perfil
Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
Livros Publicados:
a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
Sonhadores

Você é nosso visitante de número


Obrigado pela visita!

links

a filha de maria nowacki
agreste
arabella
ariane
balaiovermelho
blog da tuca
clareando idéias
colcha de retalhos
dora
entre nós e laços
faca de fogo
janelas abertas
lá vou eu
letras e tempestades
litera
loba, corpus et anima
maria
mudança de ventos
notícias da terrinha
o centenário
pensamentos de laura
ponto gê
pra você que gosta de poesia
proseando com mariza
rua ramalhete
sensível diferença
su
tábua de marés
umbigo do sonho
voando pelo céu da boca

zumbi escutando blues

sonhos passados
agosto 2004 setembro 2004 outubro 2004 novembro 2004 dezembro 2004 janeiro 2005 fevereiro 2005 março 2005 abril 2005 maio 2005 junho 2005 julho 2005 agosto 2005 setembro 2005 outubro 2005 novembro 2005 dezembro 2005 janeiro 2006 fevereiro 2006 março 2006 abril 2006 maio 2006 junho 2006 julho 2006 agosto 2006 setembro 2006 outubro 2006 novembro 2006 dezembro 2006 janeiro 2007 fevereiro 2007 março 2007 abril 2007 maio 2007 junho 2007 julho 2007 agosto 2007 setembro 2007 outubro 2007 novembro 2007 dezembro 2007 janeiro 2008 fevereiro 2008 março 2008 abril 2008 maio 2008 junho 2008 julho 2008 agosto 2008 setembro 2008 outubro 2008 novembro 2008 dezembro 2008
créditos

imagem: Walker
template by mariza lourenço

Powered by MiDNET
Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

 

 

 



sábado, outubro 30, 2004

MAIS SONHOS



Certo dia, meu filho, achei tudo esquisito quando foram colher seu sangue. Olhei ao redor e vi um médico atarracado e enfermeiras desmaiadas, uma seringa no chão com sangue azul coagulado e olhares atônitos. Certamente sua mãe não acreditara quando vira dias atrás aquela maldita mancha no lençol.

Era um caso anormal, pra estudo detalhado, parece até uma imaginação. Mas, teriam peritos no assunto, para ocorrências como essa, de sangue azul e tudo? Seria uma incógnita se aproximando... Painhô pensou até em uma paranormalidade ou algo em terreiro de macumba.

Todavia, aquele líquido colorido nas veias não denunciava em nada as relações ambientais de ninguém.O fato, por si só, seria uma louca aberração da natureza. Ela que, inclusive, já nos tem mostrado e demonstrado o quanto é singular.

Então se falava: fulano tem sangue azul. Quer dizer: é uma pessoa importante. Nada de líquido nas veias. No caso aqui em particular seria um problema mais grave. Ela, a pessoa, claro, detém a excentricidade de um ser não ser habitual. E daí toda a celeuma que o caso trouxe em si.

Dizia-se, desde tempos idos, que um rei ou uma rainha tinham sangue azul, porém era uma referência no sentido figurado, evidente. Uma tradição do tempo da monarquia, infelizmente ainda posta em prática em alguns países de nossa dita civilização.

De qualquer maneira, a criança em questão, não fazia parte de trono algum, a vida apenas lhe teria pregado essa peça invulgar.


Então, o dia seguinte amanheceu turbulento. Dentro de um buraco, numa enorme montanha, saiu aquele menino a chorar. Vagou e sentou-se à beira de um rio, começando a catar peixinhos que fluíam na água límpida e descorada.

Mas, o riacho foi ficando azul e correndo paralelo com as soluçantes lágrimas. E o estreito córrego terminou vivamente colorido, numa mesclagem inesperada e desproposital do infeliz mancebo.

Acordei, meu filho, dando berros e Mainhô do meu lado bastante aflita. Acho que tive um longo pesadelo. E depois fiquei a imaginar como seria uma pessoa com sangue de outra cor no seu organismo. Talvez uma completa extravagância. Todos ali deveriam temer quanto a isto. Ou não?

As pessoas nascem, crescem, morrem. É um logicismo ilógico da vida.Vê algum sentido nisso? Homens, mulheres, crianças... Crescem os frutos e a raiz apodrece. O caule perde o viço, torna-se perro.

Gupiara um dia desaparecerá, todos desaparecerão, tristes sinas. Ela foi. É. Não é. As lembranças marcam os rostos de seus habitantes. Porém, espero ainda encontrar alhures a província desaparecida.

A vida é um sonho. É uma foda atrás da outra...



ESPAÇO LIVRE

EXISTÊNCIA

De teu ventre intumescido
nascem certezas, incertezas.
Mas de teu dileto amor
mesclam-se esperanças e
contínuos desenganos.
E enquanto brotam desejos
ou ensejos
tu aparecerás incessante
ante o despojar da vida.

O nascimento como metafísica
sucessiva.

A morte como metáfora da
aurora perdida.
Bené Chaves

por benechaves às 17:29