por
benechaves às
20:05
Estou então aqui, na minha pré-adolescência. E farei qualquer coisa para não decepcionar ninguém. Talvez haja alguma discordância quanto a pensamentos, palavras e ordens, porém nada que seja algo discrepante ou insolúvel. Ou ainda que não tenha uma conclusão de ambas as partes. Estarei sempre pronto, portanto, para tentar resolver questões que ocorram. E divergir, caso faça-se necessário. Tinha também consciência que os pais toldavam nossa efervescência inocente e não se faziam toleráveis. Alguns até exageram nos seus atos. Teriam tais filhos cometidos delitos ou peraltices inimagináveis? Porém, afora essas questiúnculas decorridas, as coisas poderiam voltar ao normal. E minha tenaz vivacidade (arre!) desabrochava-se com todo o ardor que lhe era peculiar, deixando, então, tudo de lado. Todos sabiam das esquisitices de velhos genitores que exigiam muito de uma educação controlada e coisa e tal. Mas, às vezes, o tiro saía pela culatra. Ou seja: gerações inteiras se revoltavam contra possíveis arbitrariedades. Porém, deixando de lado fatos pendentes, o resto ia tudo bem. Mormente quando se apregoava algo em torno de minha postura como uma pessoa querida e devidamente interessada em assuntos outros que se afinassem verdadeiros. Eu tentava fazer todos acreditarem na minha palavra, pois era uma das únicas (ou poucas?) que realmente valia, dado que nem sempre apareciam alocuções que se assemelhassem com a dita. Caráter verboso? Então, cresci assim e desse jeito estou. Não tento me gabar de nada, apenas quero exprimir algo que nasceu comigo. É a tal raiz de que falava Painhô. Procuro, também, na medida do possível, repassar para todos, o que tem sido uma tarefa difícil. Porque a gente sabe que é preciso repisar a tecla várias vezes. Depois, claro, devem surgir novos horizontes e tudo se evidencia esclarecedor. Estão atentos ao meu raciocínio? Tudo é o que é e não adianta meter o pé, dizia o antigo e acomodado provérbio. Desde cedo, no entanto, me veio à mente uma determinação. E, lógico, não vou opô-la a vexames. Portanto, tentarei lutar contra a renitente mediocridade que ainda assola o ser (dito) humano. Enquanto divagava em questionamentos ambíguos, Painhô aproximou-se trazendo o enorme livro, já de páginas amareladas, que mantinha na sua velha estante. Leia aqui esta passagem, filho. E me entregou o espesso volume. Li em voz alta: " O velhinho vinha vindo sorridente e sem dente. Olhou-me com apreciação. No seu caçar, ele era o dono daquele rancho graúdo e de léguas. Vinha no cavalo, com valimento. Eram reses aos montes, a gente não podia contar em dedos, tinha de imaginar. Os mugidos se espalhavam. A não ser a área imensa, o resto não valia nada. E o esperto velhote saiu tangendo o gado magro para pastar nas vizinhanças. Eh boi! Eh boi! Eh boi!". Sabia que meu pai sempre foi apaixonado por uma fazenda e tudo o mais. Porém, ele interrompeu minhas divagações. Não o reprovo, evidente que não, ele tinha lá seus arroubos também. E, de certa forma, eu gostava daquele mundão chocho, choco, goro. Eram sinais de uma raiz... ESPAÇO LIVRE por
benechaves às
20:05
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