Mas, ali ficava a casa velha, dona de todos os pequenos trilhos que passavam rasteiros pelo caminho seco e ávido de umidade, para reforçar a expressão. Apesar de tudo, lugarzão bom esse, cheio de ares, modos!
E meu avô sempre falava que era uma delícia ver aquele mundo parado, as estrelas a sorrir, o pequeno gado no curral, quieto, escutando nosso silêncio. A rede na varanda, o corpo velho e enfadado, a livre inquietação dos pássaros.
Olhar esta terra tranqüila, escura e calmosa.Acho que somos felizes, sem preocupação, na nossa espontânea firmeza de serenidade. E uma aparente alegria dentro de nós, dizia enfim.
Pra banda de fora, o vento surrava a areia esturricada e dava um banho no curral, cobrindo as bostas e descobrindo um cheiro de fazenda, cheirão de merda de boi, custoso. Mais das vezes sem incomodar. Anestesia de vaqueiro, segundo meu pai comentava. E as criancinhas nos arrabaldes rolando no chão pouco enlameado e fugindo de responsabilidades. A idade era todo prazer.
Deram o nome de Ferrões àquela pequena fazenda. Vidona de gente analfabeta e sem costumes. Mas, sobretudo, um povo bom, amigo, sem hipocrisia. Painhô dizia que o sofrimento traz tristeza, mas aquele povo, apesar das dificuldades, não era triste. E acrescentava: filho, quando você crescer saberá medir valores intrínsecos.
Dentro de uma filosofia toda particular, falava ainda que era lindo ver um menino com um infinito campo para correr, tornar-se adulto com sentimentos e razões inerentes a ele mesmo. Eu cresci, filho - e olhava uma vastidão à sua frente -, dando vazões para um mundo justo, liberto. Essa tal de liberdade vem do berço, o primeiro passo do homem, finalizava então.
Naquele alto sertão, estradas sem fim, retirantes se assustavam com conversas sem entendimentos. Lá longe, ruídos penetravam entre brechas e todos silenciavam. A lua, cheinha de iluminação e imaginação, ditava as normas.
Painhô era algo especial para aquela gente.Suas frases causavam efeitos e má compreensão nas pessoas simples e crédulas que não aprenderam nada. E aos poucos ele parecia também querer ensinar seu modo de vida.
Þ A cena final de "O sétimo selo" (Bergman, 57), onde os personagens da trama são carregados pela temível Morte.
Þ Toda a seqüência inicial de imagens de "Cidadão Kane" (Welles, 41), em uma atmosfera nitidamente expressionista. É um começo arrasador!
Þ A cena de "Depois do vendaval" (Ford, 52), com o espanto do velho quando se depara com a cama desfeita e quebrada: "impetuoso, homérico!".
por
benechaves às
17:06