A SONORIDADE NO CINEMA
Soviético (6)
O cinema soviético foi um dos últimos a aderir ao período sonoro. O primeiro filme falado Caminho da vida, dirigido por Nicolai Ekk, data de 1930. Depois tivemos O Desertor (1933), do também ator Vsevolod I. Pudovkin e Groza (L'Orage, 1934) de Vladimir Petrov. Apesar do advento do som, alguns cineastas ainda fariam filmes mudos e Mikhail Romm realizou Boule de Suif/ Bola de Sebo, em 1934, numa adaptação de um conto de Maupassant. No mesmo ano Sergei Vassiliev fez Tchapaev. E o Dziga Vertov, um dos grandes pioneiros do cinema-documentário e que revolucionou a montagem, realizou também Três Corações para Lênin, em 1934. Alexandre Dovjenko, diretor de origem ucraniana( A Terra, exibido aqui entre nós na época do Cine-Clube Tirol, "quis mostrar o estado de uma aldeia ucraniana em 1929 no momento em que aí se produziam transformações econômicas e, sobretudo, de mentalidade", segundo as palavras do próprio cineasta), fez em 1935 Aerogrado, em que críticos amadurecidos consideram o melhor filme sonoro do cinema soviético. Surgem depois Pedro, o Grande(Petrov, 37/39), Alexandre Nevski/ Ivã, o Terrível(Eisenstein, 38/44), O General Suvurov/Guerrilheiros e Heróis(Pudovkin, 41) e A Batalha pela Ucrânia (Dovjenko, 45). São epopéias cinematográficas em que se revivem e atualizam os heróis da libertação popular. O som para Pudovkin devia ser usado "para calibrar e aumentar a capacidade expressiva do cinema". Mas, foi com O encouraçado Potemkin (Eisenstein, 25), na fase muda, que o cinema soviético conseguiu projeção e renome no mundo inteiro. É um filme que ficará gravado na memória do povo como um libelo contra as opressões fascistóides. (Vide versos abaixo sobre a bela seqüência nas escadarias de Odessa). O clima hostil imposto à cinematografia soviética na última guerra mundial resultou na danificação de laboratórios e estúdios, enquanto técnicos e artistas morriam nas mãos dos inimigos. Porém a recuperação se mostrou rápida e febril. Em 1949, no festival de Marianske-Lazni, algumas produções soviéticas arrebataram significativos prêmios. Entre elas o laurel de melhor filme em favor da paz coube a Encontro no Elba(49), de Gregory Alexandrov. E com A batalha de Stalingrado(48/49, duas partes), Petrov conquistou o principal prêmio.
ESPAÇO LIVRE
ODESSA
A mudez do povo nas escadarias
fuzilado de degrau em degrau a criança rolando feito molambo trouxe uma enorme consciência .
E o massacre dos sisudos soldados levou ao desespero findo e total no rosto daquela mãe aflitiva o desenlace da matança geral.
O carrinho então despencou... a multidão se desarticulou e no solavanco o menino chorou as mortes de uma perdida esperança .
Bené Chaves
A SONORIDADE NO CINEMA
Inglês (5)
Anthony Asquith (1902/68) fez soar, em 1929, A cabana de Dartmoor juntamente com o diretor alemão André-Ewald Dupont (1891/1956), depois de este ter ido trabalhar na Inglaterra e realizar Atlântico também no mesmo ano. Foram, então, as primeiras vozes do cinema inglês. Na década 29/30 houve grande atividade nos estúdios britânicos e os cineastas de renome foram o próprio Asquith, Basil Dearden, William Howard, Alfred Hitchcock e o húngaro Alexander Korda. O húngaro era meio cosmopolita e realizou em Hollywood A vida privada de Helena de Tróia (1927). Como parecia gostar das 'vidas privadas', fez mais duas, sendo uma de Don Juan (1934) e a outra, feita na Inglaterra, de Henrique VIII (1933), com o grande ator Charles Laughton em começo de carreira. Neste período duas obras se destacaram no gênero dramático: Pigmalião(1938) de Asquith e Os 39 degraus (1935) do mestre Hitchcock. Iniciou-se também o cinema-documentário e John Grierson, fundador da escola documentarista inglesa, foi o principal articulador, pois via o gênero como "um tratamento poético da realidade". Trouxeram conhecimentos e experiências, enriquecendo a escola, o americano Flaherty, o brasileiro Alberto Cavalcanti e os soviéticos Eisenstein e Aleksandr Dovjenco. Destacamos ainda os pioneiros Arthur Elton, Basil Wright, Paul Rotha, Harry Walt, entre outros. Citamos alguns títulos realizados por esta equipe britânica: Correio da noite, Mar do norte, Rostos de carvão, A voz de Londres e Desemprego. Fitas que pertencem hoje à filmografia mundial datam da guerra e pós-guerra. Entre elas, O caminho das estrelas (Asquith, 45), Desencanto/Grandes Esperanças(David Lean, 45/46), O condenado(Carol Reed, 47), Narciso negro/Os sapatinhos vermelhos(da dupla Powell/Pressburger, 47/48), Na solidão da noite (em cinco episódios e dirigidos por Charles Crichton, Alberto Cavalcanti, Robert Hamer e Basil Dearden, 45), Henrique V/Hamlet (Laurence Olivier, 44/48), dentre outras. Enquanto isso manobravam - no campo econômico - atrás dos bastidores da produção e distribuição cinematográfica, o húngaro Alexander Korda e o industrial e principal exibidor britânico J. Arthur Rank. Eis aí, portanto, em rápidas pinceladas, o começo da era sonora do cinema inglês. E com a participação de cineastas de outros países.
ESPAÇO LIVRE
ANGUSTONIONI
No diálogo final o final sem diálogo a ambigüidade... E o impasse, uma dedução verbal revelando o não ser.
Na grave solidão,um dilema lacerado, o lema dilacerado... Outro tema unido.
O sufoco no foco fixado da fenda estreita, não vazia.
E no entremeio, largas e belas imagens, as aquarelas de uma existência.
Bené Chaves
A SONORIDADE NO CINEMA
Alemão (4)
Embora o cinema italiano deva muitos favores a Walter Ruttman, foi ele um dos que primeiro falaram também no período alemão. Em 1929, a 'Tobis' alemã exibiu ao público Melodia do Mundo, juntamente com outras fitas sonoras de Frank Clifford e Brauer. Os três iniciaram a chamada fase do som. Joseph von Sternberg estreou em Hollywood ainda no período silencioso, onde triunfou, enquanto G.W. Pabst, vindo também da fase muda, fez na época Rua das Lágrimas (25), O amor de Jeanne Ney(27) e a obra-prima A caixa de Pandora(28). E no período sonoro realizou Guerra, flagelo de Deus (30, versão alemã de Nada de novo no Front), A ópera dos pobres (31) e Camaradagem (31). Como viajava para diversos países, fez na França o seu Dom Quixote (33) e na Áustria realizou O Processo (47). Fritz Lang, outro nome importante do cinema na Alemanha, rodou Asssassino (28), seu primeiro filme sonoro. Fez o Testamento do Dr. Mabuse (32), na época, proibida pela censura por ser uma obra anti-nazista. Deixando a Alemanha, Lang realizou na França Lilliom/Coração de Apache (33) e depois seguiu para Hollywood onde sua obra sofre um declínio assustador. Salvam-se apenas os filmes Fúria (36) e Vive-se uma só vez (37). Porém, o grande nome na filmografia deste cineasta não deixa de ser M, o vampiro de Dusseldorf, obra-prima que realizou em 1931. Um dos mais famosos filmes sobre temas juvenis(Meninas de uniforme, 31) foi realizado pela diretora Leontine Sagan com a participação de Carl Froelich e abordava o lesbianismo em um pensionato. Era um tema muito forte para a época. Já Goebbels lançou mão do cinema para fins políticos e guerreiros, utilizando o Hans Steinhoff como autor de Jovem Hitlerista Quex, realizado em 1933. As obras contrárias eram postas à revelia. E a Leni Riefenstahl, jovem atriz e bailarina, estreou no cinema em O inferno branco de Piz Palu (Pabst) e no ano de 1936 surgiu como diretora de documentários, onde destacaram-se O triunfo da vontade(36) e Olympia (38). Max Ophuls, grande nome do passado, autor do belo Lola Montés (55), realiza na época Liebelei/Uma história de amor (32) que valeu sua celebridade. E o Willi Forst, ator e diretor austríaco, fez Correm suaves os meus cantos, tomando como base condutora a sinfonia inacabada de Schubert, fita datada de 1933. Depois realizou Mascarada (34), Mazurca (35) e o sucesso de Opereta (40), tendo como base a música de Strauss. Slatan Dudow, mais um da safra, realizou na fase sonora um verdadeiro libelo contra a fome, a miséria e o desemprego, a chamada tríade de uma esfera social que acaba com as massas populacionais. Seu filme Kuhle Wampe ou A quem pertence o mundo?, foi roteirizado pelo Bertolt Brecht e realizado em 1932. Causou grande impacto aos espectadores de então. Eis aí, em rápidos traços, o começo da era sonora alemã.
ESPAÇO LIVRE
A ÚLTIMA AURORA
O amor e o ódio des / aliviam uniões tensões tesões pressões ilusões gratidões paixões.
O riso / lágrima como fuga revivida.
Bené Chaves
domingo, janeiro 07, 2007 |
A SONORIDADE NO CINEMA
Italiano (3)
O primeiro filme sonoro italiano foi Canção de amor/ La canzone del amore, dirigido pelo Gennaro Righelli e realizado em 1930. O roteiro foi extraído de uma novela de Pirandello, escrito pelo Giorgio Simonelli. Daí em diante todos os diretores da era muda puseram-se a falar. Mário Camerini, o mestre da 'ironia amável' fez La Riva dei Burti (1930) e L' Ultima aventura (1931), enquanto Alessandro Blasetti foi outro que também marcou e muito contribuiu no início da chamada era sonora. A colaboração e a participação do mesmo foram das mais proveitosas para o cinema italiano. Fez algumas fitas importantes para o começo de sua carreira, a destacar: Terra Mãe (1931), Velha guarda (1934) e Ressurrectio (1930). É bom lembrar que Blasetti trabalhou também como ator em Belíssima (1951), do Luchino Visconti. E interessante assinalar que o cineasta alemão Walter Ruttman foi peça importante a partir da fase sonora italiana. A lista de diretores italianos vindos em grande parte da experiência sonora é simplesmente imensa. Muitos já morreram, alguns permanecem com menos ímpetos, outros surgem e se sobressaem. Daremos aqui alguns nomes que apareceram neste segundo pós-guerra: Luigi Zampa, que conheceu o sucesso com Viver em paz (1946) ; Alberto Lattuada, que passa pelo neo-realismo com Sem piedade (1947) ; Pietro Germi em Juventude Perdida (1947) foi também um dos nomes importantes do neo-realismo ; Guiseppe De Santis, que com Trágica perseguição(1947) fez o seu melhor filme ; Vittorio De Sica, também do neo-realismo, iniciando como cineasta em Rose Scarlatte (1939); o Roberto Rosselini com La Nave Bianca(1941). Não podemos deixar de citar o grande Luchino Visconti, que realizou já durante a Segunda Guerra, o seu primeiro longa, Ossessione, em 1942. Como também um Federico Fellini ou um Michelangelo Antonioni iniciando com o documentário Gente del Po, em 1943. Ficamos, claro, no início da era sonora. E aqui foi somente uma amostragem, é lógico que faltam importantes nomes na continuidade da tecnologia do som no atualmente tão falado cinema italiano.
ESPAÇO LIVRE
Mais um poema da Kalliane Sibelli, autora norte-riograndense que publicou em 2003 seu primeiro livro 'Outonos' pela 'Coleção Mossoroense'. Tenham uma boa leitura.
DISTRAÇÃO
Amor, teu olho e tua miséria são simplesmente iguais... Mas insisto em reter-me nessa lâmina que te faz.
Faço-me carne, voz e papel, e sangro essência, cristal, espanto, sempre que em ti me leio, sempre que em ti me escondo.
E no entanto nem percebes que me quebras, me despedaças... Mas de meus retalhos te vestes, e eu só canto, enquanto passas.
segunda-feira, janeiro 01, 2007 |
Os melhores filmes que vi em 2006.
De todos os filmes que vi no ano próximo passado, apenas um (O maior amor do mundo, de Cacá Diegues, 2006) foi visto na tela grande do cinema. E talvez seja o que de melhor ele fez até agora. Os outros vi somente na tela pequena. Agradou-me também a fita de Lúcia Murat, Quase dois irmãos, 2004, assim como( em uma escala menor) Sal de Prata, do Carlos Gerbase, 2006. E outro brasileiro, no mínimo interessante, foi O outro lado da rua, de Marcos Bernstein, 2004. Mas, decepcionei-me novamente com o Julio Bressane e o seu Filme de Amor,2003, a exemplo do que já ocorrera com Miramar, 97, exibido aqui anos atrás no Festival de Cinema. Aliás, das poucas fitas que vi deste dito cineasta nenhuma até agora me entusiasmou. Daí assisti também De crápula a herói, 59, um bom filme do Rossellini. Porém, o diretor sueco Ingmar Bergman foi o grande nome do ano passado. Praticamente vi Persona, 66, pela primeira vez, já que uma visão que tive em tempos atrás não chamou a atenção merecida. Achei desta vez o filme magistral. A fita de Bergman é quase um monólogo. E é justamente pela beleza da mesma que resolvi colocá-la na listagem. O outro dele também excelente foi O Silêncio, 63. Depois desta espécie de prefácio, eis os melhores:
1. Persona (Bergman, 66) 2. A infância de Ivan (Tarkovski, 62) 3. O silêncio (Bergman, 63) 4. Tempestade sobre a Ásia (Pudovkin, 28) 5. A idade do ouro (Buñuel, 30) 6. O novo mundo (Mallick, 2005) 7. Consciências mortas (Wellman, 43) 8. Marcas da violência (Cronenberg, 2005) 9. Match Point (Allen, 2005) 10. A Bela do Palco (Eyre, 2004) 11. Quase dois irmãos (Murat, 2004) 12. Flores Partidas (Jarmusch, 2005) 13. O maior amor do mundo (Diegues, 2006) 14. Boa noite e boa sorte (Clooney, 2004) 15. Com a maldade na alma (Aldrich, 64) 16. De Crápula a Herói (Rossellini, 59) 17. Um lugar para recomeçar (Hallstrom, 2005) 18. A janela da frente (Ozpetek, 2003) 19. A vida no paraíso (Pollak, 2004) 20. A Dama de Honra (Chabrol, 2004)
ESPAÇO LIVRE
O último sarau do ano 2006 coordenado pelo Eduardo Gosson homenageou a poeta norte-riograndense Kalliane Sibelli, que reside em Mossoró. A mesma participou do prêmio Luis Carlos Guimarães de Poesia e ganhou em 2005 o primeiro lugar. Compartilho com vocês de um de seus poemas que faz parte do livro "Exercício de silêncio". Na próxima postagem publicarei outro de seus textos.
Transmutar-se
Sentada em frente do espelho observo-me o ventre raso fecundado de amor e morte: fiz-me nuvem oscilante, fiz-me âncora, fiz-me norte, fiz-me mesmo estrada e pedra solitária onde pousaste teu cansaço, fiz-me canto...
Ah, se tu soubesses quanto de mim te dou quando te amo!...
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