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QUANDO O BRASIL COMEÇOU A FALAR
As primeiras experiências sonoras no país foram realizadas entre 1927/29 através de filmes (curtos) produzidos por Luis de Barros, Paulo Benedetti e outros. E nossa primeira fita de longa-metragem(falada, evidentemente) foi 'Acabaram-se os otários'(29), dirigida pelo Luis de Barros, enquanto o primeiro filme-revista viria logo depois com 'Coisas Nossas'(30/31), do norte-americano Wallace Downey, que era o diretor da Colúmbia e representante local de Byington & Company.
O som, finalmente, seria dominado com 'Carnaval em 1933' que a equipe de Fausto Muniz realizara. A seguir lançaram 'A voz do carnaval', uma realização da dupla Ademar Gonzaga e Humberto Mauro com equipamentos já importados. E em 1935, associando-se ao Downey, Gonzaga inaugurava o filme pré-carnavalesco 'Alô, alô Brasil ' e no ano seguinte repetiria a dose com 'Alô, alô Carnaval' que teve maior sucesso e formaram as primeiras platéias do cinema brasileiro.
No mesmo ano o Oduvaldo Viana fazia 'Bonequinha de seda', pretendendo, com padrões técnicos sofisticados, transplantar o modelo hollywoodiano para nossa região. Seu outro filme('Alegria') ficaria inacabado em face de um desentendimento com o Ademar Gonzaga.
Mas, foi em 1937 que três películas anunciaram a maturidade do som: o cineasta Humberto Mauro realiza obra de reconstituição histórica em 'O descobrimento do Brasil'; o Raul Roulien('Aves sem ninho'/39) faz 'Grito da mocidade' e tenta mostrar que aprendeu o dinamismo americano; e Mesquitinha realiza obra de inspiração chapliniana com 'João ninguém'. Contudo, a produção de filmes de ficção que já era diminuta na década de 30, quase acabou no início da seguinte.
Entre os anos de 1944/54 surgiram Oscarito e Grande Otelo que encarnaram a gíria do momento e estabeleceram um primeiro clima de intimidade com o público. Filmes como 'Carnaval no fogo'(Watson Macedo), 'De vento em popa' e 'O homem do Sputnik', ambos de Carlos Manga, 'É com este que eu vou'(José Carlos Burle), mostraram os (tre)jeitos desengonçados dos dois grandes humoristas da época.
No entremeio, contudo, apareceram também as figuras de Ankito e Zé Trindade. Foram todos eles, sem dúvida, os primeiros nomes de bilheteria das ditas 'chanchadas nacionais'. Porém, acredito que sim, nenhum que se comparasse ao iniciante ator de origem luso-espanhola.
Também e paralelamente(na década de 50)começaram a surgir novas mentalidades. Um grupo de jovens rebelou-se contra o falso populismo das chanchadas e produções advindas da Vera Cruz. E mesmo o sucesso de 'O cangaceiro'(1953) não impediu que a Vera Cruz entrasse em crise, muito embora a fita de Lima Barreto('A primeira missa', 61) tivesse obtido projeção internacional e aberto o caminho do cangaço. Fitas como 'Agulha no palheiro'(Alex Viany, 53),'O canto do mar'(Alberto Cavalcanti, 54), 'Rio 40 graus'(Nelson P. dos Santos, 55), 'O grande momento'(Roberto Santos, 58) e outras, começaram a aflorar na nossa cinematografia.
Em documentários (curtos) como 'Arraial do Cabo'(Paulo César Sarraceni, 59) e 'Aruanda'((Linduarte Noronha, 60); em ficção como 'Couro de Gato'(J. Pedro de Andrade, 60) e 'O menino da calça branca'(Sérgio Ricardo, 61), o movimento tenderia a tomar forma mais precisa. E por volta do começo dos anos 60 já se falava no que seria chamado de Cinema-Novo.
Filmes muitos surgiram e contribuíram para a renovação do nosso cinema brasileiro, como 'Barravento'(Glauber Rocha, 61), 'Porto das Caixas'( Sarraceni, 62), 'Os Cafajestes'(Rui Guerra, 62), 'O pagador de promessas'(Anselmo Duarte, 62) e outros. Daí em diante, portanto, o lema seria de 'uma câmera na mão e uma idéia na cabeça', sentença proferida pelo Glauber Rocha e contestada por alguns que se diziam independentes.
Mas, 'o que a gente pode ver hoje é que o resultado principal do Cinema-Novo foi a afirmação cultural do cinema brasileiro', dizia depois o Nelson Pereira dos Santos. E a sua maturidade foi atingida, principalmente, a partir de 'Vidas Secas'(1963), versão baseada no vigoroso romance de Gaciliano Ramos e que o próprio Nelson dirigiu.
Então, a literatura de cordel, os cantadores das feiras nordestinas, o mundo mítico e místico de um povo sofredor e fanático nas suas crenças religiosas e sempre atuantes, fizeram surgir um mentor que já iniciara a visão de um período. E reaparece o Glauber Rocha com 'Deus e o Diabo na Terra do Sol'(1964), para alguns, o melhor filme brasileiro de todos os tempos. Acreditamos que tal fita imortalizou o saudoso cineasta.
Tivemos, a partir deste momento, alguns nomes importantes na cinematografia nacional. Bom... Porém aí já é outra história...
ESPAÇO LIVRE

Eu sei lá dessa vida!
De miudeza, safadeza.
Vida de hipocrisia, tristeza.
E pouca alegria.
Também muita soberba.
De mentira deslavada.
Uma corrupção desenfreada.
Vida aqui e ali.
Tudo igual, usual.
Desde oligarquia e orgia.
Minha?... Tua?...
Vida da minoria!
Bené Chaves
por
benechaves às
21:00