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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
Livros Publicados:
a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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quarta-feira, setembro 08, 2004

PAINHÔ


            Meu pai era um sertanejo brabo e, paradoxalmente, manso ao mesmo tempo. Ele tinha esta peculiaridade. Vivia dizendo que a vida no campo era a saúde do corpo. Então, de manhã cedinho saía galopando o cavalo pampa e corrigindo as coisas do meu avô. Seguia pro curral, segurava aquela bonita vaca pelo laço e depois prendia o filhote bezerro perto do peito da mesma.
            Ali, ele tirava algumas poucas latas do leite morno e espumante e enchia copos e mais copos, depois distribuindo nos arrabaldes, aquela população agradecendo sua generosa atitude.O que sobrava dava pra encher a pança dos que moravam na fazenda.
            Ele era feliz e sabia que era. Sou um sujeito simples e sem lengalenga, costumava falar. As pessoas gostavam dele, principalmente aquelas mocinhas que viviam à cata de um marido pra arrumar suas vidas.(Mas aí já existia um certo interesse, menos pelo que possuía e mais pelo belo porte de masculinidade).
            Meu avô não tinha muito, mas o pouco que tinha ajudava muita gente. E essas coisas no sertão são de grande valia para todos.
            Porém, depois Painhô pegava seu chapéu de couro e se metia no mato em busca de serviço. Eu gostava daquilo, dizia ele sorrindo.Acho que foi nesse período que Painhô começou a tocar violão. Embora com a sequidão quase cruel, imaginava o gado pastar livremente. E as bostas das vacas caírem em abundância naquela terra, dando adubo pros terrenos sedentos de água.
            Após tomar uma coalhada gostosa feita mesmo pela mãe, dele, lógico, sentava-se na pequena varanda e, antes de cantar algo, soltava um arroto de desprendimento, mansidão e olhando aquela imensidão. Os cantos melódicos e às vezes românticos enchiam o corpo de todos de um prazer incomum. Ladrões inexistiam, a violência não campeava e, portanto, a noite seria nossa.
            Meu avô dizia pra Painhô que macho que é macho tem de provar de vários melaços. Pra saber o melhor e ficar comendo, completava, desviando o olhar de sua mulher.Meu pai, então, atiçou:

            Aqui neste sertão
            Mulher é feito pilão
            Sem tripa sem tudo
            E também sem coração.

            Painhô lambeu os beiços e passou a língua entre os dentes, entrecortando uns acordes e fixando repentes:

            Minha mãe brigou comigo
            Só por causa de uma urupema
            Quanto mais se ela visse
            Meu namoro no cinema.

            A lua surgiu e desapareceu, a noite ficou melancólica. Ele olhou ao redor e disse: tudo na vida gira em torno dos dois sexos: o feminino e o masculino, claro. E ultimou: é uma tamancada de vida! Seguimos o rumo da existência, cônscios ou não de nossas obrigações, completou.
            Não sei porque falou isso, porém falou. Era assim mesmo, cheio de improvisos.
            Levantou da cadeira, deu boa-noite e foi dormir. Amanhã cedinho reiniciaria novas tarefas.



ESPAÇO LIVRE

CINEMA

SEQUÊNCIAS E CENAS ANTOLÓGICAS(1)

            Þ A cena na escadaria de Odessa no filme soviético "O encouraçado Potemkin", de S. Eisenstein (1925).
            Þ A seqüência final de "A Doce Vida"(Fellini, 1960), com a podridão de um mundo ruim sobrepujando a inocência no rosto suave da menina-moça.
            Þ A cena final de "Luzes da Cidade"(1931), de Charles Chaplin, quando a florista reconhece no seu protetor a figura do vagabundo. É de arrepiar!
            Þ A seqüência inicial de "A Marca da Maldade"(1958), com todo o movimento e inquietação da câmera.

Bené Chaves

por benechaves às 21:35