O PESADELO
Vi-me de surpresa dentro de um sótão. Comecei a andar com um medo sem igual. Em um dado momento ouvi uma voz parecendo que estava a quilômetros de distância. E a mesma gritava para que eu fosse ao encontro dela. Depois escutava com se fosse um coro. O medo aumentava e queria correr e ficar encolhido no depósito. Era uma dúvida que chegava a arrepiar meu frágil corpo.
Em volta de mim tudo se esfumaçava, os corredores que via tinham o aspecto de uma tarde nebulosa. Ou de uma noite com pálidas luzes. Com o silêncio que se instalara, o local tornou-se algo pra lá de inquietante. Senti, então, que tinham fechado a porta atrás de mim e apagado a tênue iluminação que ainda restava. Nem via mais a pequena garoa anterior. Parecia que estava vivendo uma agitação sem fim.
De repente a voz ressurgiu forte e audível seguida de um coro que assombrava qualquer pessoa sensível. Eu já não suportava tanto barulho naquele pequenino compartimento. Levantei a ponta de um pé e o movi sem quase esperança de fugir dali. Fiz o mesmo com o outro e breve estaria me deslocando sem dificuldade. O coro soou com exaustão e comecei a correr. Pareceu-me que corria ao redor de mim mesmo. Algumas luzes se acenderam e vi, para meu espanto, milhares de pessoas ao meu redor. Perguntei o que desejavam. E assustei-me com a seca resposta.
Ao lado notei algumas grades que se enfileiravam paralelas. Homens e mulheres gritavam desesperados. Eram surrados sem compaixão. Aquelas chicotadas refletiam-se em minhas costas e doíam com a mesma intensidade. Nossos gritos se fundiam e um eco fazia-se ouvir na sua extensão. Mas, o que fiz? E a aflitiva indagação não surtia o menor efeito.
Todos permaneciam sisudos e apenas lambiam os beiços como se estivessem com uma bruta sede. A sede de matar. De súbito senti uma indisposição e um desmaio. Comecei a observar tudo embaçado e múltiplos rostos em cima de mim. Aquelas cabeças aumentavam parecendo mais uma avalanche sem piedade. Gritei e não ouvi o meu grito. Chorei e não vi minhas lágrimas. Nada saía de dentro de mim. Não controlava o meu corpo e nem a alma. Tudo desmoronava naquele minuto.
O sótão dava sinais evidentes de uma inundação. Estava suado, pingos d'água caíam em proporções alarmantes como se uma grossa chuva despencasse lá do alto. Consegui abrir os olhos e surpreendi-me com o absoluto silêncio. Nos corredores apenas as grades vazias e uma fumaça no ar. Nenhum ser vivo ou morto ao redor. Talvez, no exato momento, somente uma passagem interna fantasma. Mas, no canto ao lado vi um vulto se mexendo e caminhar em minha direção. Vai, caminhas para o corredor, disse ele com uma voz prepotente.
O sujeito conseguiu me levar para uma das grades e me trancar na cela. Achei que todos morreriam na ocasião, pois os pingos não paravam de crescer. Ninguém sobreviveria do inesperado infortúnio. E, em segundos, o ambiente se cobriria de uma água que mais dava a aparência de uma lama. Era o fim que eles não esperavam. Tudo se desmanchara sem razão.
No entanto ouvi uma voz longe que aos poucos se aproximava, entrecortada por multidões, corredores, algozes, fantasmas e coros... Alguém me chamava, porém fiquei sem saber se estava acordado ou dormindo. Não conseguia abrir os olhos e nem despertar ou desprender de onde estava. E a vida, por conseguinte, continuou sendo um pesadelo.
ESPAÇO LIVRE
DUAS NOTAS
Escrevi para a Embaixada da Polônia em Brasília para saber qual o primeiro filme sonoro realizado pelo cinema polonês e obtive a resposta seguinte:
1ª) - "Como primeiro filme sonoro considera-se 'Culto do Corpo' (Kult Ciala), de 1929, direção de Michal Waszynski, Polônia-Áustria, filme sonorizado em Viena, mas na Polônia apresentado em versão muda;
- 'Moralidade da sra. Dulska' (Moralnosc pani dulska), de 1930, direção de Boleslaw Newolin, primeiro filme com legendas contendo diálogos registrados em disco gramofônico;
- como primeiro filme no qual o som foi registrado diretamente na fita (registro ótico) pode-se considerar a obra intitulada 'Cada um tenho o direito de amar' (Kazdemu wolno kochac), de 1933, direção de Mieczyslaw Krawiccz e Janusz Warnecki.
Saudações
Setor Cultural da Embaixada do Brasil em Varsóvia
Almir Gonçalves"
2ª) - O nosso amigo Eduardo Gosson avisa que no dia 14 do corrente, ‘Dia da Poesia’, haverá uma palestra do Presidente da FUNCARTE, Dácio Galvão, sobre o POEMA PROCESSO – 40 ANOS, às 16 horas na Livraria AS Livros, que fica na av. Salgado Filho, próximo ao Natal Shopping.
por
benechaves às
09:59