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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
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a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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terça-feira, maio 03, 2005

DÉCIMOS SEXTOS ALUMBRAMENTOS


É certo, então, que Gracita (era como eu a chamava) despertou em mim uma atenção logo de início. Fiquei entusiasmado vendo tão doce menina ao meu lado quase todos os dias, ou melhor, quase todas as noites. Poderia muito bem está exagerando e tecendo comentários alheios à verdade, pois não posso provar o que estou dizendo, mormente quando tudo não passa de palavras escritas. Inclusive porque minha imagem adolescente era essa. Eu via as coisas na plenitude daquele estágio jovem, talvez desapercebendo o que viesse a ser de verdade. Para mim era outro momento sublime que teria de aproveitá-lo na sua essência. Contudo, tenho absoluta convicção de que os leitores acreditarão no que estou a dizer. Visualizarão os detalhes descritos, com certeza, ou construirão um retrato falado. Melhor dizendo: escrevinhado.

Porém quem conheceu, na época, a pessoa a que me refiro, lógico que me dará razão. Só que seria impossível (e nada também que pudesse voltar àquele período) um contato direto, claro, não interessando a ninguém, pois tal garota só deve existir, no presente (com sua beleza em evidência) através de fotografias. E eu as perdi, tanto uma como a outra, ao longo de minha existência. O que passou, infelizmente, são fatos irreversíveis. Ficam apenas a descrição, as sombras e réstias de uma época finda. Uma época de saudosa memória, daquela menina de pele morena e suave, de rosto deslumbrante, onde seus olhos desassossegados me abasteciam de prazer. Não gosto nem de pensar ou descrever o que o tempo destrói com seus passos implacáveis. É duro você ter de presenciar o desgaste em doses meio homeopáticas de um bom período vivido na sua juventude.

E a minha Gracita (que intimidade já, hein?) foi alvo, no medrar de uma paixão, de alguns versos que elaborei. Um canto em que exaltei seu encanto, compartilhando, averbando e avivando tal união. Eis o que fiz, no arrebatamento da oportunidade:
Mar /ia, na melancolia
enigma, agonia.
Na vida...
Teu nome emite o quê?
Impulso, pulso, depressão, pressão.
É um nome singelo
e sem dúvida belo.
Teu corpo é ternura, carinho,
desejo e tesão.
Sexamor ou desamor?
Palavra mulher... Símbolo.
Invenção e magia.
Sofreguidão ou comunhão?
Teus olhos me iluminam
de sexo e ação.
Ah, quanta inquietação!
Mar /ia, Maria: tristeza, alegria.
Quão meigo encanto e
devastador imanto!

Pareceu-me atrevimento tal texto para uma menina-moça, inclusive por estarmos iniciando um namoro. E principalmente naquela fase adolescente. Mas, eu nem sabia mesmo o que fizesse na minha imaturidade. E o poema saiu assim, talvez com uma linhagem própria da fase que vivia.

ESPAÇO LIVRE


CANDURA



No escurinho de meu quarto eu não vi
aquela moça acenando tristemente
a música feia e insossa na janela
o carro que corta a madrugada
a violência sempre desfraldada
o ladrão feito gato no telhado
aquele político vil e safado
o olhar malicioso da vizinha
o grito gostoso de um orgasmo
e o homem no maior marasmo.
Também não vi naquele escurinho
as crianças surradas pelos pais
a mulher brigando com o marido
aquela voz da prostituta cantora
e a trepada do casal no matagal.
Tudo isso não vi, porque estava
sonhando com a inocência.

Bené Chaves

por benechaves às 19:42