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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
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a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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sexta-feira, outubro 22, 2004

PARENTESCO DOS SÓIS






Era domingo. Os canários do vizinho cantavam a valer, pombos voavam no telhado e, ao lado, num terreno baldio, meninos jogavam bola. Tia Chica preparava o almoço. Uma voz eclodiu da varanda: diga a preta velha que capriche, hoje estou com uma bruta fome! Mainhô apossou-se de uma cadeira e ficou a bordar um pano tingido. Certamente seria o seu enxoval, meu filho, que ela preparava com muito gosto.

Painhô contou: no sertão, depois de um dia na enxada, sol pegando fogo, os homens voltavam pra comer tardinha do dia. Porém, como alguns não tinham suprimentos em casa terminavam comendo a mulher mesmo, não literalmente, lógico. E, desse modo, o jeito era criar um bando de filhos. Foi Deus quem mandou, diziam as mulheres já prenhes. Só que esta historinha tava muito mal contada.

Ferrões também tinha um belo anoitecer. No alpendre da casa de seu avô, continuava ele, a gente sentia o cheiro gostoso de queijo do sertão, manteiga, pão assado, aquela coalhada também de leite puro, fresco, tirado da vaca, madrugadinho. Ai Tia Chica lá...

Aliás, a preta velha tinha preparado uma saborosa macarronada, dessas de deixar todo mundo com os beiços lambendo. Eu mesmo já estava sentindo aquele cheiro sem igual e doido para aproveitar o restinho na barriga de Mainhô.

Mas, juntos, fomos nós, filho, degustar a tal comida já exposta à mesa. Tia Chica se enchendo de alegria, os olhos salientes de tanto deslumbramento. Aquela iguaria que fez nos deixou empanzinados, sua mãe tendo de abrir o chambre pra poder respirar um pouco, ufa! Quase que lhe sufocou, mas acho que você consumiu feito um guloso, não?

O sol descia de posição e crescia também colado aos morros de Gupiara. Era enorme e um pouco desigual, se comparado ao parente de Ferrões. Tinha, em suas bordas, um acabamento como se tivesse sido feito com mãos de ouro. Fomos vê-lo sumir-se. A visão trouxe encantamento à cidade. Painhô, já descansado do vasto almoço, começou a dedilhar seu violão:

Tava um dia no porto de Alagoas
Encontrei tudo em belas condição
Mais de cento e cinqüenta embarcação
Entre paquetes navios e canoas
Na presença de mais de mil pessoas
Com o barco alemão me agarrei
Quando o bicho quis sair eu segurei
Nesse dia seu Minana criou fama
O oceano ficou da cor de lama
Mas o navio só saiu quando eu larguei.


Meu pai disse que nunca estivera em Alagoas, mas não acreditei nessa história.Acho que ele andou aprontando pras bandas daquele cais junto com amigos boêmios. Esse imprevisível Painhô...


E S P A Ç O L I V R E


DISSOLUÇÃO


Quero-te nua
para dissecá-la
crua e molhada
para dessecá-la
na vertical dessedentá-la.
E te quero na horizontal
dissertá-la minuciosa
dissimulá-la com
meu sêmen.
Depois dispersá-la e
desertá-la ao
distanciamento.

Bené Chaves

por benechaves às 21:15