Diante do que ocorrera e do lindo sonho que tivera com a belíssima Kim Novak (sonho que me deixa até hoje suspirando), decepcionei-me quando vi uma realidade diferente. E dizia para mim: não aconteceria, claro, se fosse verdade. Fiquei ainda meio deitado na velha poltrona e fechei os olhos. Pareceu-me desejar outro contentamento, embora o ambiente já não o permitisse. Porém, em outra circunstância, no escurinho do mesmo cinema, vi verdadeiras aberrações. Eram casais indiferentes e jovens ociosos iniciando cenas picantes que iam de encontro ao levado à tela, numa demonstração inequívoca e inarrável à sensibilidade do espectador atento. Ficava, então, admirado de tais ocorrências inusitadas porque as presenciava bem pertinho de onde estava. E chegava a conclusão de que tudo podia acontecer dentro daqueles dois pequenos mundos. Fatos e também atos. De uma simples insistência e aproximação a uma pretensão maior de realizações sérias. Como também fora das telas e do pequeno espaço discorrido a vida poderia imitar a arte, a recíproca dispunha, evidente que sim, de um mesmo acontecimento. Era no caso de quando aconteciam supostos crimes e não se sabia ao certo quem seria o culpado. Inventavam um bode expiatório para a encenação. Seriam dois lados distintos com igual ocorrência.
Creio que não cheguei a nenhuma conclusão acerca da disparidade entre um fato verdadeiro que a vida obrigava a aceitar e o que acontecia em uma sala de projeção. Eram situações opostas, mas que poderiam ter acesso ou realizar-se no transcurso da existência. Não fazia muita diferença o que se relatava e o que se materializava, julgo apenas no que dizia respeito ao lado fantasioso da questão. Se em um filme você pode imaginar algo que nunca aparentemente iria acontecer, na vida real, claro, não existe o termo inverídico, pois tudo foi ou deve ser definido. E diante deste amálgama e das circunstâncias, ficava eu espantado e era levado a crer que o imaginário somava-se ao autêntico e marcava daí a fecundidade humana. Os acontecimentos, então, me ficavam familiares e pude me aproximar ou ter certeza de que se vivia numa rivalidade de valores.
O eterno duelo entre homens e mulheres (apesar de dizerem que se amam, embora também se odeiem), entre o doar e o receber, concluí, justapunha-se também ao mencionado aqui, ou seja, a uma miscelânea entre o fictício versus o verdadeiro. Assim era a vida, assim éramos nós. Era. Éramos. Somos. As disputas, portanto, se firmavam e se revelavam nos questionamentos alevantados. E como um tanto de nossa existência, Gupiara tinha a sina também de ser meio paradoxal. Entre outras referências, embora fosse uma cidade de porte pequeno, possuía cinco cinemas, número mais do que suficiente para sua proporcionalidade de então. Porém, contrariando o senso comum, ela aos poucos foi revertendo uma posição privilegiada, pois enquanto a cidade crescia, invertia e decrescia seu estado anterior, acarretando outra mudança para pior. E nós que vivíamos melhor naquela época de ouro aproveitamos sua instantânea oportunidade. Ah, Gupiara de meus amores! Você foi. Atualmente não é. Amanhã ninguém saberá quem seja.
ESPAÇO LIVRE
O MELHOR DO POLICIAL NO CINEMA
No dia 05 de fevereiro de 1995 a Tribuna do Norte publicava uma listagem dos 'melhores policiais do cinema' dentre 15 pessoas ligadas à sétima-arte. Eis, portanto, a relação final, a chamada 'seleção das seleções':
1. Um Corpo que Cai (Alfred Hitchcock, 58)
2. A Marca da Maldade (Orson Welles, 58)
3. M - O Vampiro de Dusseldorf (Fritz Lang, 31)
4. Acossado (Jean-Luc Godard, 59)
5. Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita (Elio Petri, 70)
6. Testemunha de Acusação (Billy Wilder, 58)
7. Festim Diabólico (Alfred Hitchcock, 48)
8. O Sol por Testemunha (René Clément, 59)
9. O Terceiro Homem (Carol Reed, 49)
10. Janela Indiscreta (Alfred Hitchcock, 54)
11. Chinatown (Roman Polanski, 74)
por
benechaves às
11:52