As moças de Gupiara, ainda encabuladas, acredito que sim, mas cheias de sedução, levantavam as mãos até a face e simbolizavam enternecimento ou timidez, a música solta tentando desinibir seus desejos. Então, quando um jovem as encarava, elas fingiam contração e encenavam, parecendo serem boas atrizes, abaixando suas cabeças e enfiando-as dentro das largas saias compridas. Depois, subitamente arrependidas, erguiam as mesmas e enfrentavam o também tímido mancebo ainda as esperando silencioso e sôfrego. Os outros, vendo tão aguardada cena, acudiam rápidos e logo a seguir todos estavam emparelhados com as ditas donzelas. Elas tinham sido derrotadas na presente competição. E, simplesmente, naquela deliciosa peleja, se deixavam entregar, óbvio, no bom sentido. Aí, portanto, ocorria a junção dos corpos com brandos escorregos e requebros melodiosos... O salão era uma festa só, com os casais já todos desinibidos a desatarem seus ímpetos anseios no intuito de conseguirem os pares pretendidos.
Assim eram as meninas-moças de uma época que se foi, como da mesma forma os rapazes. Desse modo não são mais as ditas meninas-moças e os jovens atualmente. E também os homens e as mulheres de um modo geral, pois as situações se modificaram e os rumos tomaram novos prumos. Apagaram-se as supostas inocências e acenderam-se as não supostas libertinagens, na acepção própria da palavra. Tudo eclodiu, foi embora, bons anos que somente hão de ficar como uma saudade e outra ilusão. E com aquele gesto ingênuo, (quase) proibitivo, lógico, uma sensualidade que despertou um calor veemente e a libido da juventude. De nossa juventude. As facilidades atuais e também mercantilistas tiraram muito de um glamour existente no período. O da não fácil conquista, arrebatamento, sedução... Era a nossa insuflação de momento.
Sem dúvida que os rapazes (e eu no meio deles, claro) fingiam não adorar, mas depois se encantavam dos trejeitos meio maliciosos, sutis e aparentemente inocentes das púberes mocinhas. E elas também não ficavam atrás nas metas determinadas. Tudo, então, seria o fim de mais uma década que celebrava uma talvez e doce candura. As coincidências da vida, seus encontros e desencontros fizeram-me entender um pouco de cada ser humano, suas vicissitudes e anseios. Foram conhecimentos adquiridos no curso de uma ainda curta existência, porém desejando criar e posteriormente colher frutos sadios para a continuidade da mesma. Ou, quem sabe, poderiam ser, além disso, raízes de uma casual e antepassada circunstância.
Algumas pessoas ficaram alheias a um convívio salutar e isso se deveu, talvez, até pela falta de uma vivência direcionada para tal fim, como a estímulos estilhaçados e outras ocasionalidades evidenciadas no fluxo de uma vida. E pode ter sido também por uma índole que já viesse anos inimagináveis com sua rudeza secular.
ESPAÇO LIVRE
PRINCÍPIO
Na aurora cinzenta e fria
de um crepúsculo existencial
a morte a nos perseguir
e a velhice intolerável a vir
em ventres formados e deformados
úteros e cavidades envaidecidos
vomitando seres inocentes
no vazio de uma vida.
Entre um oposto e outro
a esperança efêmera
de uma ocasionalidade perdida.
Bené Chaves
por
benechaves às
20:33