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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
Livros Publicados:
a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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terça-feira, setembro 28, 2004

FIM-DE-ANO EM GUPIARA




             Os sinos da igreja tocam: blemblemblém, blemblém. E os presépios são armados nas casas de Gupiara, com a presença do velhinho de barba branca. A alegria das criancinhas na festa magna da Cristandade, os cartões correndo soltos dos correios às residências. E as poucas árvores enfeitadas com bolas coloridas. Tudo era motivo para uma festa maior.
             Aquela fase, meu filho, podia ser a melhor do mundo. Gupiara enfeitava-se, as pequenas lojas alegravam suas vitrines.Parecia ser uma louvação à inocência daquele bondoso povo.Os habitantes mais aquinhoados gastavam aos montes.E o ritual falava mais alto pra banda de seus arredores.
             Mas, nos arrabaldes próximos dali, não existia o ímpeto que se observava no centro da cidade. Muitas vezes nas cercanias e povoados vizinhos, crianças não tinham do que se alimentar.Os casebres eram tristes e escuros.Aquela gente às vezes passava fome de verdade.
             Então, meu filho, pensei comigo: que disparidade! E concluí com tristeza nos olhos: todos vêm ao mundo para viver, embora a maioria vegetasse na imundície. Precisávamos dar a parte que cabia aos outros. Acho que o humano não existe, o que conta mais é uma tapeação.
             Gupiara sabe disso, você também, meu filho. Mainhô e Tia Chica devem saber. Todos estão errados, o mundo está errado.A verdade é um sonho.As pessoas também o são. Eu e você... Daqui mais algum tempo Gupiara talvez nem exista.
             Blemblemblém, blemblém... Meia-noite e missa rezada na pequena igreja. O padre a dizer uma verdade mística. E um desafio para rapazes e moças que namoravam, apenas namoravam. Poucos rezavam de verdade, muitos parodiavam de mentira. Naquelas circunvizinhanças tudo se mesclava de ambigüidades.
             Os sinos repicavam e as árvores surgiam belas, aparentemente belas. Fim de ano todos se congratulavam a espera de dias melhores. Dias que nunca chegavam, intermináveis dias principalmente para aquele povo pobre.
             E assim Painhô costumava filosofar: meu filho, o homem é inimigo dele mesmo, somente prevalece o interesse e a vaidade em si próprio. Veja esse imenso descampado, e apontou em direção ao infinito. Quão gigantesca é a natureza!, disse. Mas, o ser humano é bem pequenininho, diminuto mesmo.
             Juro que saí dali convencido que tudo e todo esse festejado não passava de uma ficção. Meu pai sabia das coisas.



ESPAÇO LIVRE


SEQUÊNCIAS E CENAS ANTOLÓGICAS



             Þ A seqüência de Os Pássaros (Hitchcock, 63), quando os mesmos atacam um posto de gasolina, com a câmera vista de cima e mostrando a visão das aves. É um soberbo momento cinematográfico.
             Þ A cena do assassinato no banheiro de Psicose (Hitchcock, 60), com a câmera explorando os cortes rápidos, numa montagem insólita.
             Þ A seqüência do sonho em Morangos Silvestres (Bergman, 57), com todos os traços característicos de um pesadelo, condicionando o filme a partir daí.
             Þ Toda a seqüência final de imagens em O Eclipse (Antonioni, 61), filme que relata a incomunicabilidade e a ambigüidade existente entre os seres humanos.
             Þ A seqüência inicial de Ama-me esta Noite (Mamoulien, 32), com o batuque de sons anunciando a chegada do cinema sonoro.
             Þ A seqüência final de O Baile (Scola, 83), com o bar fechando e os atores saindo um a um de cena. A dança coletiva de momento terminou, mas a vida continua. Foram trinta anos de história da França contados em uma única noite. Uma obra-prima do cinema.


Bené Chaves

por benechaves às 19:11