
(Este 'certificado blog' foi uma indicação do blogue 'retalhos d'alma' (www.anne_voce.blogger.com.br).
O texto abaixo já saiu aqui em 2004. Volto a mostrá-lo para os que ainda não tiveram oportunidade de lê-lo na ocasião.
PAINHÔ
Meu pai era um sertanejo brabo e, paradoxalmente, manso ao mesmo tempo. Ele tinha esta peculiaridade. Vivia dizendo que a vida no campo era a saúde do corpo. Então, de manhã cedinho saía galopando o cavalo pampa e corrigindo as coisas do meu avô. Seguia pro curral, segurava aquela bonita vaca pelo laço e depois prendia o filhote bezerro perto do peito da mesma.
Ali, ele tirava algumas poucas latas do leite morno e espumante e enchia copos e mais copos, depois distribuindo nos arrabaldes, aquela população agradecendo sua generosa atitude.O que sobrava dava pra encher a pança dos que moravam na fazenda.
Ele era feliz e sabia que era. Sou um sujeito simples e sem lengalenga, costumava falar. As pessoas gostavam dele, principalmente aquelas mocinhas que viviam à cata de um marido pra arrumar suas vidas.(Mas aí já existia um certo interesse, menos pelo que possuía e mais pelo belo porte de masculinidade).
Meu avô não tinha muito, mas o pouco que tinha ajudava muita gente. E essas coisas no sertão são de grande valia para todos.
Porém, depois Painhô pegava seu chapéu de couro e se metia no mato em busca de serviço. Eu gostava daquilo, dizia ele sorrindo.Acho que foi nesse período que Painhô começou a tocar violão. Embora com a sequidão quase cruel, imaginava o gado pastar livremente. E as bostas das vacas caírem em abundância naquela terra, dando adubo pros terrenos sedentos de água.
Após tomar uma coalhada gostosa feita mesmo pela mãe, dele, lógico, sentava-se na pequena varanda e, antes de cantar algo, soltava um arroto de desprendimento, mansidão e olhando aquela imensidão. Os cantos melódicos e às vezes românticos enchiam o corpo de todos de um prazer incomum. Ladrões inexistiam, a violência não campeava e, portanto, a noite seria nossa.
Meu avô dizia pra Painhô que macho que é macho tem de provar de vários melaços. Pra saber o melhor e ficar comendo, completava, desviando o olhar de sua mulher.Meu pai, então, atiçou, mesmo sabendo não ser verdade o que dizia:
Aqui neste sertão
Mulher é feito pilão
Sem tripa sem tudo
E também sem coração.
Painhô lambeu os beiços e passou a língua entre os dentes, entrecortando uns acordes e fixando repentes:
Minha mãe brigou comigo
Só por causa de uma urupema
Quanto mais se ela visse
Meu namoro no cinema.
A lua surgiu e desapareceu, a noite ficou melancólica. Ele olhou ao redor e disse: tudo na vida gira em torno dos dois sexos: o feminino e o masculino, claro. E ultimou: é uma tamancada de vida! Seguimos o rumo da existência, cônscios ou não de nossas obrigações, completou.
Não sei porque falou isso, porém falou. Era assim mesmo, cheio de improvisos.
Levantou da cadeira, deu boa-noite e foi dormir. Sabendo ele, entretanto, que as mulheres tinham um coração de ouro. Amanhã cedinho reiniciaria novas tarefas.
ESPAÇO LIVRE
A POESIA DE FERNANDA PASSOS(São Luis/Maranhão)
Compartilho hoje com vocês de dois poemas da Fernanda Passos( São Luis/Maranhão), do blogue 'Poesia na Veia' (www.pnaveia.blogspot.com), onde a mesma mostra originalidade e vigor. Espero que todos tenham uma ótima leitura.
O DESEJO
O desejo essa luxúria
Ensejo de mais querer
Loucura que não sacia
Fogo que faz arder
O desejo troço louco
Clamor por mais tesão
Mesmo que seja pouco
Aniquila a razão
O desejo coisa insana
Corta a pele de quem ama
Tira os pés do chão
O desejo essa chama
Bota fogo na cama
Vulcão em erupção
DEIXA
gozo gozo gozo
tara de mais querer
querer de mais tesão
tesão de mais viver
viver de te lamber
lamber teu dedão
ah!!
não?!
deixa!
a gueixa quer você
lamber querer viver
tesão dedão gozo
deixa?
depois não se queixa.
por
benechaves às
15:36