A FELICIDADE NÃO SE COMPRA
Realizado há mais de cinqüenta anos, A Felicidade não se Compra continua a ser um desses filmes que sempre enaltece a alma humana. De um otimismo fora do comum, Frank Capra também criou um tipo de comédia social que elevou seu nome ao sucesso absoluto nas décadas de 30/40, logo em seguida à grande Depressão Americana iniciada a partir de 1929. E a fita em questão, realizada em 1946, acertou em cheio no espírito do povo dos Estados Unidos e nos anos que se seguiram depois da crise no âmbito local.
De origem siciliana, Capra emigrou para Nova York em 1903, começando como argumentista nas comédias de Oliver Hardy (o Gordo) e Stan Laurel (o Magro) e conseguindo a liberdade de criar os primeiros sucessos de sua talentosa carreira. Daí iniciou logo cedo a trabalhar e realizou algumas obras importantes, destacando-se, sobretudo, em Aconteceu naquela Noite, produção de 1934 e que ganhou os principais prêmios da época. E principiava, então, o brilhantismo do jovem e adulto promissor.
A Felicidade não se Compra não foge à regra e conta a história (em pleno Natal da capital americana), em tom de fábula/fantasia, de um homem da classe média que se vê às voltas com as adversidades do mundo, tentando construir uma maneira de se adaptar melhor às condições de vida. George Bailey está à beira do desespero e nem sempre consegue o que idealizou. E existem, claro, situações outras que deturpam (ou tentam impedir) os meios favoráveis para o mesmo ter uma existência sem dificuldades. Neste aspecto, Bailey terá a ajuda de um anjo que será seu protetor. É aí onde se configura a fantasia, quando Clarence, o chamado anjo da guarda de nosso herói, entra em cena. Literalmente.
Isso tudo porque, devido às espertezas de uns e maldades de outros, o personagem se vê em apuros, fugindo de todos e se desesperando ante as já comentadas contrariedades que se instalam no seu cotidiano. E da ingenuidade ao humor, Capra vai narrando com maestria sua fábula e mostrando os passos de George Bailey (numa boa interpretação de James Stewart) que sempre se sacrificou pelo próximo. É o que se faz perceber logo no início, quando o tal anjo é designado para salvar-lhe à vida e também guardá-lo das desgraças. E numa pitada de ironia, mostra-se também o interesse do protetor (até os anjos com suas cobiças, imagine!), pois ele está na missão de ganhar um par de asas. Tudo fará, certamente, para livrar nosso herói e inclusive convencê-lo de como a cidade seria diferente se o mesmo não existisse.
É o mundo confiante do realizador de Do Mundo nada se Leva (1938), como também a universal dimensão de seu lado irônico, fraternal, vivencial. Uma simples cena, um gesto qualquer (vide o corrimão da escada, o detalhe da mão segurando a peça solta), a ironia suprema (Bailey no bar pedindo a proteção dos céus, rezando e logo depois sendo esmurrado), são fatores característicos das imagens de Capra dentro de situações que ele criou e adaptou na sua trajetória cinematográfica. E imagens para realçar um entendimento e entretenimento nas necessidades diárias: uma mulher bonita sendo induzida ao casamento para construir com o amado um lar feliz e lindo. E as tentações da vida, de um bem-estar social melhor.
Nisso, Frank Capra mostra as façanhas de cada um: a solidariedade de alguns poucos e as ruindades de outros muitos. E a fita toma a feição e a defesa do Bem sobre o Mal, no já denunciado quadro de otimismo que permeia seu desenrolar, levando-nos a uma mistura de amor, riso e emoção.
ESPAÇO LIVRE
OPOSTOS
Surgisses na bela aurora
brilhante e amarelada
para cessar no crepúsculo
de gotas não cristalinas.
O orvalho a cair e purificar
teu rosto suave e sorridente
sob o pulsar de fagulhas
entre a vida e a morte.
Bené Chaves
por
benechaves às
09:00