Depois dos acontecimentos e desfechos amorosos volto-me para o colégio e suas atividades estudantis. Fundei, juntamente e com a aquiescência de alguns amigos, uma espécie de agremiação para debates e ajuntamento de opiniões, onde discutíamos, inclusive, principalmente sobre cinema, essa maravilhosa arte da magia que encanta a todos. Ou a quase. E parece-me que a finalidade precípua era estudar matérias e livros relacionados com aquele mundo mágico.Seriam, posso assim dizer, os passos iniciais de um aprendizado. Também aproveitando a boa vontade dos diretores do colégio, abrimos espaços, nos sábados à noite, no auditório local, onde passamos a exibir filmes que julgávamos importantes para uma iniciação cinematográfica. E, evidentemente, os que estariam disponíveis, visto que ainda era difícil uma programação satisfatória para estes lados de cá de nossa ainda querida Gupiara.
E foi aí, nesta pequena sala de reuniões de pais dos alunos que nós éramos, que continuei junto com amigos a ver algumas fitas de valores indiscutíveis, na minha condição, claro, de jovem ainda inexperiente. Foi aí que vi pela primeira vez um filme que me encantou bastante e creio que também à platéia presente ao local. Quando terminou a última cena de Umberto D, todos se levantaram e bateram palmas, acho que foi uma opinião unânime sobre a película de Vittorio De Sica abordando o neo-realismo italiano. E outras exibições aconteceram no período, lógico que nem sempre de boa qualidade, visto a enorme dificuldade de se trazer obras-primas naquele comecinho de nossas atividades estudantis. (Em outro capítulo falarei ainda sobre tal assunto). Portanto, dali surgia ou prolongava-se o início de uma outra paixão. Uma paixão diferente, pela arte cinematográfica, que às vezes imitava a vida ou vice-versa.
Então, mãos à obra... Na classe onde estudava, esboçava e divulgava um jornal-mural com notícias variadas, brincadeiras ou orientação sobre assuntos pertinentes aos colegas. E semanalmente eram expostas, na frente da mesma, também aquelas crônicas ditas como fundamentais para um melhor conhecimento. Lógico que eu me fazia acreditar feliz, pensava em um mundo melhor, talvez fosse um idealista a dar minha modesta e útil contribuição. Conluiado com outros, óbvio, inventariava meu desejo de mudança e invulnerabilidade.
Assim tentava me definir como um sujeito pacato e voltado para a normalidade e maturidade, adentrando em situações que se diziam instáveis e adequando para que se tornassem sólidas. Tive toda uma vida de bons costumes e sabia, desde muito cedo, que seria preciso lutar contra o que restou das cavernas, daquela brutidão e brusquidão, de homens hipócritas e desonestos, de uma ancestralidade desconhecida, talvez vulgar. E como eu pensava e idealizava muita coisa na pós-puberdade, uma idade que você raciocina querer transformar o mundo, ficava com meus conceitos teóricos para uma possível modificação de tudo.
Porém, foi mais outra ilusão que verifiquei depois de algum tempo. Poder-se-ia, então, dizer que era o progresso junto com o egoísmo e individualismo continuando no seu firme objetivo de impulsionar maiores problemas sociais e motivando também a indiferença. E isso se deve as muitas exceções do ser (dito) humano que se julga com o direito de barganhar suas ações ilicitamente.
ESPAÇO LIVRE
TIRANIA
O povo é um ovo.
Quebradiço
redundante.
Na esperteza
estrutura
do sujo poder.
E o poder pode
acalenta garras
dolosas.
A irrupção de
forte domínio.
O ovo na
visão
cisão.
Bené Chaves
por
benechaves às
12:18