Meu namoro com Rosilda terminou sendo um rabisco amoroso de limitadas pretensões. Embora também reconheça que foi a melhor de todas as anteriores, notadamente no quesito referente a um relacionamento sexual. Só aquela ida à praia mostrando seus atributos físicos e os banhos demorados em pleno mar revelaram-me um enorme prazer. Talvez isso se deva à sua idade já em boa efervescência pós-juvenil. E tentando pôr um fim aos questionamentos de sua vida iniciada parece-me com precocidade. Acho que ela era avançada para a época, não ligando muito aos apelos de seus pais para coibir, segundo eles, tais abusos.
Gostava de ler e tinha uma certa sensibilidade do que acontecia ao seu redor, achando, inclusive, que tudo estava errado. Às vezes discutíamos aspectos relacionados à nossa existência. Sendo uma garota inteligente, creio que seguiu um belo caminho nas suas sempre contestatórias ações. Nunca mais a vi e fico aqui com enormes saudades daquele tempo, um período que sei jamais voltará. E ela sabia, pensava assim, que poderíamos ter sucesso na nossa prematura ligação afetiva, mas sua meta principal seria a independência que começava a clarear naquela altura.
Tenho consciência da infalibilidade e sedução das mulheres. Elas ditavam (e ainda ditam) se queriam esse ou aquele homem, a iniciativa partia do encanto ou tesão que sentiam. E, diante disso, era verdade que as próprias detinham o poder da conquista. Diferente de alguns homens ditos públicos, naturais ou não de Gupiara, que possuíam mais o poder da corrupção. Estava aí, portanto, um dos grandes contrastes entre os lados evidentes e opostos, suas rivalidades de decisões. Contudo, poderia também se dar o inverso, no caso da capacidade de barganha ou persuasão.
Porém, quanto ao aspecto sentimental, bastava um simples olhar de desejo e os chamados machões caíam nas suas armadilhas, principalmente daquelas lindas mulheres. Apenas com um piscar de soslaio e um sorriso nem tanto sincero, faziam os homens declararem seus ímpetos apetites. Já a recíproca, infelizmente, não era verdadeira, a inversão, pouco provável. E eu estava atento a tais acontecimentos, pois tivera experiências, apesar de poucas, nada salutares. Claro que gostei delas todas. Reviveria, sem titubear, novas ocorrências. O conjunto de transformações de um ser de ter e de suceder fazia meu momento.
O sol já não batia tão forte em Gupiara. As fumaças que subiam junto com manchas escuras de fábricas recém chegadas, poluíam o ar de uma atmosfera meio sinistra e deixava rastros doentios na população da periferia. A lua, que antes luzia com raios penetrantes, parecia tímida quando saía de seu esconderijo. Não era mais a lua de Gupiara de antigamente, quando Painhô sentava na sua rede e começava a balançar o violão para encantá-la e também a todos nós. Ela teria ficado pálida e triste ao pressentir que meu pai não mais cantou para si.
ESPAÇO LIVRE
DIVAGANDO...
· Vejam que primor de texto dito pelo personagem e crítico De Witt (vivido pelo ator George Sanders) no filme A malvada : Nós temos em comum... desprezo pela humanidade, incapacidade de amar ou ser amados, ambição insaciável - e talento. Merecemos um ao outro.
Não calharia extraordinariamente bem se saísse da boca de um desses sujos políticos (e homens públicos) em confabulações com seu interlocutor? Ou, no caso, em especial, uma interlocutora?
· E também para nos auxiliar a palavra sempre sensata de Antonio Vieira, que desde os idos do século XVII ficou famoso pelos lapidares depoimentos sobre o ser humano. Acerca dos ditos e indignos representantes do povo, eis o que dizia o abnegado padre: Tempos houve em que os demônios falavam, e o mundo os ouvia; mas depois que ouviu os políticos ainda é pior mundo.
Sem comentários, sem comentários...
Bené Chaves
por
benechaves às
12:39