Enquanto a preta velha servia o leite gostoso e espumoso, aquele arroto ia saindo com satisfação. Por cima e por baixo. Painhô, então, levantou-se e voltou ao terraço, colocando a rede nos sujos armadores. Viu, dali, deitado, a enorme lua que surgiu dentre os morros. Ela quase roçando seu rosto. Ficou extasiado com a bonita paisagem.
Gritou pedindo o violão e convidou as duas mulheres para o ouvirem cantar. Acho que Gupiara escutou também aquele chamamento. Moveu as duas mãos e iniciou as modas:
Menina dos olhos d'água
Me dê água pra beber
Não é sede não é nada
Só vontade de te ver.
Afinou o estribilho na segunda pauta:
Ai céu céu céu
Ai céu sereno
Ai céu me leva
Para os braços da morena.
Mulher casada
Que duvida do marido
Toma a mão no pé do ouvido
Pra deixar de duvidar.
Homem casado
Beliscou mulher dos outros
Pode-se dizer morto
Na ponta do meu punhal.
E, olhando, de soslaio, para a mulher, inventariou outra moda, claro, tocando com entusiasmo:
Mulher de vergonha
Não se meta em beliscada
Seja fiel ao marido
Senão fica atrapalhada.
Painhô levantou da rede, calçou os chinelos e puxou o violão pra debaixo de um braço e a mulher pra debaixo do outro. Não sei não, mas, toda vida que meu pai ia cantar, despertava-lhe uma fome diferente, acho que de sexo. Ele me contou depois que foi dormir, mas tenho em mente que era apenas uma força de expressão.
E ele ia lá dormir numa situação daquela...
ATO FINAL
brotaram em mim
tumescências viscerais
cobiças violentas
flagelações...
E no alvorecer tardio
você trouxe a aurora
e eu te dei perene
a última gargalhada.
por
benechaves às
16:33