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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
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a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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segunda-feira, janeiro 03, 2005

Nada melhor do que iniciar 2005 com um texto sobre o genial diretor Federico Fellini, que tem o seu aniversário de nascimento neste mês de janeiro. E o autor de tal façanha é o amigo e escritor Francisco Sobreira (Natal), que compartilha com vocês o seu comentário. Ei-lo, portanto:


FEDERICO FELLINI

Francisco Sobreira


Em meu primeiro contato com o cinema de Fellini, eu não tinha a menor idéia de quem ele era. Aliás, na época eu ignorava o nome de qualquer diretor. Adolescente, com quatorze para quinze anos, entrava num cinema atraído pelo nome dos atores e das atrizes, pelo título do filme, ou ainda pelo gênero (sendo faroeste, então, pouco me importava quem fosse o ator). O que me atraiu em Na Estrada da vida foi a presença de Anthony Quinn no elenco, ainda que esse ator não fosse um dos meus preferidos; pelo contrário, antipatizava-o, por sempre fazer o vilão.
Dos outros atores do filme eu jamais ouvira falar. E, então, caí na estrada... O filme não me agradou, nem desagradou. A impressão que tive dele foi de algo diferente de tudo quanto tinha visto de cinema até aquela data. É muito provável que a uma certa altura tenha querido abandonar a sala, tão acostumado estava aos filmes que via na época, além de ser privado de um mínimo de visão crítica de cinema. Houve, no entanto, uma cena que me chamou a atenção... Na verdade, foi uma frase dita pelo personagem conhecido por O Louco, numa conversa com Gelsomina. Ao tentar convencer aquela coitada (um dos maiores personagens criados pelo cinema) de que ela não é uma inútil (e que, portanto, o bruto Zampanó precisa dela), ele apanha do chão uma pedrinha e diz que até uma coisinha daquelas tem uma utilidade na vida, só que ele não sabe qual é.
Muitos anos se passaram até que eu voltasse a ter contato com o cinema de Fellini. Já estava morando em Natal, a minha visão de cinema já evoluíra, principalmente por integrar o Cine Clube Tirol. Este exibia uma sessão de arte uma vez por semana, num dos cinemas da cidade, e foi nessas sessões que assisti Oito & Meio, Os Boas vidas, Noites de Cabíria e Abismo de um sonho. O último não consegui ir além da metade, mais ou menos. Não, o filme não é ruim, o caso é que a energia pifou durante a projeção e não foi restabelecida pelo resto da manhã. E assim passei quase quatro décadas sem conhecer integralmente o primeiro filme solo de Fellini, o que só ocorreu no ano passado, via DVD. E passei a acompanhar, pelo circuito comercial, os filmes que esse grande artista realizou depois de 1965.
Ah, Fellini. Em seu recém-lançado Um Filme por dia, o crítico Moniz Vianna diz de Buñuel que este não tem seguidores. Digo o mesmo de Fellini. Seu universo temático, com suas fantasias (não raro, delirantes), suas reminiscências infantis, suas confissões, seus tipos bizarros, seu humor que, às vezes, beira o vulgar, o mau gosto, e aquele ritmo peculiar (no que é muito ajudado pela música de Nino Rota), faz dele um cineasta singular. E talvez o seja, sobretudo, por ser o mais autobiográfico dos diretores. Ele próprio reconhece isso, ao declarar numa entrevista: se um dia fizer um filme sobre um peixe, acabarei falando de mim mesmo.
Qual o seu maior filme? Acho que tem alguns: Oito & Meio, A Doce vida (embora ache que uma, duas ou três seqüências poderiam ser menos longas), Na Estrada da Vida, E la nave va, Amarcord, este, seguramente, o seu filme mais delicioso, que, nesse aspecto, está para a sua obra como Depois do vendaval está para a de Ford. Dele só não gosto de Casanova, Cidade das mulheres e A Voz da lua. Os dois primeiros ainda têm alguns bons momentos, como o ritmo bastante acelerado nos primeiros minutos do segundo e, no primeiro, sobretudo o final. (Falando em final, Fellini tem alguns antológicos. Há na preferência dos cinéfilos quase um consenso sobre o de A Doce vida. É de fato notável a imagem da garota de rosto angelical chamando por um nauseado e fatigado Marcello Mastroianni, em que o diretor nos acena com um pouco de esperança, mas ainda prefiro o final de Oito & Meio: a imaginação de Guido, o diretor, promove a reunião de todos os personagens, de mãos dadas, sobre uma plataforma, enquanto lá embaixo o garoto (Guido-Fellini) forma com três palhaços um lírico e nostálgico quarteto musical. Devem ser também lembrados os de Noites de Cabiria e de Na Estrada da vida). Mas A Voz da lua , seu último filme, é sem-graça, sem inspiração, e com momentos de humor em que o limite do vulgar é ultrapassado. Ele não merecia encerrar uma brilhante carreira num nível de qualidade tão inferior aos seus maiores momentos.


ESPAÇO LIVRE



CINE MISCELÂNEA


Quando vi a ruiva inocente
no rosto da sensual morena
beijei a loira fremente.

Através do espelho a imagem
estilhaçada entre revólveres
confundindo-se na miragem.

Então a canção na chuva
como exposição mágica
acrescida de uma luva.

A explosão como desatino
o herói a cavalgar ferido
ao encontro de seu destino.

Na ciranda da felicidade
a infância redescoberta
deliciando nova idade.



Bené Chaves

por benechaves às 10:11