
VERSOS QUE CANTAM E ENCANTAM (27)
De Zé da Zilda e Marino Pinto:
Aos pés da Santa Cruz você se ajoelhou
Em nome de Jesus um grande amor você jurou
Jurou, mas não cumpriu, fingiu e me enganou
Pra mim você mentiu
Pra Deus você pecou
O coração tem razões que a própria razão desconhece
Faz promessas e juras, depois esquece
Seguindo este princípio você também prometeu
Chegou até a jurar um grande amor
Mas depois esqueceu.
***
De Roberto Martins e Mário Rossi:
Hoje não existe nada mais entre nós
Somos duas almas que se devem separar
O meu coração vive chorando e minha voz
Já sofremos tanto
que é melhor renunciar
A minha renúncia
Enche minh'alma e o coração de tédio
A tua renúncia
Dá-me um desgosto que não tem remédio
Amar é viver
É um doce prazer embriagador e vulgar
Difícil no amor
É saber renunciar.
Obs: Versos das músicas 'Aos Pés da Cruz' e 'Renúncia', ambas de 1942 e dos autores acima citados respectivamente.
O Zé da Zilda(José Gonçalves) era filho de músico e aos 5 anos começou a se interessar por cavaquinho aprendendo com o pai. Nascido no Rio de Janeiro (em 6 de janeiro de 1908) no subúrbio de Campo Grande, por volta de 1920, no morro da Mangueira, fez amizade com alguns sambistas. Entre eles estava o Cartola, que mais tarde seria seu parceiro. Depois, na rádio Transmissora, conheceu a cantora e compositora Zilda. E com a mesma formou logo no início a 'Dupla da Harmonia'.
Então, ficou assim: Zé de Zilda e Zilda do Zé, pois casou-se com ela em 1938, adotando tal batismo nas suas apresentações. O compositor faleceu em 10 de outubro de 1954.
O Marino Pinto era também jornalista. Ingressou, em 1928, no Ginásio São Bento, onde conheceu o músico Plácido Oliveira que foi seu grande incentivador. E fez, na época, a primeira composição, 'Ilka', dedicada à namorada. Em 1929 tornou-se amigo do cantor Sílvio Caldas. Nasceu em 18 de julho de 1916 no Rio de Janeiro e morreu no dia 28 de janeiro de 1965 na mesma cidade.
Roberto Martins ficou órfão de pai com apenas um ano. Como sua mãe tocava piano, a influência musical o marcou logo cedo. E aos 20 anos compôs seu primeiro samba, 'Justiça', de 1929. No ano de 1936, juntamente com o Valdemar Silva, fez 'Favela', o primeiro êxito da carreira. Mas somente três anos depois teve consolidada sua fama com 'Meu consolo é você', em parceria com o Nássara e gravado pelo Orlando Silva. A sua batucada 'Cai, Cai'(1940) se transformou num clássico do carnaval. Outro sucesso: a marcha 'O cordão dos puxa-sacos', de 1945. O compositor nasceu em 29 de janeiro de 1909 e faleceu no dia 14 de março de 1992.
Seu parceiro, o Mário Rossi, letrista, aos 10 anos já trabalhava e estudava. Aos 14 ingressou na Escola de Aprendizes Marinheiros de Angra dos Reis. Transferindo-se para o Rio de Janeiro em 1935, ficou conhecendo o 'rei das valsas' Gastão Lamounier. E com ele compôs 'E o destino desfolhou'( versos publicados aqui em 30 de junho passado), música gravada em 1937 pelo Carlos Galhardo. No mesmo ano publica o livro 'Poemas para ler e esquecer'. Rossi nasceu em Petrópolis em 23 de maio de 1911 e faleceu no Rio de Janeiro em 12 de outubro de l981(também já publicado).
Seu maior sucesso foi mesmo 'Renúncia', que consagrou o então jovem cantor Nelson Gonçalves.
ESPAÇO LIVRE
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EPÍLOGO
Depois de cobrir-te
de belos poemas
rasgarei um por um
para achá-la perene
divina e formosa
em teu corpo solidário
e solitário.
E afogarei tuas mágoas
nas miúdas letras de um
livro em decomposição.
O romance de tua vida.
Bené Chaves
(Quadro de Paul Gauguin -1848/1903)