A historinha contada pela minha bisavó estava sendo reexaminada para ilustrar o quanto ela era versada nessas causas. Tal relato e outros também, dona Nonoca jurara à minha mãe que seriam verdadeiros. Mas, se fossem ou não, nunca se haveria de saber, apenas que ainda andam de boca em boca percorrendo o mundo. Claro que no intuito de abarcar opiniões diversas entre as raças e suas miscigenações. Portanto, a curiosidade ficaria para a descendência... E o que não era nossa descendência senão os filhos que seriam criados e que iriam avivar estórias (ou histórias) como essa? Ademais se sabia que narrativas assim serviam, sem dúvida, para enaltecer aptidões no futuro, pois o meu e o seu amadurecimento juntos trariam fatores indissolúveis para uma melhor compreensão de tudo, inclusive somando-se aí os gostos e desgostos da existência. Poder-se-ia dizer, então, que de fatos miúdos é que brotavam grandes abundâncias, isto é, de acontecimentos simples nasciam feitos memoráveis. E dizia ela: é a experiência, meu filho, é a experiência...
O dia seguinte amanhecera normal, nuvens ativas cobriam pouco a pouco um céu azulado, de cor infinita. Não sei a razão, mas o fato é que comecei a lamentar as intempéries da vida, talvez devido a toda uma embrulhada da realidade, de situações precárias que alguns sobreviviam e não poderiam habitar-se com dignidade. Dei um grito longo e fugi do resultado com brusquidão. Seguiram-se horas e horas de angústia e desespero, não sabia o que fazer, apenas meditava com impaciência. Conhecia, sim, ou supunha ter noção, do inevitável e imprevisto destino de todos nós. E suas condoídas disparidades na atividade diária. Era um substantivo feminino que requeria muito suor. Lembrei-me, então, de quando era pequeno, tendo certeza de um dia crescer e enfrentar tamanhos desatinos. Magicamente via e precocemente luzia. Talvez ficasse, quem sabe, à mercê de imposições geradas pelas circunstâncias da própria vida. Ou me libertasse quanto a uma possível e duvidosa profecia. Tais ou quais possibilidades só seriam admitidas com o caminhar, claro, das situações. Seria uma peleja no escuro ou uma esperança demorada. E, depois, poder-se-ia evidenciar qualquer desfecho. Bom ou ruim.
Não contei ainda como conheci aquela com quem iria casar, mas acho que foi numa dessas ocasionalidades e surpresas que a vida proporciona. Ou será que nada é por acaso? Parti, em conseqüência, para mais uma suposta conquista, eu, que vivia uma pós-adolescência existencial. (Lia muito neste período de afluentes discordâncias e fluentes concordâncias). E tendo receptividade da parte oposta iniciei o namoro desejando maior intimidade em lances que pudessem acontecer. Como não consegui êxitos e resultados finais, terminei me apaixonando.(Na época, não era tão fácil uma sedução, você tinha de ter respeito para merecer confiança. Só então arriscaria uma investida quando superassem os duvidosos momentos. E nenhuma provocação seria possível se não houvesse harmonia da parte contrária. No meu caso não tive a sina de um ataque bem sucedido, já que a companheira sempre exibia resistência dobrada. Azar meu e sorte dela? Ou o inverso?). E depois de alguns anos tive mesmo de casar.
ESPAÇO LIVRE
FATALIDADE
Diante da ilusão
deitou-se em gemidos
na noite borrifada.
A paixão/dor como feitiço
cruel, dilacerante.
E a morte carregando-a
ao surgir da escuridão
na opalescência leitosa
e cinzenta.
Era o dolente fado de
morrer por afeição nos
sortilégios de uma
inusitada vida.
Bené Chaves
por
benechaves às
15:45