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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
Livros Publicados:
a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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domingo, outubro 10, 2004

INOCÊNCIA E SABEDORIA DE UM POVO




            Saudável era ouvir o vaqueiro flagrar, narrar as coisas do dia-a-dia. Sobre a sorte de um indivíduo ser ou não abastado, falava: quem tem de ter tem que se dana; e quem não tem de ter se dana e não tem. Eram as fantásticas criações daquele homem fiel aos cuidados da fazenda.
            Histórias do sertão, da cidade, do sol e da lua. Histórias de um mar que não existia. E o sofrimento vivido na carne, a seca braba dos lugarejos, a vida de amarguras de um povo. Era um sujeito querendo aprender e apreender.
            Dizia ele, a Painhô, que a maioria trabalha e luta para a minoria saborear. E isso decididamente não estava certo. Contava tudo na simplicidade e candura que lhe eram peculiares. Misturava realidade versus ficção. Desabafava também: o homem humilde é honesto, na maioria das vezes. Cadê qu?eu tenho alguma coisa? Sou místico, religioso, mantenho fidelidade nos atos. Não tive meios para a instrução, mas sei de algumas safadezas...
            Ele, meu filho, continuou Painhô, exibia idéias exóticas, no entendimento de seu avô. Mas eram constrangimentos que saíam de uma vida atribulada, sem lazer nenhum. O único prazer que tinha era uma ruma de meninos pra criar. E como não podia ter controle para evitá-los, a casa ia se entupindo ano a ano.
            A mulher, sempre servil, chegava à noite e dizia: vai precisar d'eu hoje, homem? Mas, cansado do trabalho, ele apenas respondia: hoje não, mulher. E ela, aliviada um pouco, comentava: então vou lavar somente o pé. Via-se, com isso, que não era uma pessoa que gostasse de muito asseio. Só quando pra satisfazer seu marido. E alimentá-lo de um sexo seco e bruto.
            Certa vez, filho, ele me contou uma estória comovente: na época dos festejos natalinos apareceu um vistoso homem numa dita comunidade. Então o dito sujeito olhou ao redor e viu verdadeiras aberrações. Crianças pobres comendo barro na lama e aquelas barrigas inchadas de vermes. E, de um outro lado, meninos ricos brincando em suntuosas casas com belos presentes.
            Eram, obviamente, famílias tristes x famílias alegres, pobreza x riqueza. Faces literalmente opostas. Portanto, ele perguntou: mas, o mundo não pertence a todos nós? E realizou um sonho na sua imaginação, tentando abreviar tal ocorrência calamitosa. A súbita transformação no utópico e alegórico aliviou a sua mente. Ele então pulou de felicidade. Era, lógico, a inocência falsa e quimérica de invencionices com sabor de verdade.
            Do quarto avistei a lua, perto da janela, disse meu pai. Gupiara tornava-se pródiga em noites assim, pena que a bola de encher subisse rápido, não ensejando maiores apreciações. Ficou, então, deste tamanhinho, um tico de nada no céu. E depois uma vasta nuvem cobriu nossos desejos.
            As estrelas, os morros, o satélite. A cidadezinha lançou sua última visão. Mainhô e Tia Chica ressonavam. Eu idem, ainda na barriga de minha mãe, ufa! Painhô fechou a porta e Gupiara fechara novo dia.




ESPAÇO LIVRE



VAGUEANDO...




            A chinesa Chiang Kai-shek era uma célebre mulher. Nascida em Xangai no ano de 1899, dizia lá nos seus ensinamentos que o excesso de riqueza devia pertencer à humanidade... deve haver igualdade entre os povos e as classes... paz e harmonia entre as nações... roupa, alimento e habitação para os indivíduos.
            Mas, o que vemos depois de quase um século de vida? Que seu discurso tão apregoado com louvor, parece ter desfalecido na ganância insaciável e na insensatez dos homens. Afinal, concluía ela: não sou mística, não sou visionária. Acredito no mundo visto, não no mundo não visto.
            Grande pensadora, não?



BENÉ CHAVES


por benechaves às 18:57