Quando namorava Alba (lembram-se dela, com aquele short curtinho, a despertar meus desejos inibidos, em plena efervescência de um passado de glórias em Gupiara?), ainda numa talvez pré-adolescência, meus quatorze anos e minha inquietude a todo vapor, apaixonei-me também pela bela atriz Kim Novak. E a razão disso tudo foi ter ido assistir Férias de Amor, quando, então, fiquei encantado com sua beleza. Aliás, eu serei sempre encantado com a formosura de uma mulher, pois, com certeza, ela despertará deslumbramento numa primeira visão. Portanto, foi o que me aconteceu. Paralelamente tinha duas beldades distintas naquele início e mesmo fim de uma puberdade. Um amor platônico, uma inexperiência de uma vida, bobo ainda que era na minha efemeridade. O outro nem tanto assim... Que a Alba, portanto, me perdoasse. Não poderia deixar de lado aquela inicial fantasia, mesmo que não pudesse tocá-la, mesmo que apenas pudesse imaginá-la. E teria, a partir daquele momento, uma morena e uma loira, dois inigualáveis estados de espírito.
Contudo, desde a primeira vez que assisti ao filme Férias de amor (Picnic) quis logo tomar o lugar do ator William Holden e me transformar no andarilho que chega naquela pequena cidade do Kansas a despertar a libido adormecida da atriz. E como eu queria ter dançado com Kim Novak a famosa dança ao som de "Moonglow"! E como eu queria tê-la abraçado e beijado! Claro que fiquei com uma louca inveja de apenas presenciar tudo. A partir de então comecei a me interessar no que dizia respeito ou se relacionasse com a mesma. Sem despistar, lógico, minha morena Alba e depois outras que surgiriam. Mas, a paixão verdadeira e que morava muito distante não poderia jamais esquecer. Nada me impediu de ver algo de diferente na ainda jovem atriz, alguns bons anos mais velha do que eu. E na minha fase pubescente e encantatória floresceu o inesperado sentimento enquanto ela desfilou sua exuberância nas telas dos cinemas. Infelizmente contrariado devido sua transitoriedade, tanto a da bela mulher como também das salas exibidoras.
A grande frustração, no entanto, seria quando encarava a realidade. A infeliz realidade de que a mesma jamais saberia minha identidade e existência. Menos ainda do ardente desejo. Era uma tristeza o meu anonimato. E a solução, em parte, vê-la em seus filmes. Nada mais restaria. A não ser vivenciar o seu rosto encoberto de uma vasta cabeleira, num misto de ruiva, loira e às vezes morena (como em Um corpo que Cai, onde ela encantou nas duas feições). Não soube, todavia, o que me deslumbrou com maior intensidade: se o cabelo escuro ou de outra cor qualquer. Talvez gostasse dela em situações diversas, na mesclagem multicolor em que aparecesse. Parecia-me disposto a sublimar o recente sentimento. Porém, a mistura policômica do cabelo e o par de coxas de formas arredondadas, me despertaram, apesar da transparência, um equívoco. E, evidente que sim, sabia que nada dali era palpável, sobrando somente as réstias temporárias de um ilusão. Aqui, uma outra (doce) ilusão. Aceitá-la na sua forma de ser: invisível quanto a um suposto envolvimento.
ESPAÇO LIVRE
O MELHOR DO MUSICAL NO CINEMA
Entre 14 admiradores da chamada 'sétima-arte' a Tribuna do Norte publicava, no dia 11 de setembro de 1994, os seus 'melhores musicais'. Interessante notar que os dois primeiros colocados foram realizados a quatro mãos. Eis, portanto, a 'seleção das seleções', inclusive com a pontuação final.
1. Cantando na Chuva (Donen & Kelly, 52) - 82 pts.
2. Amor Sublime Amor (Wise & Robbins, 61) - 68 pts.
3. Sinfonia em Paris (Vincente Minnelli, 51) - 55 pts.
4. Help! (Richard Lester, 65) - 31 pts.
5. Cabaret (Bob Fosse, 72) - 30 pts.
6. O Baile (Ettore Scola, 83) - 29 pts.
7. My fair Lady (George Cukor, 64) - 28 pts.
8. Hair (Milos Forman, 79) - 26 pts.
9. Sete Noivas para Sete Irmãos (Stanley Donen, 54) - 23 pts
10. Meias de Seda (Rouben Mamoulian, 57) - 22 pts.
por
benechaves às
15:44