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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
Livros Publicados:
a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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segunda-feira, novembro 28, 2005

QUADRAGÉSIMOS ALUMBRAMENTOS


Segui, então, as metas fixadas e firmadas, tudo ficou depois sombrio e difícil, pois Gupiara ressentia-se de uma inércia com maior intensidade diante de si. A população, como sempre, continuava na mesmice e no abandono. Tinha de encarar verdadeiros vilões que se apoderavam dela, fossem para atos enganosos ou então sacudir e engarfar suas pretensões, diga-se de passagem, agora menos fáceis e já tapeadas continuamente. O meu recém namoro também se fixava e se aconchegava, enaltecendo ainda mais minha postura quanto a um relacionamento sério. Portanto, nada ou quase a dizer sobre o mesmo, deixei-o seguir os seus rumos naturais e rotineiros. Pareceu-me que chegara a hora de uma mudança radical no quesito amoroso, depois de algumas sacudidelas em que envolvera os meus sentimentos.

Terminei o curso superior e recebi o diploma, tendo meus pais como um incentivo maior na batalha para tal. Mas, sempre fui um menino e rapaz estudioso, modéstia à parte. Era mais um filho a se formar dentre tantos outros que lutavam pela futura (e por que não imediata?) sobrevivência. Dali, com certeza, iria me casar e ter os rebentos necessários para a continuação de uma espécie, no caso, da minha qualidade humana. Seria uma árdua tarefa, porém teria de dar seu seguimento, pois todos o faziam, queriam e desejavam. Era uma seqüência dilatada e também dilacerada dos seres viventes. E o que fazer depois com um bando de gente solta e a maioria sem rumo pelo mundo afora? Cada cérebro um enigma, cada corpo uma função e cada existência outra ilusão. Deveria aqui perguntar: pode uma árvore dar bons frutos e depois deixá-los cair sem uma colheita especial? Dependendo do tratamento que se daria ao vegetal, as conseqüências poderiam ser desastrosas ou não. Tive consciência, a partir daí, de colocar adubos que pudessem florescer cada vez mais os arvoredos futuros.

Lembrei-me de uma história que minha mãe contara de seus avós. E lá dizia ela: "meu filho, pai Inacinho tinha uma saúde de ferro, ninguém nunca imaginou que ele fosse embora no dia de inteirar oitenta anos. Mas, tudo se deu ao contrário, era a vida e seus avessos. Pois bem! Sua mulher Nonoca, apesar de também não ter condições para festinhas, já beirando anos no lombo e dizendo-se cansada de tantos arremates, teria decidido, porém, fazer um bolo para o marido. Contratou uma especializada na culinária e preparou a surpresa para seu velho... Mas, diante do inditoso acontecido e vendo-se ao lado do corpo inerte do companheiro, ela, com a mesma verve que lhe fora peculiar nos anos sacudidos e divididos, não teve outra alternativa senão exclamar: 'não acredito meu Deus, mas que astúcia essa do Inacinho, inventar de morrer logo hoje!'. E deixou a sala sorrateiramente se enfurnando dentro de um quarto a lamentar triste desfecho. Como se alguém, meu filho, fosse capaz de inventar sua própria morte. Essa minha avó tinha cada uma!... Que astúcia!".

Sei que tal história não tem muito ou quase nada a ver com o que dizia anteriormente, apenas me lembrei pelo medo que invadiu meu corpo. O medo de saber da vulnerabilidade de todos nós, de uma ilusão aberta de nossa existência. Saber que em um dado momento qualquer, tudo se esvai e dilui. E também servindo para deixar inscrito às gerações futuras que é uma história viva de humor, talvez negro, mas bem realista. Inclusive auxiliando, óbvio, como um hiato à nossa narrativa.

ESPAÇO LIVRE


EXCLAMAÇÃO


Na aridez de teu rosto
meditas infeliz as vãs
sinuosidades do tempo.

Tempo do não-amor
da não-invenção, tempo
de desespero e dor.

E gritas com amargura
clamando a razão eterna.


Bené Chaves

por benechaves às 11:29