Neste 01 de setembro o nosso blogue faz um mês de existência. E queremos agradecer aqui aos leitores blogueiros ou não que sempre comparecem com comentários generosos, críticos e gentis acerca dos assuntos relatados. E muito especialmente agradecer à minha querida amiga Mariza Lourenço, poeta e advogada que preparou esta página com dedicação e carinho. Ela é mestra e expert – todos nós já sabemos disso - nessas vivências internáuticas. Pra você Mariza, o meu mais terno e eterno agradecimento.
Outrossim, temos pressentido que algumas pessoas não dizem nada quando adentram, seja n’O Apanhador de sonhos ou, cremos, em outros sites. De nossa parte acreditamos com certeza que o simples ‘marcar presença’ é de enorme valor para nós blogueiros. Que ele, o leitor, não tenha vergonha de opinar, seja sem-vergonha mesmo. No bom sentido, lógico.
Afinal de contas, devemos aos que nos visitam o sucesso ou não dessa caminhada. E abonamos também que um número maior de pessoas com ‘presença assinalada’(ou apenas uma simples referência) é de valor essencial para a permanência de nossas atividades.
Enfim, o meu muito obrigado a todos.
OUTRAS EMBOLADAS
Meu pai me contou que na cidade onde nasceu os estrondos eram maiores do que em Gupiara. Quando raramente apareciam os trovões mexiam a terra. Imagine você que um dia o solo balançou como se fosse abrir. Nossa-Mãe-de-Deus!, não quero nem pensar, dizia ele esfregando as mãos. Pois bem, as coisas eram assim ao contrário, igualzinho a hoje em dia.
Na seca brava todos morriam de sede, porém nas enxurradas morriam afogados. Não dava pra entender tudo. E aquele povo nunca era satisfeito. As intempéries não vinham aos poucos, chegavam, isso sim, em farturas. Juro não ter visto gente pra sofrer mais do que aquela. Pobres-coitados! Qualquer dia mato a saudade e vou rever o que restou dali. Triste sina...
Os olhos de Painhô se encheram de ágrimas. Tinha lembrança das coisas. Era um sujeito bom. Mas, o que foi, foi. E o coração dele batia alto. Acho que tinha sentimento demais para um mundo de perversidades, preconceitos, traições e, sobretudo, desamor. Queria amar a todos e principalmente amar as mulheres. Disso não arredo pé, meu filho, vem aqui do meu íntimo, do meu gene, dizia com certo orgulho.
No mato longe, as cobras rastejavam inquietas e galhos eram pisados pelos cascos dos pampas. Nuvens cresciam, escureciam, voltavam a clarear. Raízes apareciam timidamente e a terra floria novas esperanças. As faces, em curtos momentos, se tornavam menos tristes.
Do alpendre, encostado na barriga da mulher (e com Tia Chica a preparar suas iguarias), Painhô pegou o violão e começou a ditar suas modinhas:
Saco bisaco bisaco saco de chumbo
Chapéu de coro é corumba
Macaxeira do Pará
Nego danado nunca diga que me deu
Pois você brigou mais eu
Quase morre de apanhar
Eu dou na testa dou na venta e no olho
Que o nego fica zarolho
Com vontade de chorar.
E continuou depois o estribilho:
Ai ai ai ai Maria
Ai Maria
Maria é meu amor
Vendo que minha mãe começou a verter lágrimas de tanto rir de suas estranhas cantorias, dedicou esta ‘quadrinha’ pra ela e alisou-lhe o cabelo:
Mulher dos olhos d’água
Não olhe pra mim chorando
Que a rua não está cheia
Nós estamos namorando
E voltando com o estribilho, abriu um longo sorriso, gritando pra dentro da casa quando sentiu o cheiro mágico vindo de lá:
Ai Tia Chica você é nosso amor
Sai do sereno qu’este sereno faz mal
Amor sereno. Serenamor.
E como a noite já estava ficando tarde, no dizer do povo, levou o estribilho e mudou as palavras:
Ai ai ai Gupiara
Ai Gupiara
Você é meu amor
Acho que meu pai extrapolou de cansaço nesta noite, a lua ficando do tamanhinho de nada e quase um ponto no espaço. Tenho a impressão que ele foi dormir mesmo. Soube depois pela preta velha que não se ouviu um gemido no quarto.
Mas, que ele dormiu abraçadinho com minha mãe, ah... disso tenho certeza.
ESPAÇO LIVRE
Divagando...
Dizia o poeta e escritor austríaco Ernst Fischer que “em um mundo alienado, no qual unicamente ‘as coisas’ possuem valor, o homem se torna um objeto entre objetos: o mais impotente, o mais desprezível dos objetos. Eles têm mais força do que os homens”. E em razão disso, acrescenta com lucidez: “a arte é necessária para que ele, o homem, se torne capaz de conhecer e mudar o mundo”.
Bené Chaves
por
benechaves às
03:58