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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
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castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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quinta-feira, março 03, 2005

Abro novo parêntese para compartilhar com vocês de um artigo meu que foi publicado em um jornal local em 17 de agosto de 1994 sobre o filme Os Brutos também Amam (George Stevens, 1953). Eis, portanto, minha visão da época:


OS BRUTOS TAMBÉM AMAM (SHANE)


Cada país teve (e tem) naturalmente uma especialidade em seu gênero cinematográfico. No cinema francês a nouvelle-vague iniciou e dominou um período de sua existência pós-anos 50/60. Os italianos surgiram antes com o neo-realismo, denunciando e mostrando uma atmosfera de horror a que foram subjugados durante a após a segunda guerra mundial. O expressionismo mandou no cinema alemão no começo do século XX e deixou raízes que proliferam ainda hoje, embora com menor intensidade. Ou talvez sem nenhuma.
E assim foram todos frutos de escolas que se espalharam pelo resto do mundo, cada qual tentando escolher melhor um estilo que se adaptasse ao seu modus-vivendi.
A especificidade do cinema americano foi o western, pois, logo cedo, desde O Grande Roubo do Trem (Porter, 1903), surgiram discípulos que se aperfeiçoaram em suas qualidades formais e temáticas. Daí então apareceu o termo farwest, de onde magistralmente despontaram os célebres cowboys, chamados de foras da lei, com seus cavalos e mulheres bonitas nos saloons do velho Oeste americano.
John Ford era o mago maior do faroeste porque (e quando) realizou inúmeros filmes, contando, não somente a saga texana, como também fazendo um estudo de sociologia e costumes inerentes à época. Certamente que acrescido depois (ou antes) de outras figuras não menos importantes.
Mas, foi um forasteiro de nome George Stevens quem deu uma das mais felizes e belas fábulas sobre o Bem e o Mal. Inspirado no romance de Jack Schaefer, Os Brutos Também Amam (1953) relata o comportamento de um herói solitário, contando a história de um estranho que muda os hábitos de uma família local. Shane é o nome do cavaleiro sem destino que logo atrai a simpatia de um casal e seu filho, que vêem naquele homem um mito, símbolo da personificação do Bem, principalmente para o pequeno Joey (Brandon De Wilde, morto ainda na adolescência), que passa a admirá-lo profundamente, tornando-se capaz de qualquer ato invulgar, como amá-lo mais do que ao próprio pai.
Portanto, a chegada do misterioso cavaleiro na aldeola é o clímax dado por Stevens na transformação daquela pequena família, gerando, inclusive, resquícios até de ciúmes. O western readmite aqui a solidariedade aos indefesos e oprimidos e a interação de uma única família com toda uma coletividade. E revela o que outros temas ulteriores viriam a enfatizar: a cultuação à personalidade. (Vide, como dois exemplos, Sociedade dos Poetas Mortos, de Peter Weir, em que um recém-chegado professor modifica totalmente a vida dos alunos locais e também Teorema, de Píer Paolo Pasolini, onde um jovem varão seduz uma família inteira).
E, então, o faroeste americano se sente órfão de filmes que foram realizados naquele período (com poucas exceções, talvez Os Imperdoáveis, de Clint Eastwood, 1992), notadamente os aclamados clássicos de então, acostumados atualmente com a brutalidade e banalidade de seus temas e narrativas. Portanto, quase nada se comparam em Os Brutos Também Amam, à partitura musical de Victor Young e o apelo final do garoto implorando o retorno de seu ídolo. É uma pena para todos que Shane retome seu caminho, uma desilusão principalmente para o pequeno Joey, porém é a confirmação e configuração de um mito, uma lenda, o mítico personagem-símbolo.
Diante disso tudo, se pode dizer que o filme do forasteiro George Stevens passou também a ser cultuado como um marco da cinematografia. Dificilmente, mesmo passados mais de cinqüenta anos, ele será superado no seu gênero clássico e estilizado.

ESPAÇO LIVRE

A poeta Dora Vilela (http://pretensoscoloquios.zip.net) dedicou, gentilmente, este poema para mim. Compartilho com vocês os versos da amiga:

Esfinge Sertaneja

No ermo sertão,
à porta de velha tapera,
acocora-se nhá Quitéria,
de banco carece, não.

Cachimbo encaixado
na hipotonia do beiço,
cusparada de lado,
saliva grossa de sarro.

Mastiga as gengivas,
encolhendo os olhos de enigma,
mil pregas na face,
branca e rala a carapinha.

Idade, não tem, não,
nasceu numa festa,
era Cosme e Damião,
abastança de doce de obrigação.

Só espia o tempo de dentro,
depois de ler na amplidão,
por fios de anos afora,
decorou, que tem boa memória,

a estiagem vem após
a formigação na perna,
a chuvarada despenca
atrás da gastura no corpo.

Sapientíssima nas rezas,
oráculo no matão,
já curou muita bicheira,
mau-olhado, piolho, sezão.

Na contemplação esquecida,
chacoalha a cabeça e prevê
mortandade de gado,
maleita, colheita perdida.

Só ela não morre,
apoiada no chão,
enraizou, fez morada,
se incorporou ao sertão.

No pouco do sertanejo
fez seu tempero de vida,
e, veterana de luta vencida,
não dá baixa, nem faz despedida.

.

por benechaves às 17:55