sábado, fevereiro 24, 2007 |
A SONORIDADE NO CINEMA
Húngaro (final)
A Hungria deu, antes da segunda guerra mundial, inúmeros artistas, diretores e produtores cinematográficos aos grandes estúdios da Europa e da América. E talvez por isso mesmo não tenha conseguido organizar sua própria indústria de filmes. O cosmopolita Alexander Korda (considerado um dos fundadores do cinema húngaro) foi um dos que deixaram sua pátria e passou a filmar em diversos países, enquanto o naturalizado americano Mihaly Kertesz (que mudou o nome para Michael Curtiz) também abandonava seu solo pátrio. São húngaros Geza von Bolvary, Paul Fejos, Geza Radvany, Peter Lorre e Frigyes Ban, entre outros. Em maio de 1949 a Hungria perdia um notável teórico do cinema. Autor de ensaios de fundamental importância sobre a estética em geral, estabelece que a linguagem se realize pela montagem, enquadramento e grande plano. Estamos falando de Bela Balázs, que ainda dizia: 'talvez nenhuma outra arte permita constatar e avaliar o próprio aspecto e alcance social como a arte do cinema, a ponto de se poder dizer que no cinema a arte não é o mais importante'. Balázs foi autor de argumentos de fitas célebres, como A ópera de três vinténs (Pabst, 31), Em qualquer parte da Europa (Radvany, 47), e Pedaços da terra ( Frigyes Ban). Aliás, foi com Radvany e Ban que o cinema húngaro manifestou - no pós-guerra - toda a sua pujança, projetando-se pela primeira vez no cenário mundial. O tema da infância abandonada é abordado no filme Em qualquer parte da Europa (que foi exibido aqui em Natal ainda no tempo do Cine-clube Marista, uma época áurea e saudosa para quem a vivenciou), que o cineasta Nicolai Ekk já focalizara - mais de dez anos antes - em Caminho da vida, de 1931, o Vittorio De Sica em Sciuscià/Vítimas da tormenta, de 1945/46 e o espanhol Luis Buñuel em Los Olvidados/Os Esquecidos, que realizou no México em 1950. Foram com estes dois nomes, enfim, (Radvany e Ban) que o cinema na Hungria iniciou uma sólida confiança nas possibilidades e perspectivas de um futuro para o cinema do país.
ESPAÇO LIVRE
No dia 20 de agosto de 2004 publiquei este poema aqui mesmo, quando o nosso 'O Apanhador de Sonhos' iniciava uma jornada que se estende há mais de dois anos. Exibo novamente o 'Ato Final' para quem não o viu naquele período. E espero que tenham uma boa leitura.
ATO FINAL
Os teus sensuais seios
brotaram em mim tumescências viscerais cobiças violentas flagelações...
E no alvorecer tardio você trouxe a aurora e eu te dei perene uma última gargalhada.
Bené Chaves
domingo, fevereiro 18, 2007 |
A SONORIDADE NO CINEMA
Polonês (9)
No início a Polônia nunca chegou a ter um grande cinema, embora já possuísse uma indústria de filmes antes mesmo da última guerra mundial. Dos atores anteriores à segunda guerra, apenas Póla Negri(1899/1987), cujo verdadeiro nome era Bárbara Apolônia Chalupiec, representava papéis de vampira e isso mesmo no cinema mudo alemão(A múmia, 1917 e Madame du Barry, 1919, ambos de Lubitsch). Ela iniciou, portanto, o seu estrelato em outros países. Participou também de filmes sonoros entre 1935 e 1938. E quando chegou a Hollywood, uns dizem que em 1921 e outros em 1923, atuou novamente com o diretor Ernst Lubitsch em Paraíso proibido, realização de 1924. As más línguas (ou boas?) costumavam dizer que ela era uma 'vamp', acreditando que levava os homens que se aproximavam dela ao perigo e ao pecado.Talvez um doce pecado. Conseguiu, deste modo, atingir o estrelato nos estúdios alemães, americanos e britânicos. Foi a vedete de outras fitas de Lubitsch e uma excelente atriz. Na última guerra os bombardeios nazistas e a invasão dos soldados do ditador Adolf Hitler acabaram de aniquilar o pouco que restava da cinematografia polonesa. Em 1945 foram destruídos os primeiros estúdios da 'Film Polski', em Lodz, equipados com moderna aparelhagem importada da Suécia e França. Mas, no ano de 1948 construíram os estúdios de Varsóvia, destinados à produção de documentários. Com a queda do ditador alemão, as nações estavam livres e reiniciaram os trabalhos em paz. No mesmo ano, perto da cidade polonesa, os técnicos arquitetaram a chamada 'Cidade do filme', centro industrial e artístico, funcionando também em Lodz um instituto para a formação de especialistas em todos os ramos da produção cinematográfica. Eis, aí, em rápidas palavras, o início suado do cinema polonês, sua fase de sonorização e as dificuldades que o mesmo encontrou. Pesquisei em algumas fontes mas não consegui descobrir o primeiro filme falado polonês. Sei apenas que a chamada 'escola polonesa' encontrou suas melhores realizações durante a década de 50 e nos primeiros anos da década seguinte.
ESPAÇO LIVRE
O nosso amigo Horácio Paiva (RN), já por demais conhecido entre os nossos amigos e amigas, nos manda mais um de seus bonitos poemas. Espero que tenham uma boa leitura.
CANTO AO AVÔ AFRICANO
Procuro-te entre os demais e não te encontro talvez porque não aceitaste o convite e o sonho do Brasil te foi imposto.
Vejo a tua sombra e semente - já que o teu corpo foi corrompido pela guerra - que o orgulho impediu que abandonasses - pelo açoite e pela prisão.
Os demais estavam à mesa e todos tinham nome e origem. Tu, porém, sobreviveste sem o pão e o vinho.
Trazem-me dos demais a linhagem lenda ou fantasia de seu tempo secular e vou encontrá-los nas igrejas cartórios ou bibliotecas.
Quanto a ti a memória se perde num vago e nostálgico pressentimento passado que vai enfim morrer na praia na selva ou no deserto.
Contra ti urdiram a morte histórica relegando-te aos livros de registros contábeis às ignóbeis transações de compra e venda.
Mas ergue-te, avô, pois ainda vives e tua reação foi maior que a derrota nas armas.
Dá repouso à tua sombra. Vê que te ofereço à luz do sol um banquete com as lavouras que plantaste e a que não faltarão os alimentos sagrados que o teu gênio criou os teus ricos orixás as raízes de teus cantos, ritmos e danças.
E verás que à mesa estará presente um povo uma nação construída com o teu sangue.
Não me renegues, avô, não é minha pele que te chama mas a noite de tua ausência.
sábado, fevereiro 10, 2007 |
SONORIDADE NO CINEMA
Português (8)
O cineasta João Tavares fez, em 1909, o primeiro filme português realmente de enredo, baseando-se nas proezas do famoso bandoleiro Diogo Alves. E as melhores novelas da literatura regional foram levadas à tela por alguns diretores lusos, pelo francês George Pallu e o italiano Rino Lupo. Pallu dirigiu O Primo Basílio(22), adaptação do romance homônimo de Eça de Queirós. E também no mesmo ano a escritora Virginia de Castro de Almeida fundou a 'Fortuna Filme', de onde saíram fitas como Sereia de Pedra(22) e Olhos d'água(23), ambas de Roger Lion. Finalmente, em 1928, iniciou-se o período sonoro e ingressaram nos quadros do cinema lusitano figuras de fama e relevo no mundo literário e artístico de Portugal. O primeiro filme sonoro português teria sido A Severa, de 1930, dirigido por Leitão de Barros, o melhor realizador do seu tempo, numa época ainda dominada pelo cinema mudo. E esta inovação técnica foi trazida através do contato com técnicos franceses. Destacamos também o Antonio Lopes Ribeiro que realizou em 1932, Gado Bravo, uma espécie de 'cow-boy' cujos exteriores foram rodados no Ribatejo, terra de touros e vaqueiros. E também Chianca de Garcia, que estreou decepcionando em Ver e Amar(30), para depois realizar e obter sucesso com Aldeia de roupa branca(38). Fundaram, então, a 'Tobis Portuguesa' no ano de 1932 e nos seus estúdios fizeram o primeiro filme luso completamente sonorizado em Portugal: A canção de Lisboa, realizado em 1933 pelo diretor José Cottinelli Telmo. O cineasta Leitão de Barros foi o nome mais importante desta fase sonora. E duas das suas significativas produções e realizações lusitanas dos últimos anos foram Inês de Castro(1945) e Camões/Bocage(1937). Eis, aí, os sonoros passos portugueses. Poucos visíveis na época atual. Ou melhor, audíveis.
ESPAÇO LIVRE
O poema abaixo iniciou a trajetória deste blogue em agosto de 2004. Publico-o novamente para aqueles que não tiveram a oportunidade de lê-lo:
ESTRADA DA VIDA
No meu longo e penoso caminhar naquela velha floresta obtusa eu atalho as últimas distâncias recolho frutos gastos e podres chegando ao teu difícil encontro na esperança deles renascerem. E então possuo-a no esplendor de uma nova existência. Bené Chaves
sábado, fevereiro 03, 2007 |
A SONORIDADE NO CINEMA
Espanhol(7)
O cinema espanhol nasceu em 1896, quando Fructuoso Gelabert rodou para os irmãos Lumière as primeiras fitas documentárias do país. Em 1924, Florian Rey, um talentoso jornalista, apaixonou-se pela chamada 'sétima-arte'. Realizou, então, seu primeiro filme, A Revoltosa, em 1924. Era um grande nome do cinema mudo. Depois fez Nobleza Baturra, de 1935, um dos primórdios da fase sonora. Mas é preciso a gente embrenhar-se antes no período silencioso e citar o nome de Luis Buñuel, que escandalizou o mundo com dois filmes: o curta-metragem feito juntamente com Salvador Dali, Um cão Andaluz(com a célebre cena de um olho sendo cortado por uma navalha), realizado em 1928 e A idade do ouro, de 1930, duas imagens de um cinema notadamente surrealista. Em 1936 o mesmo Buñuel roda na Espanha Las Hurdes, um respeitável libelo onde "plantou sua câmera nas ruelas estreitas daquelas aldeias sem chaminés, onde os homens vivem - e sobretudo morrem - como os burocratas teriam querido ver viver e morrer o casal de A idade do ouro. Porque a sua projeção perturba sempre a digestão dos ventres bem alimentados"(Ado Kyrou). Este documentário foi exibido na França com o título de Terra sem pão. Outro cineasta desta fase sonora foi Benito Perojo, que realizou no período A Bodega, em 1930, quando soube juntar-se ao campo republicano e abandoná-lo na hora certa e filmar nos estúdios alemães O Barbeiro de Servilha, em 1939. Portanto, estamos aí diante dos primeiros passos da fase sonora do cinema espanhol, onde despontaram poucos realizadores.
ESPAÇO LIVRE
Este poema faz parte do livro 'Cinzas ao amanhecer'(Sebo Vermelho, 2003) e já foi publicado nesta página em outubro de 2004. Como algumas amigas e amigos recentes não devem conhecê-lo ainda, espero que tenham uma boa leitura. DISSOLUÇÃO
Quero-te nua para dissecá-la crua e molhada para dessecá-la na vertical dessedentá-la. E te quero na horizontal dissertá-la minuciosa dissimulá-la com meu sêmen. Depois dispersá-la e desertá-la ao distanciamento.
Bené Chaves
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