvez pudéssemos gostar um do outro sem o arroubo necessário para inventariar qualquer relacionamento mais forte. Porém, mesmo assim, ih!, não poderia imaginar que a tivesse perdendo. E aquela paixão, ou, seja lá o que, estivesse se dilacerando aos poucos como uma formiga que vai arrastando suas quinquilharias e deixando um vácuo na fonte inicial. Seria, quem sabe, algum desgaste pós-puberdade? Não sabia a intenção dela, mas intuía uma verdade próxima. Notei, portanto, que minha jovem amada começava a ficar diferente e indiferente. Sinal dos tempos ou apatia própria da idade, não tinha a mínima idéia. Somente Alba, claro, deveria e saberia falar o princípio certo sobre o inesperado enigma. Talvez um desejo de mudança no seu itinerário rotineiro e amoroso.

Mas, os acontecimentos são assim mesmo, ficam laboriosos e duvidosos, tudo inebria com o passar. A dureza é uma só. Menos dia mais dia sabia que iria acontecer. E o insofrido envolvimento teria que esvaziar. Seriam os fatos sucedidos da existência, aliás, do comecinho de uma vida, suas atribulações duradouras ou passageiras. Alba fez parte de um pouco da minha puberdade, como sabia que a recíproca era também verdadeira. Meu corpo se juntou ao dela (que delicioso o momento daquela junção!), mesmo que tivesse sido apenas em sonho. E foi de uma gostosura sem precedentes, sabendo-se, lógico e paradoxalmente, não ter existido de verdade. Embora algumas imagens fictícias possam se transformar em exatidões perfeitamente realizáveis. Na pior (ou melhor?) das hipóteses, minha primeira afeição. E também a primeira ilusão de um suposto amor proibido. O desagradável estava justamente aí.

Entretanto, teria de tocar a vida para frente e suportá-la do jeito dela, nada se podia fazer contra suas adversidades e diversidades. Alba não sabia disso, vivia e viveu o seu momento, como também eu ignorava tais ocorrências. Era muito jovem ainda e tinha um imenso (igual a ela) caminho para percorrer, claro que iria gozá-lo. O sentimento ficaria de lado, juntando-se, portanto, com o pesar e a saudade que adviriam dali. Talvez uma dor passável, imatura, ainda principiante, mas, sobretudo, uma mágoa quase irremediável de uma recordação afetuosa. E um suporte triste das relembranças de grandes amizades ou afeições perdidas. Enfim, a primeira porrada no início de uma era e sua palpitante extravagância compassiva. Apre!

ESPAÇO LIVRE



RENASCENÇA



No mar azul e profundo
naquele rastro de algo
eu me perco nas ondas
mergulho desaparecendo
das sinuosidades de um
temível e indúctil tempo.
Apareço depois no clarão
lírico de nova existência.

E acalento multidões...



Bené Chaves



terça-feira, abril 05, 2005

A DUVIDANÇA


Talvez tenha sido meio difícil encarar Alba dias depois, não sabia ao certo o que tinha acontecido. Encabulei-me e o coração disparava ao vê-la. Meu primo ficou desconfiado e pensou logo que eu tinha papado, ih!, a pobrezinha. Não era nada daquilo que estavam pensando. Apenas ainda flutuava diante do ocorrido numa excitação ilimitável. Ou seria? Mas, a ilação fora decerto apressada e maldizente. Um labéu na reputação da própria. Ela, coitada, talvez não soubesse de nada, podia ser a mais inocente das criaturas. Bem que poderia ter me desejado naquela noite mágica, porém, pelo que se depreende, tudo não passou mesmo de uma fantasia sobre seu belo corpo. Aliás, uma gostosa e efêmera fantasia.

Devo ter imaginado todos os acontecimentos e repassado depois a duvidosa verdade? Quem não quereria, contudo, que eles fossem realizáveis? Eu, na minha quase junção com a adolescência, torcia o bastante para efetuar qualquer relato inimaginável. Coisa de menino tolo, malsinações de uma idade febricitante. Crendeiro? Que teria sido uma delícia, ah!, ninguém poderia dizer o contrário. Mas, também, um tripúdio para quem o dissesse. E fiquei sem saber, ao certo, se o deslumbrante encontro sob as luzes tênues entre quatro paredes tivesse tido um cunho de ficção ou realidade. Acho que a ilusão ainda irá permanecer por um bom período, enquanto também perdurar a incerteza aos olhos de outrem.

Porém, o tempo passou rápido e fogoso. Tive mais alguns encontros com minha garota e tudo depois continuou como antes. E cheguei a acreditar que outra noite como aquela jamais iria acontecer. Foi um sonho/realidade que se transformou posteriormente numa realidade/sonho. Ou vice-versa. Dali em diante nada de idéias quiméricas. Namorinho sem nenhum fato inovador e perturbador. Então me parece que Alba não gostou do ato em si ou somente imaginou não ter gostado. E tudo virou um acaso, uma desconfiança, sob os olhares atônitos e certeiros de um falso moralismo existente. Minha namorada cismou diante de tanta questiúncula de uma maneira sutil ou indireta. Mesmo que tenha sido mera ilusão. O marasmo, portanto, voltou e clareou, num instante se instalou. Com rima e tudo.


ESPAÇO LIVRE



ESCURIDÃO



Nos gestos radicais
aniquilam-se
passados
alegrias
tristezas
presentes.

Ilusões de uma vida.

Nas atitudes normais
evidenciam-se
coerências
transigências
ponderalidades
futuros.

Sombras de um eco.

Bené Chaves



sexta-feira, abril 01, 2005

ALUMBRAMENTO ESPECIAL


Sem saber se estava dormindo ou acordado, olhei, então, ao redor. Com intensa curiosidade descobri o que desejava. E num passo meigo, lento e mágico, Alba adentrou no quarto e veio até minha cama. Para surpresa minha agachou-se delicada e deliciosa. Estava linda com aquela camisola transparente e aderente, numa simetria dos dois adjetivos que me deixou palpitante. Quase me derreti ali mesmo, estirei os braços e esperei-a avidamente, porquanto, neste ínterim, uma buliçosa bulimia atacou meu corpo por inteiro. Não pude, lógico, resistir. Gritei, uai!... ué!... hurra!... Não acreditava no que via. Ou acreditava no que não via.

E também, ao mesmo tempo, numa fusão de imagens, as pessoas de Gupiara pareciam jogar-se umas contra as outras, os olhares apavorados diante de acontecimentos irrefutáveis de desdém. Pensei que tudo aquilo seria uma vida descosida, uma existência de desprovimentos e desproteções das ocorrências esperadas. Ou inesperadas?

Porém, atento ao primeiro caso e para espanto meu, Alba levantou-se e começou a tirar a sensual peça, ou seja, a camisola diáfana. Vi, então, uma escultura à minha frente. Com apenas quatorze ou quinze aninhos. Era belo, infindavelmente belo o corpo nu de minha namorada. Não tinha muitas palavras para descrevê-lo, apenas e tão-somente para desejá-lo, afagá-lo. E foi o que fiz. Puxei-o com delicadeza e ele deslizou suave para o colchão, o repentino e macio leito. Aquele corpo dali em diante seria meu, unicamente meu. Iniciei, portanto, minha doce e árdua tarefa de amá-lo, de penetrá-lo. Achava-me em delírios, êxtases, sei lá o que... Exalçado! E tudo, enfim, terminou num ensandecido e simultâneo orgasmo. O ato, em si, foi um instante de puro prazer, como se nós dois estivéssemos a galgar uma extensão indefinida e interminável. Queríamos vivenciá-lo terno e eternamente. Ela gritou, gritava, se deliciou, deliciava, exultou, exultava, gozou, gozava... Aleluia!

Sei não, mas acho que depois daquele dia, ou melhor, noite, não era jamais o mesmo, sobretudo sabendo que (ou não?) vivera um invulgar e maravilhoso sonho. Tinha certeza disso, pois, de qualquer maneira, possuíra Alba com todas as minhas forças. Humanas ou sobrenaturais. Ou, então, apenas oníricas. Mas, o certo é que a possuíra. E, a partir daí, seria um outro rapaz, numa mesclagem do verdadeiro versus o imaginário.

Pois é, queridas amigas e amigos: aquela noite simplesmente não existiu. Ela explodiu! De contentamento, afeto, de fantasia, alegoria. Ela explodiu numa realidade quimérica. Foi uma antevisão, uma explovisão. Uma mágica ilusão...

ESPAÇO LIVRE


NUDEZ ANTROPOFÁGICA



Oh, o corpo da mulher!
Indelével
modelar.
Loiro ruivo moreno
nu cru
vertical
horizontal
assado
temperado
ele me aquece.
Odor de carne fresca
enlouquece.
Cortado
na mesa
cama
doce paladar
corpo-carne para amar.


Bené Chaves