PALAVRAS QUE INQUIETAM (6)
Þ Embora o filósofo e professor Patrick Mullahy, autor do livro Édipo: mito e complexo, tivesse dito que "as relações de ódio constituem não só sentimentos negativos, mas, em geral, impedem a formação de uma emoção de amor ou, pelo menos, sua manifestação", sabe-se que o amor e o ódio andam juntos, coladinhos e paralelos. Exemplos disso já têm sido presenciados em abundância nos homens ou mulheres que declaram suas paixões e depois de certo tempo os papéis se invertem, ou seja: surgem as tragédias entre os amorosos e agora algozes casais. De um afeto que se julgava eterno, o sentimento passa para o desprezo total daquela pessoa em questão.
No clássico Aurora(Sunrise), realização de 1927, o alemão F.W. Murnau conta uma bela história de amor. É um drama sobre o ciúme, onde sua carga de lirismo nos surpreende com visuais criativos e atuais. E aí, então, o filme mostra, de uma maneira realista, a interação existente entre os citados substantivos masculinos. São os dois gêneros de formação emocional, segundo avaliação das teorias de Otto Rank.
Portanto, complementa o próprio Mullahy: "a vida emocional representa a mais poderosa força interior, uma força que é mais influente do que o instinto sexual", dizendo ele, em seguida, que a segunda alternativa é susceptível de ser controlada e satisfeita, enquanto a primeira, ao contrário, é incontrolável e insaciável.
Þ E enquanto alguns acham que a vida é curta demais, sem chance para a felicidade de muitos, inclusive a maioria não vivendo com dignidade, sofrendo desde seu nascimento, com crianças, homens e mulheres passando privações as mais diversas, o filósofo Ralph W. Emerson, nascido em 1803, dizia ser ela "desnecessariamente longa". Não se comovendo com o que ele chamava de "a tolice dos homens", não deu confiança a um dos asseclas que o indagou: - Sr. Emerson, sabe que, hoje à noite, o mundo chegará ao seu fim? Ao que, ironicamente, rebateu: - Alegro-me de ouvi-lo; o homem viverá melhor sem ele.
Outro pensador da mesma época, Herbert Spencer, completava que "a vida do homem, a vida do mundo, é um sonho intermitente entre um sono e outro sono", falando também que "cada um de nós é um composto de duas personalidades: o homem exterior e o interior". Profundo e trágico, Spencer, no entanto, tinha o bom senso de não confiar no Estado( já naqueles tempos existiam fortes interrogações...), cobrando-lhe que se limitasse "a impedir que fosse violada a igualdade de direito de seus membros". Incrível como essas mesmas igualdades são ainda vilipendiadas a cada momento...
E o que George Santayanna - um pouco mais velho do que os dois anteriores - dizia disso tudo? Esclarecia que "as ações dos homens não são livres, mas mecânicas". Na sua negação da força do espírito, observava que não existia uma alma imortal. Acrescentava então: "acreditar numa alma assim é acreditar, simplesmente, em mágica". Era um homem, a exemplo de Voltaire, também paradoxal. Chamando a vida de espetáculo irracional, talvez tivesse razão quando afirmava que, contrariando opiniões ingênuas, "o céu consiste em estar em paz com as coisas".
Na quarta-feira passada, dia 26, o sarau organizado pelo Eduardo Gosson homenageou o poeta natalense Sanderson Negreiros. Estive presente ao evento e de lá pesquei o poema seguinte, que faz parte do livro "Fábula, Fábula"( Edufrn, 1998 - 4ª Edição):
Poesia! Perdição extrema
de anjos. Virtual
espera de relógio
no braço.
Poesia, sem símbolo,
a varrer as épocas. Sem
brilho, de flores pobres.
De águas
cantando o que na água
se constrói: secreto e acanhado.
Poesia! A quem se retorna.
por
benechaves às
14:26