
VERSOS QUE CANTAM E ENCANTAM (18)
De Herivelto Martins:
Sem telhado, sem pintura
Lá no morro,
Barracão é bangalô.
Lá não existe
Felicidade de arranha-céu,
Pois quem mora lá no morro
Já vive pertinho do céu.
Tem alvorada, tem passarada
Alvorecer
Sinfonia de pardais
Anunciando o anoitecer.
E o morro inteiro no fim do dia
Reza uma prece, Ave Maria...
...
Ave Maria... Ave.
E quando o morro escurece
Eleva a Deus uma prece
Ave Maria...
Ave Maria... Ave... Maria.
Obs: Versos da música 'Ave Maria no Morro' (1942), de Herivelto Martins, compositor nascido no Rio de Janeiro em 30 de janeiro de 1912 e que com apenas três anos apresentava-se declamando. E dizia: 'Nasci pra namorar/ Toda moça bonita que eu vejo/ Dá vontade de casar'. O seu pai, o agente ferroviário Félix Bueno Martins, era um apaixonado pelo teatro. E promovia grupos de teatro amador. Foi, então, depois que o Herivelto conheceu o compositor José Luis da Costa, o Príncipe Pretinho, que lhe deu uma oportunidade para a carreira artística. Passou a viver em 1936 com a cantora Dalva de Oliveira com quem teve um filho, o também cantor Pery Ribeiro.
Observando em uma ocasião o barulho dos pardais se recolhendo às árvores para dormir, sentiu que tal gesto daria um samba e compôs os primeiros versos de 'Ave Maria'. No entanto, relatou em depoimento para o Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro: "Eu me preparei para mostrar ao Benedito Lacerda e então cantamos eu ao violão e Dalva com aquela bonita voz crente que estávamos agradando. Terminada a apresentação, o Lacerda tirou os óculos, esfregou os olhos e disse: meu compadre, isso é música de igreja, vamos fazer música para ganhar dinheiro". E assim começaram aqueles primeiros acordes com alguma desilusão. Depois a composição constituiu-se em grande sucesso.
Herivelto Martins produziu mais de 100 músicas e foi personagem muito importante na MPB. E também líder classista dos compositores. Morreu em 17 de setembro de 1992.
ESPAÇO LIVRE
O primeiro poema faz parte do livro 'Cinzas ao amanhecer' e já foi publicado aqui. O segundo, contudo, é inédito. Espero que tenham uma boa leitura.

RUPTURA
A distância de idade
faz entristecer
sem poder tocá-la
amá-la
querer.
Na ilusão perdida
meu jovem olhar.
A desesperança
humana de doar.
A minha e tua
curta existência
não poderá quebrar
diferente diferença?
PROBIDADE
Rasgo tuas vestes
cubro-a com temor
e deixo-te vestida.
Com a nudez de teu corpo.
por
benechaves às
20:48