uinha da noite Painhô voltou do trabalho e jantou cuscuz com tapioca, também aquela coalhada deliciosa de um leite puro, sadio. Depois foi até a cozinha e deu os parabéns a Tia Chica, ela orgulhosa, jeitão desconchavado. Obrigada, estou às ordens, precisando... E, então, meu pai aproveitou e criou um neologismo para nomear o prato saboroso: leitapioca!Foi até ao quarto, pegou o violão, a rede já esperando e juntou Mainhô - ainda com a barriga daquele tamanho -, a preta velha e começou a cantar. Engatilhou os dedos nas cordas e não parou. Misturou letra, substituiu nomes, juntou palavras, fez o diabo. O violão de Painhô era, no mínimo, diferente. Parecia brilhar se alguém o tocasse, seja literalmente ou quando de seus acordes saíssem uma bela canção. Transmudava-se com o dedilhar de seus mágicos dedos. Diziam que, a exemplo de Tia Chica no fogão, meu pai, com o violão, era o cão. Tudo isso no bom sentido, lógico.Parecia montado num cavalo pampa, caminhando léguas, não soltava as rédeas, ou melhor, as cordas. Era um autêntico cabra da peste. ESPAÇO LIVRE
A CONSTRUÇÃO (EM CORDEL) DO SÍLVIO CALDAS (RN)
O poeta e escritor Sílvio Caldas (RN) lançou em cordel (sextilha) 'A Construção do Brasil' no dia 27 próximo passado. Compareci ao evento e compartilho com vocês de alguns trechos do referido livro. Espero que tenham uma boa leitura.
O ano: mil e quinhentos;
Cabral e os quatrocentos,
Sem contar tripulação
Aporta na nossa 'ilha'
Pensando que a maravilha
Fosse pequena, pois não.
*
Na sua carta afamada,
Descrevendo a arrojada
Aventura de Cabral,
Com muito puxa-saquismo
Fez nascer o nepotismo
Corrupção e coisa e tal.
*
Assim nasceu a República
A chamada coisa pública,
Nova fonte de ilusão.
Deodoro: só dois anos;
E os nossos mil desenganos
Logo continuarão.
*
Aí sim, povo enganado
Governo tão relaxado
Como tal, nunca se viu
Maldita prorrogação
Infeliz dessa Nação
Que dom Fernando iludiu.
*
Houve dólar na cueca,
A deputada sapeca,
Dançarina de salão
Cassaram a Casa Civil,
Delúbio não resistiu,
Houve muito comilão.
*
Mas já no primeiro ano,
Que tristeza! O desengano
Tomou conta da Nação:
A corrupção atrapalha,
Tem operação navalha
Nunca vi tanto ladrão.
por
benechaves às
09:23