Quadro do pintor Walfran Guedes
VERSOS QUE CANTAM E ENCANTAM (22)
De Ary Barroso:
No tabuleiro da baiana tem
Vatapá, oi
Carurú
Mungunzá, oi
Tem umbú
Pra ioiô
Se eu pedir você me dá?
O seu coração
Seu amor de Iaiá?
No coração da baiana tem
Sedução, oi
Canjerê, oi
Ilusão, oi
Candomblé pra você
Juro por Deus
Pelo Senhor do Bonfim
Quero você
Baianinha inteirinha pra mim
E depois
O que será de nós dois?
Seu amor é tão fugaz, enganador
Tudo já fiz
Fui até num canjerê
Pra ser feliz
Meus trapinhos juntar com você
E depois
Vai ser mais uma ilusão
No amor quem governa é o coração
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Tá fazendo um ano e meio, amor
Que o nosso lar desmoronou
Meu sabiá, meu violão
E uma cruel desilusão
Foi tudo que ficou
Ficou
Prá machucar meu coração (bis)
Quem sabe, não foi bem melhor assim
Melhor prá você e melhor prá mim
O mundo é uma escola
Onde a gente precisa aprender
A ciência de viver prá não sofrer
Tá fazendo um ano e meio, amor
Que o nosso lar desmoronou
Meu sabiá, meu violão
E uma cruel desilusão
Foi tudo que ficou
Ficou
Prá machucar meu coração
Prá machucar.
Obs: Versos de 'No Tabuleiro da baiana'(1936) e 'Pra machucar meu coração'(1943), ambos do autor acima. A primeira música é o título de uma canção(samba-batuque), o primeiro sucesso do autor. Refere-se a uma das principais figuras típicas de Salvador: a baiana, que vende seus produtos nas ruas da capital ganhando o seu sustento. A letra foi feita especialmente para a peça 'Maravilhosa', cantada por Déo Maia e Grande Otelo. E no mesmo ano voltou a integrar outra Revista, desta feita com o Oscarito.
A segunda canção foi gravada no mesmo ano(em 1943) também pelo Déo Maia e com acompanhamento da orquestra do Chiquinho.
Ary foi criado pela avó Gabriela e pela tia Ritinha. Aos 12 anos já fazia fundo musical ao piano para filmes do cinema mudo. Envolveu-se (infelizmente) com a política e foi eleito vereador pela antiga UDN em 1946. Mas, era um eterno apaixonado pelo futebol e pela boemia. Flamenguista fanático, não conseguir irradiar os jogos do seu time, pois torcia mais do que propriamente narrava. No rádio sustentou o programa 'Calouros' desde o final dos anos 30 até os anos 50.
ESPAÇO LIVRE

MOMENTANEIDADE
Nos teus faiscantes olhos azuis
(que me tontearam a sensatez)
turbulentos como o mar bravio
acendo o lume de tórridos desejos
e deixo-te sorver o sumo íntimo
de supostas e sacudidas paixões.
E no frêmito do amor farto e fugaz
nós a erguermos entre paredes sem cor
o tilintar de taças em líquidas ilusões.
O prazer, um instante revivido.
A dor, uma seqüela a incomodar.
E tu a sair incólume com teu olhar
que me embebedou de tentações.
Bené Chaves