
(Quadro de Pablo Picasso)
No dia 01 de agosto, sexta-feira próxima, este blogue estará completando 04 anos de existência. Quero deixar o registro e agradecer a todas as pessoas que o visitam, especialmente aos amigos e amigas que comentam uma ou outra postagem. O sucesso ou não do mesmo se deve a uma regular continuidade. E, acredito que sim, esta continuidade se deva a presença de todos vocês. Talvez muitos não tenham o devido tempo para visitas ou algo como uma timidez para anotar. De qualquer maneira fico muito grato aos que comparecem com suas gentis e carinhosas palavras. Já disse uma vez e volto a repetir: verei até onde e quando poderei ir. O andamento (mais uma vez) dirá se devo permanecer ou não. Já tive vontade de encerrá-lo desde o ano passado, mas a saudade foi maior e resolvi voltar no meio do caminho. Perdi muitos elos queridos, não sei a razão. Talvez uma razão própria da indefinição que é a vida. Ou de qualquer imprevisibilidade. Mas ela é assim mesmo, se resume em acasos, casos, ocasos e descasos.
QUARTOS ALUMBRAMENTOS
Desde o momento que conheci Alba, uma enorme euforia tomou conta de mim, o corpo tremia quando olhava aquele morenaço de olhos verdes a acariciar-me às vezes somente as mãos, outras vezes o meu imberbe rosto. E meditava sobre um possível e talvez sério relacionamento. O homem, de um modo geral, pensa e tenta se firmar como uma pessoa capaz de obstáculos talvez até inacreditáveis. A mulher, por sua vez, sensível e maternal quase sempre, muito embora, com raras exceções, um pouco (ou muito?) difícil de entender, procura conciliar supostas exacerbações e, então, assenta-se como uma companheira leal. Mas, em outras ocasiões, dá-se justamente o contrário. E a recíproca fica num vai-e-vem danoso, a chamada infindável e insondável intermitência de valores. Por isso mesmo, seria imprevisível qualquer união ou desunião de pensamentos.
Eu e Alba éramos ainda jovens, não tínhamos noção alguma de uma circunstância maior que pudesse se avizinhar. Portanto, a insistente pergunta: poderíamos enfrentar situações vexatórias e contraditórias contanto que permanecêssemos juntos um ao outro? Não sabia até onde iria o presente devaneio, mas o meu intento era tão somente viver aquela fantasia, fosse ela duradoura ou não. Coisa de menino besta e ansioso para arrebatar uma libido que florescia na viçosa idade. E acho que a recíproca também era verdadeira, embora castrada pelas normas repressoras do sexo feminino. Ou de uma sociedade falso-moralista.
A vida era assim mesmo... Que ninguém duvidasse dela, pois a própria entortava e retorcia do jeito que quisesse, se fazendo senhora de suas determinações e deteriorações. Ela antevia as destrezas e pústulas, contudo também as pusilanimidades de uma existência. Dizia-se que vivia em constante mistura consigo. E, claro, com os outros em geral. Era uma vida arrevesada, não sei, contudo, se também arrevessada. Diante, no entanto, de tantas indefinições, todos ficam indignados com a mesma, vendo-a passar aleatória ante circunstâncias e circunvizinhanças. Seria uma natureza determinante ou certa força energética, absoluta? Pois sim! Pois não! Sim! Não! Pois! Senão?
Eu não me incomodava com deliberações existentes e estabelecidas sejam lá por quem. Minha idade não permitia. Queria apenas levar adiante aquela paixão adolescente e efervescente. Que fosse pro diabo qualquer resolução em contrário! Seguia uma conceituosa e ambígua definição de Painhô: "o essencial da vida existia pra se comer (literalmente ou não) mesmo, não via necessidade de me necessitar".
ESPAÇO LIVRE
AURORA DA VIDA
Na madrugada madrugadinha
eu pensei em ti.
Nos nossos sonhos de outrora
e na jovialidade dos encantos.
Pensei na minha primeira noite.
Ou primeiro dia?
De como estavas excitante em
uma camisola palpitante.
Sonhei e me vi sorrindo no
patamar de uma glória.
Tu a pelejar e a cantar cânticos
de extrema felicidade.
Eu a embalar e cariciar vontade.
Era o êxtase de um momento que
dolorosamente esvazia...
Agora, na madrugada fria e triste
vivo de lembranças mornas e mortas.
De como o perverso tempo destrói
o fluir de uma imaginária flor.
E, então, no meu amor madrugadinho
os olhos desesperam recordações de breves
e findos caminhos/carinhos.
Bené Chaves