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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
Livros Publicados:
a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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sábado, abril 29, 2006

No meu livro Castelos de Areiamar (1984) tem um conto com o título de Ímpares e Pares. Aliás, são duas histórias contadas seguidamente com as numerações 1, 2, 3 e assim por diante. Desmembrei a dos números ímpares e compartilho com vocês, inclusive colocando um título para a mesma. Posteriormente terei idêntica postura com a de números pares. Evidente que não daria para juntá-las como no original. Tenham um boa leitura.


O ANTES E O DEPOIS


Bem que sua mãe dissera: um menino bonitão e querido. As mocinhas se inquietavam com sua presença. Desde cedo com as manias não sei de quem. Cresceu neste diapasão.
Tartamudeou uma frase mal ouvida e apertou-a contra si. Não a frase e sim a jovem moça que segurou seu braço e evitou uma aproximação mais ousada. Ali, tido como um rapaz conquistador, de vez em vez aparecia e parecia se mostrar. Ajeitava-se sempre ao espelho e ficava quase uma hora alisando o cabelo ensebado na brilhantina. Um narcisista.
- Vamos, deixe de ser boba - puxando a alça frouxa ao ombro.
- Não, não, você tá doido? - a moça enfiando os olhos no chão.
O tempo inteiro lutando, uma angustiada e desesperada batalha se travava entre eles, às vezes chegavam a rolar pelo encerado, vestes rasgadas, violência no aconchego. Ela um tanto difícil, não via muito esse lado, ele um sujeito tipo dom juan, amedrontava uma cidade inteira. As mulheres apavoradas, no bom sentido.
- Que é isso, você não me conhece?
- Conheço sim.
- Então!...
- Também você só pensa nessas coisas...
- História sua, não só penso nisso não.
- Tá bom, tá bom...
Arrumou-se e saiu desconcertada, era muito tarde. Abriu a porta e disse ao pai, me atrasei hoje, um serviço extra apareceu, o velho a olhá-la com o rabo do olho. Subiu e trancou-se no banheiro a lavar-se com sofreguidão, depois deitando na cama a se emaranhar no travesseiro.
O dia seguinte foi sem novidades, um bom-dia pros amigos e sempre o jeitão de rapaz conquistador. Sentou-se numa cadeira e começou a rodar um lápis com os dedos, imaginando-se senhor de atrações. As máquinas, contudo, metralhavam papéis: indignou-se e saiu. "Mulher é sexo", dizia pra si enquanto caminhava a meter os olhos nos corpos femininos e sacudidos. Soltava uma piada e se fazia sisudo olhando sério pra frente. Um sujeito, claro, mulherengo e também gozador.
Seguidamente arranjava uma companheira, diziam ser um furor na cama, já agora com a idade de quarenta e tantos anos. No quarto, uma afeição, uma tapeação. Fora, outra cara, vivendo a tentar seduzir todas as mulheres bonitas do bairro. Quer dizer: era de mão cheia. Não deixava passar uma. Mas, com o passar do tempo, o seu domjuanismo foi sumindo, perdia conquistas, não sustentava dias seguidos, três por semana. E olhe lá, nem tanto. Ficava enfurecido com tal situação. Saiu cedo de casa e sentou-se num banco do jardim público. Parecia chateado a bater com a mão na tábua. A idade lhe batendo no rosto.
- Oi, que que há, esperando alguém?
- Opa!, Você por aqui?
- Ia passando, coincidência, não? - e a mulher alisou o cabelo.
- Tá apressada? Senta... - disse ele amaciando o queixo.
- Você, o que anda fazendo? - sentou-se distante dele.
- Na mesma vidinha de sempre, uma aqui, outra ali...
- Uma aqui o quê?
- Mulher, ora! - e tentou aproximar-se.
- Bem, acho que já vou...
- Tão cedo assim?
- Mamãe me espera pra umas compras, até outra vez.
Ficou de olho grudado no traseiro da moça e no final viu uma pequena bola circulando seu globo ocular. Reconheceu-se um pouco velho, as mulheres enjeitando sua fisionomia meio enrugada, ele sozinho lembrando com tristeza a vida de outrora. Vidona boa, potente! Sem resguardos. Resolveu ir pra casa, entrou e foi pro aposento. Quando menos esperou olhou-se no espelho e estava de cabelos brancos: assustou-se. Virou para o lado e se deixou cair na cama com lassidão.
Vez ou outra, porém, não esmorecia, conquistava com a lábia atrevida alguma mulher que surgisse. Uma noite saiu com uma de fazer inveja aos jovens, inclusive a mim também. Estava ele a olhar uns rapazes nalguma manifestação quando notou alguém aproximar-se:
- Olá velhote, tudo bem?
- Ah!, oh!, quem é? Mais ou menos, mais ou menos.
Diante daquela bela jovem ao seu lado, levou-a para casa. Tinha feito no dia anterior oitenta anos bem vividos. E jurou consigo mesmo: homem que é homem morre de pau duro. Talvez a mulher quisesse fantasiar algo com ele, parecia disposta, o mesmo a deitar-se nu e suspirando de contentamento, o coração disparando. Deu um fungado rouco e longo, adormecendo em cima da jovem rapariga. Não suportou imensa emoção. Então, jogou-o de lado e tentou reanimá-lo. Gritou desesperada. Ele ali, estirado na cama, com o possuído ereto. Teria dito horas antes balbuciando para si: "Morro, mas morro satisfeito".
No velório algumas pessoas riam diante de uma saliência dentre suas pernas.
Bené Chaves

por benechaves às 08:14