Caminhava vagamente por uma das irregulares ruas de Gupiara. O ambiente entre todos que se agrupavam tornava-se quase sufocante à minha visão. Olhando de longe com um olhar de um inquietante sujeito que desejava continuar a jornada que propus, vi surgir uma ruazinha íngreme em direção ao mar. Observei a densa e longa estrada que parecia não ter fim. Ao passar nas vizinhanças homens e mulheres ficaram alheios aos meus passos incertos em direção ao imaginário. Continuei caminhando e notei, de súbito, uma estrela que faiscava no infinito. Depois se formaram pontos estelares iluminando um céu já azulado. E o mar, aquele imenso mar que se punha à minha frente, enchia-se de uma ardência que me deixava perplexo. As nuvens que dançavam no espaço e estavam à procura (talvez) de um aconchego, dispersaram-se e escureceram procurando algum amparo. Parecia indícios de um temporal. Fiquei infeliz em não apreciar no presente instante aquela famosa lua de Gupiara. E o pequeno intervalo entre meu olhar às estrelas já ocultas e a distância do mar, fazia com que eu muito distraído andasse com o pensamento angustiado me maravilhando com a inesperada paisagem surpreendente.
No interstício daquele momento, vejo uma mulher deitada ao meu lado. Não sei como apareceu ali. Pensei ainda que fosse uma ilusão. Não era. Uma mulher nua, inteiramente como veio ao mundo. Seus seios já volumosos inquietavam-me na úmida areia. O seu sexo era acariciado com os próprios dedos na volúpia de um prazer. Avanço os meus olhos de vívidos interesses em tão desejada beleza e me fascino junto ao seu lado. Eu não podia agüentar visão tão ao acaso e ocaso. Necessitava de algo que me desintegrasse daquele tédio noturno. E a presença daquela linda jovem fez com que nós caminhássemos para o infinito em busca das estrelinhas e, obviamente, do mar.
Despi-me sofregamente e entramos de mãos dadas para a profundeza da obscuridade, o bravo oceano em ondulações talvez a procura de novos habitantes. Eu, com os problemas existenciais que vinham de um pequeno tempo, ela, talvez, em um desespero de um amor destruído. Juntamos nossos elos perdidos e nos convivemos intimamente diante da magnitude universal. E mergulhamos na esperança de renascermos na generosidade de uma vida saudável para todos.
ESPAÇO LIVRE
LACERAÇÃO
A tua voracidade me destrói
e ao vê-la faminta sinto
tuas carnes rasgando meu corpo
na ânsia de um gozo perdido
de amargura e subjetividade
ocasionais no elo efêmero.
E vê-la depois gemendo e
soluçando lágrimas de uma
paixão em desamor sofrido.
A de não tê-la sempre em minhas
já desfeitas compaixões.
Bené Chaves
por
benechaves às
09:43