Sabia, outrossim, que uma crença ou convicção não seria meu ponto fraco. Meio alheio e descrente de algo que se fazia inacessível, poder-se-ia dizer que eu era uma pessoa agnóstica. Mas, se poucos tinham um resquício de fé e muitos o tinham inabalável, outros mais ficariam indiferentes quando alguém tentava persuadi-los. Embora, de um modo geral, fosse bom mesmo que uma religião qualquer conseguisse o intento de estabelecer um travão naquelas pessoas de ódio e violência incontidos. Deplorava, contudo, o fanatismo e já sabido oportunismo de doutrinas que apenas serviam para alienar mais ainda a pouca educação e instrução de um povo. Acomodação feita, lógico, na base da ingenuidade e falta de conhecimento dos ludibriados. Afinal ninguém pode elevar o nome de outro, seja através de interesses próprios ou finalidades suspeitas. Muito menos quando se envolvem cobiça e grana no episódio e que esta palavra tenha sido apenas (hipoteticamente) criada.
Porém, repasso tudo e me lembro agora do amigo morto Valdeci quando jovem e de nossas farras etílicas que madrugavam.Lá pras tantas (e com outras pessoas) a gente ia esperar na praia o dia amanhecer e olhar o sol surgindo dentre cerros clareando o horizonte. Tinha-se, então, uma visão belíssima e que absorvia a ressaca braba que nos atacava. Uns mais descontraídos gostavam mesmo era do banho em plena madrugada. Ficavam nus e iam molhar seus corpos nas ondas a invadir nossas ilusões dentro de um infinito e misterioso mar. Depois todos subiam para a parte alta da cidade a beber café com cuscuz e tapioca no mercado das imediações, a cerveja já sossegada no organismo. E chegava-se em casa com o dia raiando, também tendo-se o máximo de cuidado em não acordar os que ainda dormiam um sono inocente.
No litoral deserto de Gupiara causando brandura e uma sensação de paz, ali nas cercanias, estavam alguns dormindo, outros acordando logo cedinho e dilatando o dia pela sobrevivência. Esta luta constrangida e áspera que para alguns de nós era continuar a existir... Ou inexistir? E que para o jovem ainda Valdeci e outros tantos tiveram a segunda alternativa. Sei somente que cada um cumpria seu rumo, destino ou ranço, procurando um ideal que lhe desse contentamento ou não. Assim era a vida de todos nós, os percalços ou enlevos que iriam trilhar nossos caminhos.
Aliás, ilustro aqui uma inusitada aventura de meu primo. Lembram-se dele? Não chegou a casar com a Mirtô, acho que ela cansou de suas tramas e famas. Pois bem! Fugiu da cidade onde estudava para se formar em Engenharia (o sonho de seu pai), voltou a Gupiara e raptou do Orfanato uma donzela, bem, nem sei se ainda a Zélia era tal... Mas, levou-a para uma praia distante numa casa sem conforto nenhum e quando estavam lá no sarrinho gostoso em cima de uma rede, a mesma partiu-se deixando os dois ridiculamente no chão. Aí os coitados tiveram de rir e gozar no seco, talvez nem isso, depois de uma bela e doída queda. Terminaram se casando pela força das circunstâncias. Não foi um vexame seguido de um transitório enlaçamento?
Meu primo com quem vivi momentos inesquecíveis da juventude, lembranças que me tocam e me fazem emocionar, partiu (precocemente) já para a eternidade ou coisa que o valha. Mesmo sempre descontraído e brincalhão, seu coração não suportou as mazelas desta vida. E comigo ficaram somente as saudades de um bom período que passamos e farreamos juntos a nos deliciar e divertir nos áureos tempos de nossa ainda pacata cidade. Era, portanto, outra ilusão na trajetória diversificada da existência.
ESPAÇO LIVRE
O MELHOR DO GANGSTER NO CINEMA
No dia 20 de novembro de 1994 o jornalista Valério Andrade, do jornal Tribuna do Norte faria uma pesquisa para sabermos quais os melhores filmes sobre o gangster no cinema. Participaram onze pessoas ligadas à chamada sétima-arte, inclusive eu e dois amigos que têm também uma página na internet: o Francisco Sobreira (do www.luzesdacidade.blogspot.com ) e o Moacy Cirne (do www.balaiovermelho.blogger.com.br/ ). Daremos aqui somente o resultado final:
1. O Poderoso Chefão (Francis Ford Coppola, 72)
2. Segredo das Jóias (John Huston, 50)
3. Relíquia Macabra (John Huston, 41)
4. Scarface - a vergonha de uma nação (Howard Hawks,32)
5. Rififi (Jules Dassin, 56)
6. Fúria Sanguinária (Raoul Walsh)
7. Era uma vez na América (Sérgio Leone, 84)
8. Um Preço para cada Crime (Bretaigne Windust, 51)
9. Bonnie and Clyde / Uma rajada de balas (Arthur Penn,67)
10. Anjos de Cara Suja (Michael Curtiz, 38)
Bené Chaves
por
benechaves às
18:05