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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
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a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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domingo, março 19, 2006

NOS TEMPOS DA INFÂNCIA

Na Gupiara de minha infância não tive maiores problemas, acredito que os obstáculos foram transpostos com serenidade e dentro do que se esperava acontecer. Como sucedia, claro, com a maioria das boas famílias de então. Supus ter iniciado os primeiros passos com menos de um ano e nos meses indicados feitos os desjejuns necessários com o leite materno. Lembram-se do que dizia a parteira? Aquele ali vai ser um menino de belo porte, falava a mesma para os curiosos de plantão. Se tive uma criação com carinho não sei bem, mas tudo levou a crer que não reclamara ou objetara . Dissera, inclusive, que preferiria não ter sido gerado. Mas, como já tinha nascido que me deixasse ser conduzido. E a rima surgia aí como uma primeira instância do momento. Dali poderia sair, quem sabe, um grande futuro. Ou, então, um enorme fracasso. O prosseguimento das facetas que teriam a possibilidade de sobrevir, ser-me-ia, talvez, o ponto fundamental a determinar o elo de minha existência. Deveriam caber, sobretudo, as dúvidas quanto a um pior ou melhor relacionamento com todos. E, partindo dessa premissa, poder eu dimensionar, desde cedo, as diretrizes do modo de ser ou viver, sabendo-se de minha inclinação para tentar modificar conjunturas estranhas e simuladas.

Lembrava, embora longinquamente e com uma visão dificultada, como fora aqueles dias infantis na casa de Painhô e Mainhô, como a tranqüila Gupiara despertava os desejos dos que diziam amá-la. Era uma cidade larga, de ruas esboçadas, contínuas e abertas, as avenidas contornadas de belas e frondosas árvores. Nos canteiros não se viam pedintes menores e nem famílias flageladas, seus traços seriam demarcados e perfilavam-se com harmonia. Numa imaginação culinária diria que se podia degustá-la com facilidade e sem o medo de algum engasgo. E saber, em conseqüência e de antemão, que sua índole e sabor não iriam fazer mal a nenhum de seus habitantes. Como não existia, ainda, a possibilidade de poluição e asfixia, presumia-se que a fumaça saísse timidamente do seu miolo e não indicasse uma futura e imprevisível feiúra. E a não agitada população parecia feliz com tudo, mesmo porque sentia um início e rasgo de esperança. Seria uma suposta alegria o princípio daquela suposta pacata cidade. Um esboço sem mistura... Também sem insensibilidade.

Mas, nem só de contentamento se deve enfrentar a razão da existência. O prazer e deleite seriam certamente efêmeros. E as dificuldades iriam aparecendo quase duradouras, em proporções que chegavam a assustar a maioria. Disso tínhamos consciência, batidas que foram as teclas várias vezes. Além do mais, o próprio condicionamento humano trazia resultados infelizes porque se eximia com irresponsabilidade dos deveres que lhes eram peculiares. Diante da plêiade de circunstâncias eu crescia. E também crescia Gupiara. No mesmo período que vi suas feições mudarem não me dei conta das transformações que iam ocorrendo, daí causando uma surpresa quando a presenciei inchar-se aos poucos. Diria que, num quase piscar de olhos, exagerando, estaria a cidade ficando presunçosa e alheia aos interesses que tanto desejei. A rivalidade ia cercando os seus encantos de outrora, deixando-a com um pronunciado e ambicioso preço.

ESPAÇO LIVRE
Mais uma vez a presença do amigo e poeta Eduardo Gosson. O seu livro 'Poemas das Impossibilidades' deve sair ainda neste semestre. Vamos lê-lo, portanto:




CANÇÃO DESESPERADA DO LÍBANO



Bombas explodem
no Líbano
matando a Vida

Crianças já não
pastoreiam...
não se pode colher
lindas maçãs
nem ouvir
o sussurro
dos ventos que sopram
do deserto

Os vinhedos
secaram
A voz do poeta
Kalil Gibran
emudeceu

Bombas explodem
no Líbano...








por benechaves às 12:00