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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
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a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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domingo, setembro 12, 2004

A PRIMEIRA VEZ DE MAINHÔ



            Foi justamente com meu pai, claro, que Mainhô deitou pela primeira vez com um homem. E ela, com toda certeza, deixou de ser moça, pois iniciava uma trajetória de constituir uma grande família. Só que Painhô, hum!, já devia ter começado e iniciado seus arroubos sexuais há muito tempo. Certamente teria sido com uma daquelas sertanejas boas de raça e sedentas de calor. Apesar do tempo forte lá em Ferrões.
            Ou então - quando rapazinho - se atreveu no traseiro de alguma jumenta, perto daqueles roçados e cercanias.O que era comum entre os vaqueiros da região. Já que as moças se faziam de supostamente difíceis, o jeito que tinha era procurar satisfação em caminhos não tanto agradáveis.
            Quem contou as peripécias foi Painhô mesmo, na noite silenciosa e com leves ruídos na escuridão. Imagine!... até Tia Chica ficou escorada no balcão da janela. E, então, ele disse, todo ancho da vida:
            "Era uma noite, parece, de lua cheia, as nuvens cobriam pouco a pouco um céu meio azulado. Dava uma aparência que ia chover, porque o quarto escureceu de repente. Levantei-me -depois de um bom sono - e fui à sacada da janela vislumbrar o acontecimento. Quando voltei, minha companheira ainda dormia agarrada ao travesseiro. Fui ao seu encontro e deitei juntinho dela para acordá-la. Ela remexeu-se com preguiça e puxou-me para seu lado. Ficamos ali quietinhos horas e mais horas, nossos rostos colados um ao outro".
            Parou um instante com se quisesse tomar fôlego. E continuou meio envaidecido:
            "Alegre e mostrando felicidade ao redor de si, sua mãe, meu filho - e me olhou piscando o olho de contentamento -, ergueu-se e levantou-se contente da vida. Estava radiante, sem acreditar, e foi tomar seu banho natural. Ninguém a detinha, talvez levasse com ela o fruto de uma existência".
            Prosseguiu com sobriedade e distinção:
            "O tempo voltou a piorar e a lua tinha sido encoberta. As nuvens tomavam conta de tudo e eu temia uma arbitrariedade daquela ocorrência quase inusitada. Daí resolvi encará-lo e deixar minha companheira na ventura acontecida. Olhei ao redor e vi uma vida mesclada, aquelas pessoas numa formalidade de afazeres, gesticulações de incertezas, gente andando e sendo fustigada, olhares atônitos e atônicos".
            Parou um pouco, disse que ficou alguns momentos na chuva e depois voltou ao quarto, onde a parceira ainda dormia ao sabor de seu deslumbramento. E falou: "sim, meu filho, você foi gerado naquela ocasião, tenho quase certeza. É por isso que estou lhe contando o sucedido".
            Não sabia ele que Tia Chica ficara escondida no parapeito e com certeza ouviu o relato desse pequeno e feliz episódio quando Mainhô sentiu as delícias do prazer pela primeira vez.
            Levantou-se e se dirigiu ao aposento, pois sua mulher já dormia fazia algumas horas. Tivera uma bruta dor de cabeça que disse infernizar-lhe as têmporas.
            Eu não falei que se chovesse ou não, tivesse lua cheia ou nova, fizesse sol ou noite estrelada Painhô era um danado?! E antes de entrar vi somente o vulto da preta velha correndo para não ser apanhada em flagrante.




ESPAÇO LIVRE


SEQÜÊNCIAS E CENAS ANTOLÓGICAS (2)


            Þ A seqüência de "Um Corpo que Cai"(Hitchcock, 58), desde o início da transformação de Judy em Madeleine, até a troca de beijos do casal, com a câmera giratória mostrando a fusão de imagens intercaladas à ação.
            Þ A cena final de "Oito e Meio" (Fellini,63), com a estupenda partitura musical de Nino Rota dando relevo maior ao clima da ciranda da felicidade.
            Þ A longa seqüência inicial de "Hiroshima meu Amor" (Resnais, 59), com mais de cinco minutos de inventiva e transgressora narrativa cinematográfica.
            Þ A cena rápida de "Rastros de Ódio" (Ford, 56): a porta que se abre e fecha no final é toda uma síntese da mitologia do gênero.
            Þ Do sofrimento e da dor surgem o prazer e o gozo (a bela suíça Irène Jacob em "A dupla vida de Veronique", Kieslowski, 91), talvez numa das mais belas cenas que vi nos últimos anos. É impressionante: ela sai do pranto e entra num estágio de êxtase, dando seguimento ao desfecho de um orgasmo delirante.


BENÉ CHAVES

por benechaves às 10:56