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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
Livros Publicados:
a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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sexta-feira, agosto 31, 2007





VERSOS QUE CANTAM E ENCANTAM (13)



De Noel Rosa e Vadico:


Quem acha vive se perdendo
Por isso agora eu vou me defendendo
Da dor tão cruel desta saudade
Que, por infelicidade,
Meu pobre peito invade...
...

*

Sambar é chorar de alegria
É sorrir de nostalgia
Dentro da melodia.

*

Por isso agora lá na Penha
Vou mandar minha morena
Pra sambar com satisfação
E com harmonia
Esta triste melodia
Que é meu samba em feitio de oração.

*

O samba na realidade
Não vem do morro
Nem lá da cidade
E quem suportou uma paixão
Sentirá que o samba então
Nasce do coração.

Obs: Alguns versos de 'Feitio de Oração'(1932), uma das mais bonitas músicas do Noel em parceria com o Vadico, compositor e pianista paulista. Em 1968 no teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, a gravação desta canção foi realizada ao vivo num espetáculo produzido pelo Hermínio Bello de Carvalho para o Museu da Imagem e do Som.
Esta música foi a primeira de uma série de dez em que os dois compositores fizeram parceria. Como sempre muito namorador, o Noel escreveu em homenagem à Julinha, uma de suas muitas namoradas.
Oswaldo Gogliano, o Vadico, filho de imigrantes italianos do bairro do Brás, nasceu em 24 de junho de 1910. Começou a estudar música aos 16 anos e já com 18 tocava piano profissionalmente. Morou 15 anos nos Estados Unidos onde conseguiu cidadania, mas voltou ao Brasil em 1956. Morreu de um ataque cardíaco em 11 de junho de 1962, no Rio de Janeiro, quando se preparava para um ensaio com a orquestra no Estúdio da Columbia.

ESPAÇO LIVRE

Compartilho hoje com vocês de dois poemas. O primeiro já foi publicado aqui, porém o segundo é inédito. Espero que tenham uma boa leitura.

ELEGIA À MULHER DESCONHECIDA


Estivesse tu perto de mim
te faria comer este poema
e depois de juntar
meu corpo ao teu
ver-te-ia exalar com
odores inebriantes
letras de um desejo cego
de contensão:

A arte de te amar em versos.


PRINCÍPIO


Na aurora te vi
a sorrir.
Um sorriso triste.

No crepúsculo te vi
a chorar.
Um choro alegre.

E entre os dois interstícios
desnudar-te a alma.


Bené Chaves



sábado, agosto 25, 2007

O texto abaixo foi publicado aqui em agosto de 2004. Ei-lo novamente para os que ainda não tiveram oportunidade de ler. Desejo uma boa leitura ou releitura.
DIVAGAÇÕES EM GUPIARA



É na idade remota que se tem melhor oportunidade para desfrutar uma vida que pareça inocente e pura. Porque enquanto a gente rola o mundo inteiro enrola. Os ensinamentos, assim como o crescimento, só atrapalham, pois muitas vezes aprendemos, crescemos e apreendemos errados.
A mutação do tempo, acho, inclusive, uma perversidade. A instabilidade espacial acarreta dissabores incontroláveis, discrepâncias indissolúveis e impalpáveis.
Então, tenho a ligeira impressão que cada pessoa tem algo incomum escondido nas membranas do encéfalo. A sua parte póstero-inferior combina inteiramente com a súpero-anterior. E daí vem o que se chama de 'inteligência', passando o indivíduo a verter, com maior ou menor intensidade, suas vicissitudes naturais. E a glândula responsável por tudo isso é a hipófise, que fica na base do cérebro. É o chamado cerne do corpo humano.
Devo dizer, em conseqüência, depois de todo este palavreado, que só estou aqui graças a um ímpeto amoroso de meus pais. Claro que sou o fruto daqueles gozos paroxísticos, conclusos e tempestuosos. Embora não tenha sabido qual a estação climática na hora precisa de tal acontecimento.
E estou falando de mim para mim, pois ainda me encontro no ventre de minha mãe e nem sei quando irei sair. Isso é mais do que evidente. Vou ainda esperar, esperar... Ou melhor, quem vai esperar, no caso, é ela.
Contudo, passado aquele período, Painhô lembrou o orvalho que caía numa noite dessas, as vidraças embaçando e as folhas, ante a agressividade da chuva, fazendo um barulho que metia medo na minha mãe e em Tia Chica.
E então ele contou que pensou na guerra e viu crianças e mães chorando e bombas atingindo cidades inteiras. O fogo destruindo tudo. As árvores, os ventos fortes e o rio próximo coberto de galhos. Pensou depois, não sei a razão, na briga entre a noite querendo permanecer e o dia procurando se insurgir.
Era, enfim, um duelo cósmico.
Mas, sem tardança, os trovões, relâmpagos e árvores silenciaram. Passarinhos voltaram a cantar na escuridão atrelados em fios e ramos secos. Contou ele que ouviu um eco e subitamente parou de chover, os pingos suspensos na atmosfera. D’água e constelação.
Naquela noite Painhô não pôde cantar, a lua não teve como aparecer e certamente ficou escondida da adversidade. Porém, quem deve ter gostado foi ele. Mandou a preta velha se recolher e agarrou minha mãe de mansinho. Penso que com meu pai não tinha tempo ruim e nem bom. Chovesse ou fizesse sol, surgisse ou não a lua. E logo depois da janta... capaz até de dar uma congestão.
Foi quase uma punição que a noite não estivesse estrelada, pois Painhô não cantou suas modinhas. Deixou distraidamente em cima da cômoda uma que fez sobre um fato que me disse ocasião anterior:

Não afrouxo nem no grito
Aquela mulher bonitoza
Sempre com seu requisito
E também muito gostosa.

Retirei somente a última estrofe, pois Painhô exaltara seu conteúdo um tanto libidinoso. Avalie se minha mãe descobre uma coisa dessas! Nem sei do que seria capaz... Ainda bem que ele me disse dias depois que era uma homenagem para Mainhô.


ESPAÇO LIVRE

A POESIA DE EDUARDO GOSSON (RN)


O amigo e poeta Eduardo Gosson, responsável pelo sarau 'Poéticas potiguares', em que homenageia mensalmente o autor norte-rio-grandense, manda-me algumas amostras de sua mais recente criação poética. Espero que todos tenham uma boa leitura.

E NADA MAIS
Domingo.
Da janela, o resto da Mata Atlântica.
A música de Omara Portuondo
A poesia de Joan Brossa.
UÍSQUE COM GUARANÁ
Bolero...Bolero...
A dama de vermelho
uísque
com
guaraná
AS CIDADES
A cidade perdida
mora dentro de nós
A cidade real, essa não existe.
DE SOMBRAS II
Meio-dia.
No cemitério, apenas um bem-te-vi
louva a Deus. --------------------------------------------------------------------------------------













sábado, agosto 18, 2007






VERSOS QUE CANTAM E ENCANTAM(12)



De Bororó:

Esse corpo moreno cheiroso e gostoso que você tem
É um corpo delgado da cor do pecado
Que fez tão bem.
...

*

Saudade, tristeza, essa simples beleza
Esse corpo moreno, morena enlouquece
Eu não sei bem por que
Só sinto na vida o que vem de você...
...

*

Esse beijo molhado, escandalizado que você me deu
Tem sabor diferente que a boca da gente
Jamais esqueceu.

Obs: Alguns versos de 'Da cor do pecado'(1939), música gravada originalmente por Sílvio Caldas. É considerada uma das letras mais sensuais do cancioneiro popular brasileiro. Segundo Alberto de Castro Simões da Silva, o Bororó, que também era violonista, 'a inspiradora desta letra chamava-se Felicidade, uma mulher de vida pregressa pouco recomendável'. A origem de tal apelido deve-se ao fato do mesmo ter comentado com seu professor - quando estudava no colégio - a visita na sua casa de índios Bororó. O autor nasceu em 15 de outubro de 1898 e faleceu no dia 7 de junho de 1986, no Rio de Janeiro.


De Braguinha e Alberto Ribeiro:


Ô balancê, balancê
Quero dançar com você
Entra na roda morena, pra ver...

*

Quando por mim você passa
Fingindo que não me vê
Meu coração quase se despedaça
No balancê, balancê
...

Eu levo a vida pensando
Pensando só em você
E o tempo passa e eu vou me acabando
No balancê, balancê...



Obs: Alguns versos de 'Balancê' (1936), música gravada por Carmem Miranda no final do mesmo ano e que fez grande sucesso no carnaval de 1937. Aliás, até hoje é cantada com entusiasmo ímpar. Pena que tenham banalizado este outrora e belo festejo popular que era o carnaval.
Braguinha foi um profícuo compositor com seus mais de 400 títulos entre letra e música. Teve inúmeros parceiros em toda a sua carreira artística, que variou de cantor, produtor musical, roteirista cinematográfico e dublador dos desenhos de Walt Disney. Nasceu em 23 de março de 1907 e faleceu já com 99 anos, no dia 24 de dezembro de 2006, em pleno dia dos festejos natalinos.
Alberto Ribeiro, seu parceiro em algumas músicas, era também médico, cantor e violonista. Nasceu no bairro de Cidade Nova em 27 de agosto de 1902 e foi criado no Estácio, berço do samba carioca. Morreu em 10 de novembro de 1971.

ESPAÇO LIVRE


ENTREATO
Dentro de teus volumosos seios
eu sugo as ininterruptas gotas
de nossas inconexas existências.
E depois acalento-as ou recuso-as
na ilimitada sofreguidão
entre o viver e o morrer.
Bené Chaves






domingo, agosto 12, 2007

A PRIMEIRA VEZ DE MAINHÔ
O texto abaixo foi publicado aqui nos primeiros meses de nascimento do blogue. O poema do 'espaço livre' também. Espero que os que não o viram tenham uma boa leitura, assim como uma boa releitura para os que já os conhecem.

Foi justamente com meu pai, claro, que Mainhô deitou pela primeira vez com um homem. E ela, com toda certeza, deixou de ser moça, pois iniciava uma trajetória de constituir uma grande família. Só que Painhô, hum!, já devia ter começado e iniciado seus arroubos sexuais há muito tempo. Certamente teria sido com uma daquelas sertanejas boas de raça e sedentas de calor. Apesar do tempo forte lá em Ferrões.
Ou então - quando rapazinho - se atreveu no traseiro de alguma jumenta, perto daqueles roçados e cercanias, o que era comum entre os vaqueiros da região. Já que as moças se faziam de supostamente difíceis, o jeito que tinha era procurar satisfação em caminhos não tanto agradáveis.
Quem contou as peripécias foi Painhô mesmo, na noite silenciosa e com leves ruídos na escuridão. Imagine!... até Tia Chica ficou escorada no balcão da janela. E, então, ele disse, todo ancho da vida:
"Era uma noite, parece, de lua cheia, as nuvens cobriam pouco a pouco um céu meio azulado. Dava uma aparência que ia chover, porque o quarto escureceu de repente. Levantei-me - depois de um bom sono - e fui à sacada da janela vislumbrar o acontecimento. Quando voltei, minha companheira ainda dormia agarrada ao travesseiro. Fui ao seu encontro e deitei juntinho dela para acordá-la. Ela remexeu-se com preguiça e puxou-me para seu lado. Ficamos ali quietinhos horas e mais horas, nossos rostos colados um ao outro".
Parou um instante com se quisesse tomar fôlego. E continuou meio envaidecido:
"Alegre e mostrando felicidade ao redor de si, sua mãe, meu filho - e me olhou piscando o olho de contentamento -, ergueu-se e levantou-se contente da vida. Estava radiante, sem acreditar, e foi tomar seu banho natural. Ninguém a detinha, talvez levasse com ela o fruto de uma existência".
Prosseguiu com sobriedade e distinção:
"O tempo voltou a piorar e a lua tinha sido encoberta. As nuvens tomavam conta de tudo e eu temia uma arbitrariedade daquela ocorrência quase inusitada. Daí resolvi encará-lo e deixar minha companheira na ventura acontecida. Olhei ao redor e vi uma vida mesclada, aquelas pessoas numa formalidade de afazeres, gesticulações de incertezas, gente andando e sendo fustigada, olhares atônitos e atônicos".
Parou um pouco, disse que ficou alguns momentos na chuva e depois voltou ao quarto, onde a parceira ainda dormia ao sabor de seu deslumbramento. E falou: "sim, meu filho, você foi gerado naquela ocasião, tenho quase certeza. É por isso que estou lhe contando o sucedido".
Não sabia ele que Tia Chica ficara escondida no parapeito e com certeza ouviu o relato desse pequeno e feliz episódio quando Mainhô sentiu as delícias do prazer pela primeira vez.
Levantou-se e se dirigiu ao aposento, pois sua mulher já dormia fazia algumas horas. Tivera uma bruta dor de cabeça que disse infernizar-lhe as têmporas.
Eu não falei que se chovesse ou não, tivesse lua cheia ou nova, fizesse sol ou noite estrelada, Painhô era um danado?!
E antes de entrar vi somente o vulto da preta velha correndo para não ser apanhada em flagrante.



ESPAÇO LIVRE



ambigüidade


entre tuas macias coxas

eu afogo minhas lágrimas

afago teu sexo

pensando no amanhã

no anoitecer e amanhecer

de nossas e novas vidas.



Bené Chaves




sexta-feira, agosto 03, 2007




VERSOS QUE CANTAM E ENCANTAM (11)


De René Bittencourt Costa:


Sertaneja, se eu pudesse,
se papai do céu me desse
o espaço pra voar,
eu corria a natureza,
acabava com a tristeza,
só pra não te ver chorar...

*

A tristeza do teu pranto
é mais triste quando eu canto
a canção que eu te escrevi.
E os teus olhos, nesse instante,
brilham mais que a mais brilhante
das estrelas que eu já vi...

*

Vou subir por essas serras,
construir, lá noutras terras,
um ranchinho pra nós dois.

Obs: Alguns versos da música 'Sertaneja'(39), gravada por Orlando Silva no ano de 1940 e constituindo-se num dos maiores sucessos da sua carreira de cantor. O compositor e também jornalista Bitttencourt iniciou sua vida artística animando shows de circo e teatro, assim como colaborando em várias revistas e jornais especializados na música. E teve sua primeira composição, o samba-canção 'Felicidade'( em parceria com Noel Rosa) gravado no ano de 1932. Nasceu em Paquetá(RJ) em 23 de dezembro de 1917 e faleceu em 21 de novembro de 1979.


De Noel Rosa:


Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje, sem foguete,
Sem retrato e sem bilhete,
Sem luar e sem violão.
Perto de você me calo,
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar...
...

*

Diga, diga que você me adora
Que você lamenta e chora
A nossa separação
...

*

Nunca mais quero o teu beijo
Pois meu último desejo
Você não pode negar...

Obs: Alguns versos de 'Último Desejo', música composta pelo genial Noel Rosa quando a sua tuberculose estava num estágio bem avançado e ele já sentindo que seria o seu fim. Fez tal samba em homenagem a sua paixão, a bailarina de cabaré Ceci, a Juraci Correia de Morais. Noel sempre foi um eterno apaixonado e algumas de suas canções revelam o fato. E fez mais essa como uma espécie de despedida. Seria a sua penúltima música, cuja letra foi entregue à amada por um amigo comum. Ficou, portanto, o legado como forma de inspiração para outros amados e amantes.
Na verdade, ele morreria no dia 04 de maio de 1937 e não em 1936 como dissemos em postagem anterior. De qualquer maneira ainda tinha 26 anos de um brilhante ofício como compositor.

ESPAÇO LIVRE


FUGACIDADE


Meus olhos sangram os teus
na extensão de um sagaz olhar
e plenitude do amor glutão.

Teus olhos sangram os meus
à procura da dor do orgasmo
e inquietude da fêmea no cio.

Nossos úmidos olhos se cruzam
no derramamento de um efêmero
e vermelho prazer.


Bené Chaves