PALAVRAS QUE INQUIETAM (17)
Falando sobre a existência, Górgias de Leôncio, vivendo no ano 480-375 a.C., foi taxativo e detonou com total descrença: "nada existe; se alguma coisa existisse não a poderíamos conhecer; se a conhecêssemos não a poderíamos manifestar aos outros". Porque, diria depois David Hume, nascido em 1711: "vejam este universo em torno de vocês. Que imensa profusão de seres animados e organizados, sensíveis ou não. Mas examinem um pouco mais de perto essas existências vivas... Como são hostis e destruidoras umas para as outras! Como são insuficientes, tanto quanto são para sua própria felicidade! Quão desprezíveis ou odiosas!". E complementava com intrepidez demonstrando ser " a velhacaria e a idiotice humanas fenômenos tão correntes..."
Porém, enquanto isso, Blaise Pascal, filósofo e escritor francês, nascido em 1623 e vivendo apenas 39 anos, dizia que "a única verdadeira grandeza do homem reside na consciência de seus limites e de suas fraquezas".
E quantos deles não ultrapassam tais confins! Todavia, os ensinamentos estão aí, a vivência humana acarretada de muitos dissabores e poucos sabores. Seria salutar que todos fossem prósperos, embora Albert Camus tivesse afirmado que "as pessoas morrem e não são felizes".
ESPAÇO LIVRE
Na quarta-feira passada, dia 25, o sarau promovido pelo Eduardo Gosson homenageou o Mário César Rasec (autor do livro Apostasia), poeta da nova safra na poesia do Rio Grande do Norte. Estive presente e selecionei o poema abaixo:
ÚLTIMA CEIA
O calor que antecede a chuva
Fez levantar-me na madrugada.
Sons de um mundo distante
Me deixavam um pouco ofegante.
Mas havia algo além na noite que me deixava inquieto.
Em busca de algo escondido nas sombras do vazio.
O silêncio era a constatação de uma ausência maior.
Um ciclope que caminhava pela noite
Afugentando os bons sonhos.
Nada mais restou da última ceia.
A irmandade se dispersou pela madrugada púrpura.
Resta agora aos retardatários
A tarefa de esconder as cinzas.
por
benechaves às
09:11