Alba era uma garota tímida, como a maioria das meninas do período. E também eu não ficava atrás. Portanto, dois inibidos tentando florescer um relacionamento juvenil e, acho, sem maiores pretensões. A continuidade e o desejo poderiam vir ou não com a sucessão dos dias ou meses. Mas, poder-se-ia dizer, contudo, que ela já era uma mocetona, naquela aparência e exuberância cultivadas no corpo modelado e em constante desenvolvimento. Neste aspecto, não tinha do que me lastimar. Quando escrevo tais palavras me dá uma saudade enorme do tempo passado, uma ânsia imensa talvez de revê-la, mesmo supondo saber, lógico, de seu caminhar para a maturidade ou de seu avançar para a detestável e iminente velhice. Ou então, o pior, quem sabe, que seria a sua própria morte. Credo, credo!
E a Mirtô, o que teria acontecido com ela? Nada sei, apenas que depois terminou tudo com meu primo. Tenho impressão que as duas devam ter seguido caminhos opostos. Algo certamente obscureceu nossos convívios. E anos depois dando uma espiada nas ruas que moravam via apenas vislumbres de velhas casas deterioradas ou edifícios em construção. Nenhum rastro de suas pegadas (e nossas) anteriores. Haviam sumido no espaço, nas andanças cotidianas, no alheamento de um progresso, restando um vazio e uma lembrança nostálgica que jamais saberia ou poderia resgatar. Elas eram, entre outras, e são ainda minhas dúvidas. A vida é minha dúvida, tudo enfim não passou e não passava de uma ilusão.
Oh!, meu Deus, quanto a existência é cruel também neste aspecto: separar as pessoas e nunca mais se ter notícias de um grande amor ou mesmo uma grande amizade. O passar e o repassar distorcem tudo, fazem desaparecer rápido os instantes sublimes e enaltecer as destemperanças. Porque a vida poderia ser apenas uma sorte ou um azar. Seria então um fato verdadeiro ou somente uma lenda? Eis aí o desmedido enigma do ser humano, a minha maior incógnita também.
Porém, apesar de tudo e de todo o pesar, Alba ainda estava ali, na sua singela e meiga figura, procurando exaltar e enamorar minha adolescência. Quão inocentes éramos todos nós! E eu não queria que aquela suposta ingenuidade fosse abalada. Não no sentido de olharmos um previsto mundo feio ao redor da gente. O momento que se vivia era lindo para ser desfeito na minha imaginação. E a menina-moça Alba seria, a partir do instante presente, minha divina ninfa. Meu primo também já se encantara e animara com a bonita Mirtô, na fervura, que me dizia, de ter-lhe assombreado e assoberbado seu corpo. Desde dali e dalém, a gente passou a freqüentá-las mais assiduamente.
ESPAÇO LIVRE
POSSESSÃO
Quero vê-la
com tesão
tomá-la inteira
no segundo
minuto
hora.
Você é meu desejo
o painel
pincel
ensejo
as cores
de babel.
Sem algum temor
devo fantasiá-la?
Ao extremo gritar
uma finda dor?
Bené Chaves
por
benechaves às
11:13