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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
Livros Publicados:
a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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sábado, abril 28, 2007

VERSOS QUE CANTAM E ENCANTAM (4)



De Ernesto Nazareth / Darci Oliveira/Benedito Lacerda:


Inda me lembro
Do meu tempo de criança
Quando entrava numa dança
Toda cheia de esperança.

*

Fico louca, fico quente
Fico como passarinho.
Sinto vontade
De cantar a vida inteira,
E esta vida
Eu levo de qualquer maneira
Ouvindo a flauta
O cavaquinho, o violão...


Obs: Alguns versos da música ‘Apanhei-te cavaquinho’, do E. Nazareth (versão 2, de 1924). Composta inicialmente como 'polca', foi gravada em 1930 já como 'choro' passando a ter um grande valor musical. Depois recebeu várias letras, porém a mais famosa ficou sendo a da dupla Darci Oliveira/B.Lacerda.

De João Barbosa da Silva (Sinhô):

Não se deve amar sem ser amado
É melhor morrer crucificado
Deus nos livre
Das mulheres de hoje em dia,
Desprezam o homem
Só por causa da orgia.

Gosto que me enrosco
De ouvir dizer,
Que a parte mais fraca é a mulher,
Mas o homem, com toda fortaleza
Desce da nobreza
E faz o que ela quer.

Dizem que a mulher é parte fraca
Nisso é que eu não posso acreditar,
Entre beijos,
Abraços e carinhos...
O homem não tendo
É bem capaz de roubar!


Obs: Sinhô foi o compositor mais popular da segunda década do século passado. Nasceu no Rio de Janeiro em 1888 e faleceu em 1930 também na sempre linda cidade maravilhosa – apesar da violência atual. O poeta Manuel Bandeira esteve presente ao seu enterro e disse depois: "uma perfeita cena carioca, um bafafá, um evento surreal, pois apareceram mais de seis viúvas a disputar o morto, políticos e jornalistas se misturavam com rufiões e malandros temerários".

ESPAÇO LIVRE

O poema abaixo já foi publicado aqui em 2004 e faz parte do livro 'Cinzas ao amanhecer'(Sebo Vermelho, 2003). Volto a mostrá-lo para aquelas pessoas que ainda não o leram, assim como também para todas que desejem uma releitura.


IMAGINAÇÃO


Na escura avenida eu vi o passado
passando bem perto do meu lado
vi a chegada da outrora primavera
o namoro e afago na linda donzela
vi os olhares puros e ingênuos
o bonde caminhando na esquina
as conversas de quina a quina .
Vi, sim, o bem sobrepujar o mal
a afluência ao gostoso clube local
meninas correndo no imenso areal
brincando na mais doce inocência
e ainda numa possível coerência.
Vi a pobreza bastante amenizada
a riqueza solidamente contestada
uma igualdade nunca questionada.

Na escura avenida eu vi, mas tudo
no fascinante mundo da alegoria.


Bené Chaves



sábado, abril 21, 2007



Este texto já saiu aqui em postagem antiga. Reproduzo para todos os que não leram ou viram. E também para quem desejar relê-lo. Espero que tenham um boa leitura.


ESTÓRIAS DE CONTAR

Naquela noite de lua cheia, Painhô carregou minha mãe pelo braço e foram os dois pro alpendre. Tia Chica ficara na cozinha preparando outra de suas iguarias. E os dois começaram a repassar dias gloriosos. Ela, a lhe contar que estava muito feliz desde que o conhecera. Dizia então: vim traçar com você o meu destino e não me arrependo. Vê como são as sinas da vida!...Meu pai deitou na rede e, ao invés do violão, começou a contar fatos do passado. Somente os dois ali, ao som de um silêncio abismal. E falou da estória famosa do pote, que ficou conhecida naquela região e circunvizinhanças:
Numa reunião quase semanal que era feita na casa de um amigo, todos se entretinham no jogo de cartas ou então em conversas de jogar fora. E algumas cervejinhas ao lado, que ninguém é de ferro. Portanto, a noite distendia-se salutar quando um dos presentes pediu um copo d'água.
Mas, como a dona da casa estava ocupada em fazer petiscos, solicitou que tal pessoa não se envergonhasse e fosse beber tão precioso líquido.A casa era meio esquisita e pra se ir até à cozinha, tinha-se de passar pelo corredor que levava aos dormitórios. E lá se foi o destemido cidadão em busca do seu desejo.Contudo, passaram-se alguns minutos e nada do indivíduo voltar. Daí, depois de breve intervalo, retorna ele mais alegre do que pinto em beira de cerca. E como se tivesse saciado toda sua sede. (Registre-se aqui de que pinto em beira de cerca fica alegre porque toma banho nas lagoas das imediações, evidenciando com isso seu refrescamento e sentimento de alegria). O ditoso sujeito, portanto, confidencia aos companheiros o que ocorrera...
E logo a seguir os demais seguem em fila, um a um, o itinerário estranho e curioso. Porém, volta e meia, a sede ataca novamente àqueles já saciados. Desconfiada, pois o marido estava grogue, a anfitriã vai olhar o sucedido. E depara-se no corredor com a porta do quarto semi-aberta. Ali, ela descobre o motivo de tanta sede. Sua filha dorme numa posição sensual e convidativa aos olhos dos sequiosos. E bote atração nisso!Vexada e confundida, a esposa grita em alto e bom som ao marido já alcoolizado: chega Gusmão, vem ajeitar tua filha senão eles secam o pote! Apesar do mesmo, lógico, ainda conter água escorrendo pelo gargalo.
Tia Chica grita que a janta está esfriando. Os dois ficaram tão absortos que não sentiram o cheiro vindo lá de dentro e tampouco o chamado da preta velha.
ESPAÇO LIVRE

POSSE

Dentro de um mar cristalino
eu me embrulho nos teus cabelos
quero-te somente para mim e
tenho ciúme das águas selvagens.

E no redemoinho de ondas sequiosas
a cobrir nossos inocentes sexos
eu possuo-te na ondulação e sacolegos
de uma cobiça febricitante.
Bené Chaves



sábado, abril 14, 2007

VERSOS QUE CANTAM E ENCANTAM (3)


De Freire Junior (1881/1956):

A lua vem surgindo cor de prata
No alto da montanha verdejante
A lira do cantor em serenata
Reclama da janela a sua amante.

Ao som da melodia apaixonada
Das cordas do sonoro violão
Confessa o seresteiro à sua amada
O que dentro lhe dita o coração.

Ó linda imagem de mulher que me seduz
Ah se eu pudesse tu estarias num altar
És a rainha dos meus sonhos, és a luz
És malandrinha não precisas trabalhar.


Obs: Alguns versos da música 'Malandrinha', de 1927. O seu autor nasceu em S. Maria Madalena, RJ e faleceu no Rio de Janeiro. Aos 14 anos começou a compor (tocando de ouvido) para um grupo de teatro amador. E a primeira composição foi para a peça 'O primo da Califórnia', de França Junior. Vale salientar que estudou piano estimulado pela Chiquinha Gonzaga.


De Canhoto (Américo Jacomino) e João do Sul:

Ao amor em vão fugir
Eu procurei,
Pois tu
Breve me fizeste ouvir
Tua voz, mentira deliciosa...
E hoje é meu ideal
Um abismo de rosas,
Onde a sonhar
Eu devo, enfim, sofrer e amar.
O amor se é puro
Suporta obscuro,
Quase a sorrir,
A dor de ver,
A mais linda ilusão morrer.

*

Meu coração que jurou
Sempre ser amigo e dedicado,
Tenha, embora, que viver,
Neste sonho enganado,
Jamais direi
Que assim vivi porque te amei.

Obs: Alguns versos da música ‘Abismos de Rosas’, considerada a obra-prima para violão no Brasil. As decepções amorosas sempre existiram e vão ainda existir por muitos anos. Tais versos foram feitos aos 16 anos num desabafo por causa de uma decepção amorosa.
Existe uma controvérsia nesse assunto, pois dizem que o Canhoto teria feito a letra, mas conta como sendo de um tal João do Sul. E não consegui, portanto, a biografia do mesmo.
Canhoto nasceu em São Paulo em 1889 e faleceu em 1928 também na capital paulista.

ESPAÇO LIVRE

Teu caminho é o mar
deixando tuas longas ondas
a ferir vossas vãs consciências.

E mergulhá-las ao encontro de
novas existências e sabedorias.


Bené Chaves



sábado, abril 07, 2007

VERSOS QUE CANTAM E ENCANTAM (2)



De Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco:


Oh que saudade
Do luar de minha terra
Lá na serra branquejando
Folhas secas pelo chão.

Este luar cá da cidade
Tão escuro
Não tem aquela saudade
Do luar lá do sertão.

Se a lua nasce
Por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata
Prateando a solidão.


Obs. Alguns versos da música ‘Luar do Sertão’, uma toada de 1914. A letra é muito extensa e quase nunca foi gravada integralmente.


De Pedro de Alcântara e Catulo da Paixão Cearense:

Ontem ao luar,
Nós dois em plena solidão
Tu me perguntaste o que era a dor
De uma paixão.
Nada respondi!

*

A dor da paixão não tem explicação!
Como definir, o que só sei sentir?

*

Ouve a onda sobre a areia a lacrimar!
Ouve o silêncio a falar na solidão.

Obs. Alguns versos de ‘Ontem, ao Luar’ (1918), música composta originalmente em 1907 como polca e com o nome de ‘Choro e Poesia’, por Pedro de Alcântara. Depois é que recebeu a letra do Catulo da Paixão Cearense e o título atual.

ESPAÇO LIVRE


LEMBRANÇAS


Ontem te vi menina
tateando na úmida areia

apanhando ostras e estrelas,
sargaços rodilhando teus pés
em um mar de ondas cegas.

Tu encantavas aquele lugar!

Não a reconheci, então, na
jovialidade de um passado.

Hoje te vejo mulher
apalpando um rosto de rugas
no reflexo de um roído espelho.

E não colhendo mais nada, sei
apenas da disponibilidade de
um tempo perdido.

Bené Chaves