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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
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a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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quinta-feira, dezembro 20, 2007



Foto de Pedro Olivença, in 1000imagens


O texto abaixo foi publicado aqui em dezembro de 2004. E com pequenos acréscimos e também outro título ei-lo novamente, aproveitando este final de 2007. Que todos tenham uma boa leitura.




NATAL EM GUPIARA


Os sinos da igreja tocam: blemblemblém, blemblém. E os presépios são armados nas casas de Gupiara, com a presença do velhinho de barba branca. A alegria das criancinhas na festa magna da Cristandade, os cartões correndo soltos dos correios às residências. E as poucas árvores enfeitadas com bolas coloridas. Tudo era motivo para uma festa maior.

Aquela fase, meu filho, podia ser a melhor do mundo. Gupiara enfeitava-se, as pequenas lojas alegravam suas vitrines. Parecia ser uma louvação à inocência daquele bondoso povo. Os habitantes mais aquinhoados gastavam aos montes. E o ritual falava mais alto pra banda de seus arredores.

Mas, nos arrabaldes próximos dali, não existia o ímpeto que se observava no centro da cidade. Muitas vezes nas cercanias e povoados vizinhos, crianças não tinham do que se alimentar. Os casebres eram tristes e escuros. Aquela gente às vezes passava fome de verdade. Ou pior: passava fome o dia inteiro.

Então, meu filho, pensei comigo: que disparidade! E concluí com tristeza nos olhos: todos vêm ao mundo para viver, embora a maioria vegetasse na imundície. Precisávamos dar a parte que cabia aos outros. Acho que o humano não existe, o que conta mais é uma tapeação. E a ilusão que ficara a sombrear os menos favorecidos.

Gupiara sabe disso, você também, meu filho. Mainhô e Tia Chica devem saber. Todos estão errados, o mundo está errado. A verdade é um sonho. As pessoas também o são. Eu e você... Daqui mais algum tempo Gupiara talvez nem exista. Ou apenas seja um arremedo do que fora na simplicidade de antes.

Blemblemblém, blemblém... Meia-noite e missa rezada na pequena igreja. O padre a dizer uma verdade mística. E um desafio para rapazes e moças que namoravam, apenas namoravam. Poucos rezavam de verdade, muitos parodiavam de mentira. Naquelas circunvizinhanças tudo se mesclava de ambigüidades.

Os sinos repicavam e as árvores surgiam belas, aparentemente belas. E no fim de ano todos se congratulavam a espera de dias melhores. Dias que nunca chegavam, intermináveis dias principalmente para aquele povo pobre. Desde cedo a lutar contra a opressão e uma desigualdade social a cada dia mais palpável.

E assim Painhô costumava filosofar: meu filho, o homem é inimigo dele mesmo, somente prevalece o interesse e a vaidade em si próprio. Veja esse imenso descampado - e apontou em direção ao infinito. Quão gigantesca é a natureza!, disse. Mas, o ser humano é bem pequenininho, diminuto mesmo.

Juro que saí dali convencido que tudo e todo esse festeiro não passava de uma ficção. Meu pai sabia das coisas.


ESPAÇO LIVRE





PARADOXO

Embriago-te de mim
embora tu estejas sóbria
da minha ilusão.

E na tua inteira lucidez
deixo-me levar ao teu
bêbado encontro.

Os nossos corpos a gritar
entre a razão e a insensatez.

Bené Chaves

(Quadro ao lado do pintor Henri de Toulouse-Lautrec)

por benechaves às 10:58