perfil
Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
Livros Publicados:
a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
Sonhadores

Você é nosso visitante de número


Obrigado pela visita!

links

a filha de maria nowacki
agreste
arabella
ariane
balaiovermelho
blog da tuca
clareando idéias
colcha de retalhos
dora
entre nós e laços
faca de fogo
janelas abertas
lá vou eu
letras e tempestades
litera
loba, corpus et anima
maria
mudança de ventos
notícias da terrinha
o centenário
pensamentos de laura
ponto gê
pra você que gosta de poesia
proseando com mariza
rua ramalhete
sensível diferença
su
tábua de marés
umbigo do sonho
voando pelo céu da boca

zumbi escutando blues

sonhos passados
agosto 2004 setembro 2004 outubro 2004 novembro 2004 dezembro 2004 janeiro 2005 fevereiro 2005 março 2005 abril 2005 maio 2005 junho 2005 julho 2005 agosto 2005 setembro 2005 outubro 2005 novembro 2005 dezembro 2005 janeiro 2006 fevereiro 2006 março 2006 abril 2006 maio 2006 junho 2006 julho 2006 agosto 2006 setembro 2006 outubro 2006 novembro 2006 dezembro 2006 janeiro 2007 fevereiro 2007 março 2007 abril 2007 maio 2007 junho 2007 julho 2007 agosto 2007 setembro 2007 outubro 2007 novembro 2007 dezembro 2007 janeiro 2008 fevereiro 2008 março 2008 abril 2008 maio 2008 junho 2008 julho 2008 agosto 2008 setembro 2008 outubro 2008 novembro 2008 dezembro 2008
créditos

imagem: Walker
template by mariza lourenço

Powered by MiDNET
Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

 

 

 



quinta-feira, outubro 14, 2004

O VIOLÃO DE PAINHÔ


À boquinha da noite Painhô voltou do trabalho e jantou cuscuz com tapioca, também aquela coalhada deliciosa de um leite puro, sadio. Depois foi até a cozinha e deu os parabéns a Tia Chica, ela orgulhosa, jeitão desconchavado. Obrigada, estou às ordens, precisando... E, então, meu pai aproveitou e criou um neologismo para nomear o prato saboroso: leitapioca!

Foi até ao quarto, pegou o violão, a rede já esperando e juntou Mainhô - ainda com a barriga naquele tamanho -, a preta velha e começou a cantar. Engatilhou os dedos nas cordas e não parou. Misturou letra, substituiu nomes, juntou palavras, fez o diabo. Diziam que, a exemplo de Tia Chica no fogão, meu pai, com o violão, era o cão. Tudo isso no bom sentido, lógico.

Parecia montado num cavalo pampa, caminhando léguas, não soltava as rédeas, ou melhor, as cordas. Era um autêntico cabra da peste. Neste dia, filho, eu fiz travessuras com as mãos, soltei lindas emboladas pela goela. Ninguém conseguiu me parar.

A varanda estava iluminada e a lua nascia e crescia novamente dentre os morros. Painhô pediu a Tia Chica um copo de água pra molhar a garganta, enquanto acariciava o ventre de minha mãe. E eu ali, dentro dela, quietinho, não via a hora de sair, querendo a todo custo gritar: bem que eu disse, estou com jeito agora de menino vivo.

E então meu pai respirou fundo um perfume que veio do lado do jardim e sapecou a última moda da noite:

Eu fui a loja fui a venda fui a rua
Fui comprar ferro de pua
Que é danado pra furar
Eu fui a rua fui a loja fui a venda
Fui comprar umas encomendas
Que mamãe mandou comprar.

E entrou com o estribilho, misturando sua ordem:

Ô mulher sai do sereno
Ai ai ai ai Mainhô
Que este sereno faz mal
Você é meu calor.

Sentou na cadeira e segurou a mão de minha mãe. Um bom período Painhô ficou nesta posição.Tentou escutar na barriga inchada dela alguma inquietação minha. Mas nada ouviu. Parece que eu já dormira naquele ventre volumoso. Mesmo com todo o barulho ao redor.

Na madrugada quente o galo cantou e ouviu-se um chiado estranho pras bandas do quintal. Todos foram dormir. Algumas horas depois ficou somente um ponto no firmamento. A lua estava desaparecendo e lentamente subia para dar lugar ao companheiro sol.

O dia cadenciava, clareava. E o arrebol deixou todos impressionados.

E S P A Ç O L I V R E



DIVERSIDADE


Ah, as mulheres!...
Meu patrimônio
morenas
loiras
brancas
negras.
Meu matrimônio
virgem carente
moça potente
outra insolente
mulher presente.

São acasos e ocasos
da mente?



Bené Chaves

por benechaves às 19:30