Desde o momento que conheci Alba, uma enorme euforia tomou conta de mim, o corpo tremia quando olhava aquele morenaço de olhos verdes a acariciar-me às vezes somente as mãos, outras vezes o meu imberbe rosto. E meditava sobre um possível e talvez sério relacionamento.
O homem, de um modo geral, pensa e tenta se firmar como uma pessoa capaz de obstáculos talvez até inacreditáveis. A mulher, por sua vez, sensível e maternal quase sempre, muito embora, com raras exceções, um pouco difícil de se entender, procura conciliar supostas exacerbações e, então, assenta-se como uma companheira leal. Mas, em outras ocasiões, dá-se justamente o contrário. E a recíproca fica num vai-e-vem danoso, a chamada infindável e insondável intermitência de valores. Por isso mesmo, seria imprevisível qualquer união ou desunião de pensamentos.
Eu e Alba éramos ainda jovens, não tínhamos noção alguma de um perigo maior que pudesse se avizinhar. Portanto, a insistente pergunta: poderíamos enfrentar situações vexatórias e contraditórias contanto que permanecêssemos juntos um ao outro? Não sabia até onde iria o presente devaneio, mas o meu intento era tão somente viver aquela fantasia, fosse ela duradoura ou não.Coisa de menino besta e ansioso para arrebatar uma libido que florescia na viçosa idade. E acho que a recíproca também era verdadeira, embora castrada pelas normas repressoras do sexo feminino.
A vida era assim mesma... Que ninguém duvidasse dela, pois a própria entortava e retorcia do jeito que quisesse, se fazendo senhora de suas determinações e deteriorações. Ela antevia as destrezas e pústulas, contudo também as pusilanimidades de uma existência. Dizia-se que vivia em constante mistura consigo. E, claro, com os outros em geral. Era uma vida arrevesada, não sei, contudo, se arrevessada. Diante, no entanto, de tantas indefinições, todos ficam indignados com a mesma, vendo-a passar aleatória ante circunstâncias e circunvizinhanças. Seria uma natureza determinante ou certa força energética, absoluta? Pois sim!, pois não! Sim! Não! Pois! Senão?
Eu não me incomodava com deliberações existentes e estabelecidas sejam lá por quem. Minha idade não permitia. Queria apenas levar adiante aquela paixão adolescente e efervescente. Que fosse pro diabo qualquer resolução em contrário! Seguia uma conceituosa e ambígua definição de Painhô: o essencial da vida existia pra se comer (literalmente ou não) mesmo, não via necessidade de me necessitar.
ESPAÇO LIVRE
INVERSÃO DAS COISAS
Amanhã serei invisível...
Anoitecerei um outro ser?
À noite serei um fantasma...
Amanhecerá uma bela alvorada?
Amanhã será um novo dia...
Anoiteceria uma aurora reluzente?
Amanheceria a escuridão pendente...
A noite seria com forte sol?
A manhã seria com branda lua...
por
benechaves às
19:05