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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
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a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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quarta-feira, janeiro 09, 2008

O texto abaixo já foi publicado aqui em dezembro de 2004, assim como também o poema. É uma oportunidade nova para os que não os viram na ocasião. Espero que tenham uma boa leitura.


LUA CHEIA

Painhô reuniu alguns amigos no alpendre, puxou o violão pra si e sentou-se na rede de armadores enferrujados. A lua surgiu com uma enorme claridade, aquele facho arredondado e amarelado quase batendo nos telhados da casa. Mainhô ainda me carregando na barriga, tudo indicava uma parição para breve. Mas, aqui pra nós, nunca vi um bucho demorar tanto!
(Diz uma lenda que menininhos subiram e bateram naquela lua formosa. Então um homem no seu cavalo branco abriu sua gigantesca porta e os fez entrar. Ali estava uma mulher inquieta e nua, deitada entre vultosas e pitorescas figuras. As inocentes crianças fizeram alguns pedidos que foram prontamente aceitos, mas depois desceram às gargalhadas e desapareceriam na madrugada fria. Ninguém conseguiu decifrar tais solicitações, porém São Jorge havia dito que o Sol seria o culpado da suspensão de uma noite linda. E saiu a cavalgar tentando resplandecer a Lua no interminável. Diz também a lenda que o dragão fez adormecer o astro maior, porém nunca confirmaram tal desconfiança).
Então, a lua daquela noite tornou-se mais bela do que nunca. Não era qualquer uma, era a lua de Gupiara. Parecia que estava adivinhando e querendo escutar meu pai no violão. Ficou silenciosa e volumosa, firmemente volumosa. Painhô me disse depois que jurou existir uma particular simbiose dele com o exuberante satélite. Exagerando, creio eu.
E com a terra ficando entre as duas maiores estrelas e recebendo de uma os raios lunares refletidos, ele cantou, disse-me, uns versos a que deu o nome de 'O fanfarrão':
Dos repentes que sai de minha lira
Já denuncio uma vida tenebrosa
Nesta minha existência tão penosa
Já fiz coisa que o mundo se admira
Fiz um furo na Serra da Partira
Qu'era maior que o Túnel do Pavão
Bem lá dentro armei um açapão
Todo composto de muitas navaias
Qu'era pra ver se encontrava os canaias
Que me viesse falar de avião.
E espichou o estribilho, os olhos de namoro com a lua:
Ai, ai, ai, ai Gupiara
Ai, ai, ai minha Lua
Ai, ai Mainhô
Você é meu amor.

As modas matutas traziam, às vezes, por si só, erros na composição, porém o gostoso era saber suas rimas. Que fosse pro diabo a ingerência gramatical!
Painhô parou de vez, jogou o instrumento pro canto e abaixou a cabeça. Meu filho, dizia ele, penso comigo mesmo: o tempo passa, as pessoas se transformam e tudo se revela enigmático. A felicidade é transmutável.
Despediu-se dos amigos e também da bonita lua, que ficou redondinha redondinha sem querer subir.Tia Chica já cochilava aos roncos, estirada lá pros fundos da casa. E minha mãe abria a boca de tanto sono.
Que tivessem, pois, uma sossegada noite. Nada de remexerem comigo!

ESPAÇO LIVRE

VELHA FOTOGRAFIA


Oh, espelho usado, estilhaçado...
reflexo da pequena estampa
passada
presente
futura.
Roída e acinzentada parede.

Imagem antiga, retorcida...
sinal de uma cansada vida.

Imagem anômala, dEfOrMaDa...
não há de ser nada?

Retrato solitário, solidário
de longa existência
lágrima
riso
imaginário.


Bené Chaves

por benechaves às 10:39