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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
Livros Publicados:
a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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terça-feira, maio 27, 2008


VERSOS QUE CANTAM E ENCANTAM (30)



De Luis Gonzaga e Humberto Teixeira:

Eu vou mostrar pra vocês
Como se dança o baião
E quem quiser aprender
É favor prestar atenção
Morena chega pra cá
Bem junto ao meu coração
Agora é só me seguir
Pois eu vou dançar o baião
Eu já dancei balancê
Xamego, samba e xerém
Mas o baião tem um quê
Que as outras danças não têm
Oi quem quiser é só dizer
Pois eu com satisfação
Vou dançar cantando o baião
Eu já cantei no Pará
Toquei sanfona em Belém
Cantei lá no Ceará
E sei o que me convém
Por isso eu quero afirmar
Com toda convicção
Que sou doido pelo baião.

******

Quando oiei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede, meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Entonce eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortá pro meu sertão
Quando o verde dos teus óio
Se espaiá na prantação
Eu te asseguro, num chore não, viu?
Que eu vortarei, viu, meu coração

Obs: Versos das músicas 'Baião'(1946) e 'Asa Branca'(1947), dos autores acima.
Luiz Gonzaga do Nascimento era filho do sanfoneiro Januário e nasceu em Exu(PE) no dia 13 de dezembro de 1912. Aprendeu a tocar a chamada (na época) sanfona com o pai, quando este ia para os bailes para mostrar o som de seu instrumento. Trabalhou na roça desde pequeno, mas em 1930 fugiu de casa e foi para Fortaleza onde ingressou no Exército. Em 1939, já na cidade de São Paulo, comprou uma sanfona nova e resolveu ir para o Rio de Janeiro. E começou a tocar fados, foxes, valsas e tangos em dupla com o guitarrista português Xavier Pinheiro. No programa de calouros do Ary Barroso obteve sucesso com o chamego 'Vira e Mexe'.
Com o passar do tempo formou parceria com Humberto Teixeira e voltava-se para os costumes e a cultura nordestina. Surgiram, a partir daí, grandes canções e sucessos: 'No meu pé de serra'(46), 'Juazeiro'(48) e, principalmente, 'Asa Branca'(47), a obra-prima da parceria. Instrumentista, Luiz Gonzaga morreu no Recife em 2 de agosto de 1989.

Humberto Cavalcanti Teixeira nasceu em Iguatu(CE) no dia 5 de janeiro de 1916. Desde criança interessou-se pela música e fez 'Valsa Triste', sua primeira composição. Já em 1945 conheceu o Luiz Gonzaga que procurava um letrista com simpatia pelos ritmos nordestinos. E, então, a parceria se realizou, escolhendo ambos a dança e canto popular baião como o ideal para a divulgação da essência e cadência nordestinas. Também instrumentista, Teixeira faleceu no Rio de Janeiro em 3 de outubro de 1979.


ESPAÇO LIVRE

AVIDEZ

Na inquietude de teu corpo
visto-o de ilusões e bebo-o
com lascívia ambição.

Nas veleidades de um amor
de prazer e sofrimento.

Eu, querendo-a sugá-la.
Tu, sufocando-me de comoção.

Na vontade extrema de uma
voraz e suposta paixão.

A de tê-la dentro de mim.


Bené Chaves



terça-feira, maio 20, 2008





CINEMA

Remexendo em papéis velhos de uma velha gaveta, encontrei o que procurava já há alguns dias. O texto abaixo foi publicado no jornal 'Tribuna do Norte' no dia 11 de março de 1984. E com algumas necessárias modificações resolvi trazê-lo para este espaço. Espero que tenham uma boa leitura e também uma boa informação.


QUANDO O BRASIL COMEÇOU A FALAR


As primeiras experiências sonoras no país foram realizadas entre 1927/29 através de filmes (curtos) produzidos por Luis de Barros, Paulo Benedetti e outros. E nossa primeira fita de longa-metragem(falada, evidentemente) foi 'Acabaram-se os otários'(29), dirigida pelo Luis de Barros, enquanto o primeiro filme-revista viria logo depois com 'Coisas Nossas'(30/31), do norte-americano Wallace Downey, que era o diretor da Colúmbia e representante local de Byington & Company.
O som, finalmente, seria dominado com 'Carnaval em 1933' que a equipe de Fausto Muniz realizara. A seguir lançaram 'A voz do carnaval', uma realização da dupla Ademar Gonzaga e Humberto Mauro com equipamentos já importados. E em 1935, associando-se ao Downey, Gonzaga inaugurava o filme pré-carnavalesco 'Alô, alô Brasil ' e no ano seguinte repetiria a dose com 'Alô, alô Carnaval' que teve maior sucesso e formaram as primeiras platéias do cinema brasileiro.
No mesmo ano o Oduvaldo Viana fazia 'Bonequinha de seda', pretendendo, com padrões técnicos sofisticados, transplantar o modelo hollywoodiano para nossa região. Seu outro filme('Alegria') ficaria inacabado em face de um desentendimento com o Ademar Gonzaga.
Mas, foi em 1937 que três películas anunciaram a maturidade do som: o cineasta Humberto Mauro realiza obra de reconstituição histórica em 'O descobrimento do Brasil'; o Raul Roulien('Aves sem ninho'/39) faz 'Grito da mocidade' e tenta mostrar que aprendeu o dinamismo americano; e Mesquitinha realiza obra de inspiração chapliniana com 'João ninguém'. Contudo, a produção de filmes de ficção que já era diminuta na década de 30, quase acabou no início da seguinte.
Entre os anos de 1944/54 surgiram Oscarito e Grande Otelo que encarnaram a gíria do momento e estabeleceram um primeiro clima de intimidade com o público. Filmes como 'Carnaval no fogo'(Watson Macedo), 'De vento em popa' e 'O homem do Sputnik', ambos de Carlos Manga, 'É com este que eu vou'(José Carlos Burle), mostraram os (tre)jeitos desengonçados dos dois grandes humoristas da época.
No entremeio, contudo, apareceram também as figuras de Ankito e Zé Trindade. Foram todos eles, sem dúvida, os primeiros nomes de bilheteria das ditas 'chanchadas nacionais'. Porém, acredito que sim, nenhum que se comparasse ao iniciante ator de origem luso-espanhola.
Também e paralelamente(na década de 50)começaram a surgir novas mentalidades. Um grupo de jovens rebelou-se contra o falso populismo das chanchadas e produções advindas da Vera Cruz. E mesmo o sucesso de 'O cangaceiro'(1953) não impediu que a Vera Cruz entrasse em crise, muito embora a fita de Lima Barreto('A primeira missa', 61) tivesse obtido projeção internacional e aberto o caminho do cangaço. Fitas como 'Agulha no palheiro'(Alex Viany, 53),'O canto do mar'(Alberto Cavalcanti, 54), 'Rio 40 graus'(Nelson P. dos Santos, 55), 'O grande momento'(Roberto Santos, 58) e outras, começaram a aflorar na nossa cinematografia.
Em documentários (curtos) como 'Arraial do Cabo'(Paulo César Sarraceni, 59) e 'Aruanda'((Linduarte Noronha, 60); em ficção como 'Couro de Gato'(J. Pedro de Andrade, 60) e 'O menino da calça branca'(Sérgio Ricardo, 61), o movimento tenderia a tomar forma mais precisa. E por volta do começo dos anos 60 já se falava no que seria chamado de Cinema-Novo.
Filmes muitos surgiram e contribuíram para a renovação do nosso cinema brasileiro, como 'Barravento'(Glauber Rocha, 61), 'Porto das Caixas'( Sarraceni, 62), 'Os Cafajestes'(Rui Guerra, 62), 'O pagador de promessas'(Anselmo Duarte, 62) e outros. Daí em diante, portanto, o lema seria de 'uma câmera na mão e uma idéia na cabeça', sentença proferida pelo Glauber Rocha e contestada por alguns que se diziam independentes.
Mas, 'o que a gente pode ver hoje é que o resultado principal do Cinema-Novo foi a afirmação cultural do cinema brasileiro', dizia depois o Nelson Pereira dos Santos. E a sua maturidade foi atingida, principalmente, a partir de 'Vidas Secas'(1963), versão baseada no vigoroso romance de Gaciliano Ramos e que o próprio Nelson dirigiu.
Então, a literatura de cordel, os cantadores das feiras nordestinas, o mundo mítico e místico de um povo sofredor e fanático nas suas crenças religiosas e sempre atuantes, fizeram surgir um mentor que já iniciara a visão de um período. E reaparece o Glauber Rocha com 'Deus e o Diabo na Terra do Sol'(1964), para alguns, o melhor filme brasileiro de todos os tempos. Acreditamos que tal fita imortalizou o saudoso cineasta.
Tivemos, a partir deste momento, alguns nomes importantes na cinematografia nacional. Bom... Porém aí já é outra história...

ESPAÇO LIVRE

RIMA ENTRE RIMA

Eu sei lá dessa vida!

De miudeza, safadeza.

Vida de hipocrisia, tristeza.

E pouca alegria.

Também muita soberba.

De mentira deslavada.

Uma corrupção desenfreada.

Vida aqui e ali.

Tudo igual, usual.

Desde oligarquia e orgia.

Minha?... Tua?...

Vida da minoria!

Bené Chaves



terça-feira, maio 13, 2008

(Imagem: retirada do 'Google')


ITINERÁRIO ALFABÉTICO (Final)



ZONZEIRA essa minha. Tinha o hábito de zanzar. Mas, voltei a interrogar entre paredes: a vida é uma loucura? Acho que Painhô acreditava que sim, embora Mainhô não ligasse pra essas coisas. Preferia ficar na sua cadeira de balanço a cerzir alguma roupa tirada do baú. E Tia Chica, o que falava? A preta velha envergonhada dizia que todas as pessoas são loucas, umas com mais intensidades e outras com menos. Mas, ela era assim mesmo, sempre exagerava quando ia dizer algo. Porque, de certa forma, toda regra teria sua exceção. Porém, logo se dirigia ao seu local de trabalho. Ou seja: a cozinha. Ali iria se entreter com suas iguarias inigualáveis. Os outros filhos, ainda pequenos, não alcançavam assunto tão pertinente.


Sabia, eu, entretanto, que a grande maioria sofria de distúrbios ocasionados, acho, pela hereditariedade. Os fatores externos seriam meras conseqüências. Acreditava que o gene caracterizava a índole do ser humano. (E pra não variar, ter-ser-iam-se aqui também exceções). Se você é uma vasilha de água hoje e amanhã é um tonel de vinho, lógico que tal mudança brusca de cor (ou comportamento) não era normal. Principalmente quando este vinho surgia com um sabor amargo ou azedo. Então, o caso passaria a ser tratado como um estímulo ancestral? Ou apenas uma manifestação agravada por um descontrole extrínseco? Tínhamos aí o endógeno em constante disputa com o exógeno.


Na verdade, indagações como essas deveriam ser alvo de profundos estudos. Mas, o meu pai acreditava (e ele tinha uma crença inabalável) que tudo tem sua raiz. E, como parte oculta, ela poderia abranger conseqüências inimagináveis. A vida tem lá seus monstrinhos, era evidente que sim. O seu ciclo é engraçado: desde tempos idos existem mutações, variações, atos e fatos. O ciclo-vicioso dos mundos e fundos.


Disse, então, Painhô: acompanhei seu nascimento, meu filho. Vi tudo direitinho, como nasceu e foi brotado, igualzinho uma flor. As plantas também têm suas séries de fenômenos, as raízes expelindo ramos, folhas e frutos. O que a natureza expulsa é algo surpreendente, existência rara. Como explicar a metamorfose da larva dos insetos lepidópteros em simples borboletas? Naturalmente porque seria o acasalamento de um labrego?


E continuou ele: o certo é que não existe muita diferença entre este dito rude e o irracional, pois a vida precípua dos homens, com seus modos, tornaram-nos atualmente mecanizados, frios, contrários à razão. E se houve alguma evolução dos males iniciais, esta se deu apenas no clarão tecnológico e conhecimento da ciência, adaptados que foram ao modus vivendi da época.


Abri a janela e fui tomar um pouco de ar, talvez um ar impuro. Divisei, do parapeito, pessoas tristes jogando-se num chão intervalado onde um longo rio de sangue afogava transeuntes que circulavam pelo local. Mas aí já é outra estória, pois adormeci e comecei a sonhar...


ESPAÇO LIVRE
(Imagem: 'Google')

POEMA DO EDUARDO GOSSON(RN)

CONCERTO, CONSERTO?



Na vitrola
Johann Sebastian Bach
executa
os Concertos de Brandeburgo nº. 3, 5 e 6

Porque é sábado,
e a tarde
veste-se de profunda melancolia,
os pássaros não ensaiam
vôos,
nem a misericórdia
cai sobre o avô
de terno cinza.

Ele tem que esperar
pelo domingo e,
quem sabe, pelo anum cego
que desistiu de auroras
e anuncia um sábado vazio.



terça-feira, maio 06, 2008

VERSOS QUE CANTAM E ENCANTAM (29)



Foto de Pascal Renoux


De Herivelto Martins e Roberto Roberti:
Ai, ai, ai, Izaura
Hoje eu não posso ficar
Se eu cair nos seus braços
Não há despertador
Que me faça acordar
Eu vou trabalhar
O trabalho é um dever
Todos devem respeitar
Oh! Izaura me desculpe
No domingo eu vou voltar
Seu carinho é muito bom
Ninguém pode contestar
Se você quiser eu fico
Mas vai me prejudicar
Eu vou trabalhar

Obs: Versos da música 'Izaura'(1945), dos compositores acima citados.
Roberto Roberti, compositor, estreou em 1935 com o samba 'Queixas de Colombina', gravado por Carmen Miranda e a marcha 'Foi numa noite assim'. E no ano de 1938 lançou para o carnaval 'Abre a janela', que o Orlando Silva gravou.
Em outubro do mesmo ano deu o primeiro passo - juntamente com outros autores - para a formação da Associação Brasileira de Compositores e Autores. E concretizaram sua fundação em 1942.
Sua produção tornou-se menos regular a partir de 1945, depois do sucesso da composição aqui destacada. Mas, entre uma ocasionalidade e outra, incluem-se 'Pra que saber', gravado pela Ângela Maria e o samba 'Sistema Nervoso', com Orlando Correia.
'Izaura' foi gravado na época pelo Francisco Alves e recebeu o prêmio da prefeitura. Destacou-se como um dos maiores sucessos do carnaval daquele ano.
Roberto Roberti nasceu no Rio de Janeiro no dia 9 de agosto de 1915 e morreu com 89 anos em 16 de agosto de 2004.

Sobre o Herivelto Martins, vide pequena biografia nos arquivos publicada aqui em 8 de novembro passado.

Destaco alguns versos de 'Abre a Janela'(1938), que o Roberti fez em parceria com o Arlindo Marques Jr.(1913/68):

Abre a janela/ Formosa mulher
E vem dizer adeus a quem te adora
Apesar de te amar/ Como sempre amei
Na hora da orgia em vou embora.


ESPAÇO LIVRE


TÉDIO
Inebriando-me sempre de ti
permaneço sóbrio de ilusões.
De tuas cálidas, alcoolizadas
e ambíguas paixões.

E num gesto de temor
bebo o que me restou:
um corpo em transpiração.

A febre diluída do amor!


Bené Chaves