PALAVRAS QUE INQUIETAM (10)
Þ O poeta e escritor austríaco Ernst Fischer, nascido em 1899 dizia, entre outras coisas, que "em um mundo alienado, no qual unicamente as 'coisas' possuem valor, o homem se torna um objeto entre objetos: o mais impotente, o mais desprezível dos objetos. Eles, os objetos, têm mais força do que os homens".
Em razão disso acrescenta com lucidez: "a arte é necessária para que ele, o homem, se torne capaz de conhecer e mudar o mundo".
Þ Quem nos fala agora é a chinesa Chiang Kai - shek, que nasceu em Xangai no ano de 1899, o mesmo do filósofo anterior. Dizia lá nos seus ensinamentos que "o excesso de riqueza devia pertencer à humanidade... deve haver igualdade entre os povos e as classes... paz e harmonia entre as nações; roupa, alimento e habitação para os indivíduos".
Mas, o que vemos depois de quase um século de vida? Que seu discurso tão apregoado com louvor, parece ter desfalecido na ganância insaciável e na insensatez dos homens. Afinal, concluía: "não sou mística, não sou visionária. Acredito no mundo visto, não no mundo não visto".
Þ Mas, "enquanto a humanidade não se livrar da avareza e da ambição, haverá guerra", já dizia o estadista John Marshall, ao que Charles Sumner(1811/1874) passou a expor a inutilidade da mesma, "sua absoluta incapacidade para decidir a questão do justo e do injusto", dizendo depois que ela "esmaga sob o calcanhar sangrento toda a justiça, toda a felicidade e tudo o que há de divino no homem". Antes disso, Thomas Jefferson, outro estadista americano, já teria acrescentado: "afinal de contas, os ratos têm de proceder como ratos", ilustrando com certa ironia. E o que ele sempre desejou e lutou foi "impedir a acumulação e a perpetuação da riqueza no seio de uma elite", já que "bastava um simples mecanismo para arrancar dinheiro do bolso de um homem e colocá-lo no bolso de outro. São lobos a governar ovelhas". Sabendo também que os homens "sentem o poder e esquecem o direito", idealizou teoricamente que "a vontade da maioria será lei, os direitos da minoria serão protegidos, a justiça será dispensada com eqüidade para todos". Depois, falou com sabedoria e bom senso: "a educação, arroteamento e plantio do pensamento humano, produz o alimento universal do humano progresso". E logo a seguir quedou-se triunfal ante exemplar conceito.
ESPAÇO LIVRE
Abro hoje um espaço para o grande poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, com o seu bonito poema "A Língua Lambe":
A LÍNGUA LAMBE
A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.
E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.
por
benechaves às
08:56