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Bené Chaves <>, natalense, é escritor-poeta e crítico de cinema.
Livros Publicados:
a explovisão (contos, 1979)
castelos de areiamar (contos, 1984)
o que aconteceu em gupiara (romance, 1986)
o menino de sangue azul (novela, 1997)
a mágica ilusão (romance, 2001)
cinzas ao amanhecer (poesia, 2003)
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sábado, julho 29, 2006

No próximo dia 01 de agosto este blogue estará fazendo dois anos de existência. Já está bem crescidinho, hein? Apenas quero registrar o fato e agradecer a todos que nos visitam e principalmente aos que comentam semanalmente, numa demonstração de carinho e apreço pelo que fazemos ou tentamos fazer na medida do possível. E espero que continuem assim. Gostaria, lógico, que todos comentassem. Mas, a simples presença também tem o seu valor. O valor do anonimato. E sei que comentam mais os que possuem uma página na internet, as amigas ou os amigos. Não sei, contudo, quanto tempo ainda permanecerei por aqui. Às vezes tenho vontade de largar tudo, porém invade uma saudade de deixá-los. Então volto ao ponto inicial. Perdi alguns elos, pessoas que desistiram de suas páginas. E outras, entretanto, que deixaram de comentar ou aparecer, não sei a razão. Mas, a vida é assim mesmo, existe o encontro, depois o desencontro e posteriormente, quem sabe, um reencontro. No entanto, sou muito grato a todos. Agora é tentar levar o nosso o apanhador de sonhos até onde o mesmo puder ir.


PALAVRAS QUE INQUIETAM (6)


Þ Embora o filósofo e professor Patrick Mullahy, autor do livro Édipo: mito e complexo, tivesse dito que "as relações de ódio constituem não só sentimentos negativos, mas, em geral, impedem a formação de uma emoção de amor ou, pelo menos, sua manifestação", sabe-se que o amor e o ódio andam juntos, coladinhos e paralelos. Exemplos disso já têm sido presenciados em abundância nos homens ou mulheres que declaram suas paixões e depois de certo tempo os papéis se invertem, ou seja: surgem as tragédias entre os amorosos e agora algozes casais. De um afeto que se julgava eterno, o sentimento passa para o desprezo total daquela pessoa em questão.
No clássico Aurora(Sunrise), realização de 1927, o alemão F.W. Murnau conta uma bela história de amor. É um drama sobre o ciúme, onde sua carga de lirismo nos surpreende com visuais criativos e atuais. E aí, então, o filme mostra, de uma maneira realista, a interação existente entre os citados substantivos masculinos. São os dois gêneros de formação emocional, segundo avaliação das teorias de Otto Rank.
Portanto, complementa o próprio Mullahy: "a vida emocional representa a mais poderosa força interior, uma força que é mais influente do que o instinto sexual", dizendo ele, em seguida, que a segunda alternativa é susceptível de ser controlada e satisfeita, enquanto a primeira, ao contrário, é incontrolável e insaciável.


Þ E enquanto alguns acham que a vida é curta demais, sem chance para a felicidade de muitos, inclusive a maioria não vivendo com dignidade, sofrendo desde seu nascimento, com crianças, homens e mulheres passando privações as mais diversas, o filósofo Ralph W. Emerson, nascido em 1803, dizia ser ela "desnecessariamente longa". Não se comovendo com o que ele chamava de "a tolice dos homens", não deu confiança a um dos asseclas que o indagou: - Sr. Emerson, sabe que, hoje à noite, o mundo chegará ao seu fim? Ao que, ironicamente, rebateu: - Alegro-me de ouvi-lo; o homem viverá melhor sem ele.
Outro pensador da mesma época, Herbert Spencer, completava que "a vida do homem, a vida do mundo, é um sonho intermitente entre um sono e outro sono", falando também que "cada um de nós é um composto de duas personalidades: o homem exterior e o interior". Profundo e trágico, Spencer, no entanto, tinha o bom senso de não confiar no Estado( já naqueles tempos existiam fortes interrogações...), cobrando-lhe que se limitasse "a impedir que fosse violada a igualdade de direito de seus membros". Incrível como essas mesmas igualdades são ainda vilipendiadas a cada momento...
E o que George Santayanna - um pouco mais velho do que os dois anteriores - dizia disso tudo? Esclarecia que "as ações dos homens não são livres, mas mecânicas". Na sua negação da força do espírito, observava que não existia uma alma imortal. Acrescentava então: "acreditar numa alma assim é acreditar, simplesmente, em mágica". Era um homem, a exemplo de Voltaire, também paradoxal. Chamando a vida de espetáculo irracional, talvez tivesse razão quando afirmava que, contrariando opiniões ingênuas, "o céu consiste em estar em paz com as coisas".
ESPAÇO LIVRE

Na quarta-feira passada, dia 26, o sarau organizado pelo Eduardo Gosson homenageou o poeta natalense Sanderson Negreiros. Estive presente ao evento e de lá pesquei o poema seguinte, que faz parte do livro "Fábula, Fábula"( Edufrn, 1998 - 4ª Edição):


Poesia! Perdição extrema
de anjos. Virtual
espera de relógio
no braço.
Poesia, sem símbolo,
a varrer as épocas. Sem
brilho, de flores pobres.
De águas
cantando o que na água
se constrói: secreto e acanhado.
Poesia! A quem se retorna.



sábado, julho 22, 2006


PALAVRAS QUE INQUIETAM (5)


Þ O racionalista Baruch Spinoza, que viveu em meados do século XVII, era tido como um homem de doutrinas perigosas. E diante disso (olhaí a prática que vem de longe...), mandaram-no chamar e ofereceram-lhe um rendimento anual equivalente a 500 dólares pelo seu silêncio e sua adesão à fé ortodoxa. Recusando tal oferta, foi de imediato excomungado. Começou, então, a viver seu drama. Mas, não se abateu e aprofundou-se nas suas teses, como filósofo que era. Dizia que "o mundo nunca foi criado, nunca será destruído". E definia a atitude religiosa pela ignorância das causas. Não acreditava num Deus pessoal, providencial. Deus, para ele, era o mundo. Completava depois sua teoria, dizendo: "todo homem deve amar a si mesmo e procurar o que lhe é útil". Quando afirmavam que era um conceito egoísta, ele arrematava: "pois, para que amemos a nós mesmos, havemos de amar aos outros", disparando em seguida que "as nossas maiores vitórias são obtidas não pelas armas, mas pela grandeza da alma".


Þ Falemos um pouco agora sobre a liberdade... E vamos ao encontro de Jean-Jacques Rousseau, que, com sua alma romântica e sentimental, dizia ser a mesma "não apenas um direito, mas um dever imprescindível da natureza humana, que exige também a igualdade dos homens". Sabendo ele que "quando a civilização e a sociedade os corrompem, é preciso recorrer ao sentimento, voltar à natureza". Mas, num tom alegórico, embora o escritor russo Dostoievski (Crime e Castigo, entre outros) dissesse que "os homens não têm mais de escolher, nem de pensar, nem de querer, pois para lhes dar a felicidade cega, arrebataram-lhes as liberdades", o pensador e filósofo francês Jean-Paul Sartre dizia categórico que "ao querer a liberdade, descobrimos que ela depende inteiramente da liberdade dos outros, e que a liberdade dos outros depende da nossa". Reconhecendo também que "minha liberdade é um mito... e minha vida se constrói por debaixo desse mito, com um vazio, o sonho orgulhoso e sinistro de não ser nada". E quando outro pensador, o Edmund Husserl, observa, então, e diz ser "o futuro radicalmente indeterminado, imprevisível; não existe tempo objetivo e tudo recomeça a cada instante", sentimos que a nossa almejada liberdade pode ser apenas um toque de imaginação.

ESPAÇO LIVRE


METÁFORA


A neblina cai na madrugada
acordando teus sonhos
atiçando qualquer sono
embaçando a tua solidão.

Ela pactua com o amanhecer
na esperança de te saudar
no desejo de te conhecer.

E forma uma tênue névoa
ocultando tua meiga afeição
no desespero de uma vida.


Bené Chaves



sábado, julho 15, 2006

Compartilho hoje com vocês do conto Castelos de Areiamar, inserido no livro do mesmo nome, editado em 1984. E com as necessárias modificações de praxe. Falando sobre o mesmo na sua contracapa disse o escritor natalense Eulício Farias de Lacerda: "O conto que dá nome ao livro é o único que escapa à temática dos demais. Nele o autor explora o denominado realismo mágico ou fantástico, gênero que teve o seu boom nas décadas de 60 e 70, por influência direta dos autores latino-americanos". Espero que tenham uma boa leitura.


CASTELOS DE AREIAMAR


Redescobri-me quando fui novamente empurrado para dentro daquele buraco. A areia me cobriu e, então, não vi nada, apenas umas patas dando incômodos chutes no meu traseiro tentando me afastar o mais rápido possível. Eles queriam me enterrar vivo, de surpresa, sem aparências. E pensar que a pouco brincava descontraído sobre enormes ondas, o brabo mar às vezes ralhando comigo e jogando-me nos morros. Dormia horas de papo pro ar, feito menino buchudo, nas cercanias do lugarejo. Neste mundo perigoso, mundão de precisões. No inverno, passava a vida me ocupando de barracas e embarcações, a chuva caindo sem piedade. No verão, derretia ao sol, avermelhava, pensavam em doença feia, a pele esfolada em manchas escuras e carne-viva.
Estava deitado e senti um arrepio como alguém fazendo cócegas, dedos frios alisando minha espinha. Abri os olhos e tive medo. Pois é... Dentro do buraco acenderam-se luzes. Olhei ao redor e vi um bonito castelo. Ao lado, bonecas cantavam e dançavam alegres músicas de remelexo. Um senhor de cabelos brancos e ombros largos, cara de raposa, me olhou furtivamente. Baixei o rosto encabulado, pensando estar sendo alvo de repreensões. Na parte de cima um candeeiro iluminava uma mesa cheia de fartos pratos enfeitados e saborosos. Fiquei com água na boca. E com fome também. Tudo era deslumbramento! Não me contive e desci para o vão oposto, aproximando-me da mesa a beliscá-la feito passarinho faminto. Todo aquele feitiço aos meus olhos. Embaixo do mar, céu, estrelas... Eram encantações!...
Os fantoches saíam e dentro de segundos estariam em rebolados ininterruptos. Ajeitando aqui e ali seus belos trapos de pano, orgulhosos, desenfastiados, fantasmas a percorrer o retangular ambiente. Um sabor agradável atingiu meus lábios e me transformou... Melodiei uma música saída espontânea, solta, como se quisesse bailar. O suposto dono do castelo riu a valer, vendo-me, talvez, em situação vexatória e ridícula para si próprio. Estava tonto, o teto estabilizou e uma areia fina caía aos montes. Fiquei perplexo e não vi mais nada. O mar parado, calado, parecia tirar uma soneca nas trevas, às escondidas. O sol e a lua desapareceram e se ocultaram dos tumultos. A felicidade encarcerava-se no subterrâneo.
No quarto ao lado uma jovem saiu distribuindo beijos e afagos. Pensei em sonhos, delírios, arrebatamentos... Era a rainha. Olhou-me de raspão e baixou a cabeça. Todos consumiam algo de deleitoso. Gritaram e apalparam na inquietação ao redor da mesa. Nunca viram uma mulher igual àquela. Quando o rei os apareceu eles empalideceram e os olhos do monarca ofenderam nossos procedimentos. Passou, repassou... E uma estrela piscou longe, sonolenta.
Debaixo da terra, seres que podiam parecer diferentes viviam aquém e além de ilusões. Surgia uma nova existência. E dançavam e cantavam verdades. E pulavam e comiam como outros humanos. Fantasias requebradas e autênticas. Mesmo no paradoxo que a palavra pudesse declinar. Perto dali alguns pássaros rolavam com seus vôos cantarolados na imaginação, a música não mais que diluindo sons e ruídos de uma bela partitura.
Eram somente sorrisos e suores entrelaçados, pois uma cidade estava se erguendo no meio da população. Uma urbe subterrânea. Povoadas sim senhor! Pensei que fosse obra de imagineiro, doidice. Palavra de honra! Mas, a verdade se construía aos nossos pés. Uma verdade sem donos. E as pessoas caíam puxadas por um ímã, uma sedução. O mar aderiu e jogou-se arrebatado, sua cor azulada nos encharcando de alívio. Em breve teríamos corredores de casas. A lua apareceu linda e com uma luz que brilhava nas circunvizinhanças nos deixou em um estágio de êxtase. Estava no seu esplendor total. E o sol resolveu também nos aquecer quando se erguia portentoso sob as colinas.
No céu, na transgressão inadiável, vi estrelas tentando fugir, chorando tal mudança de ares. Chorando de felicidade. Desejavam, elas, serem livres, escolherem, palpitarem. E iluminarem. Porquanto todos nós sabíamos que a liberdade teria de ser feita a braços longos. Então a terra se desfez. Não mais iria existir vida na parte superior. Lógico que não! Ela penetrara no ar, ei, ia... No mar, amar... No amor!
Bené Chaves



sábado, julho 08, 2006


PALAVRAS QUE INQUIETAM (4)


- Será que o mundo é mesmo inteligível, como queria Hegel? Segundo ele "a razão encontra-se no âmago das coisas". Porque, acrescentava então, "quando o homem perde a fé nos valores da vida humana, a civilização retrocede". Em tese dizia que "a vida tem a morte, e o amor, o ódio. O dia tem a noite, e a mocidade, a velhice". Afinal de contas, ela, a vida, "é uma luta de forças opostas tentando combinarem-se umas com outras, numa unidade mais elevada".

- E o filósofo Epicuro ( 342/270 a.C.) o que diria de tudo isso? Antes de mais nada, quando tinha apenas doze anos, seu professor tentou explicar a criação do mundo.
- Tudo vem do caos, disse-lhe o mestre.
- Sim...- retrucou Epicuro,- mas de onde proveio o caos?
-Não sei, ninguém sabe..., voltou-lhe a dizer.
Era um descrente que negava a humanidade de Deus, porém sustentava a divindade do homem. No início dizia que "o propósito de viver é gozar a vida. Mas, para que possamos gozá- la, devemos compreendê-la". Afirmava ser ela "apenas um acidente mecânico", porque acreditava sinceramente que "a vida do homem é uma farsa demasiado louca... é um guerrear contínuo, e não há trégua para nenhum de nós senão na morte". Sobre a verdadeira religião dizia que "ela não consiste no sacrifício, na superstição ou no medo. Consiste, antes, numa piedosa imitação dos deuses, isto é, na contemplação da natureza do mundo".
E quanto ao aspecto de nossa vivência aqui acrescentava que "a terra em que vivemos, é-nos arrendada por algum tempo, e, ao chegar o momento de partirmos, somos despejados sem aviso prévio". Afinal, "se os sofrimentos da vida podem reconciliar-nos com a morte, a santidade da amizade pode reconciliar-nos com a vida", concluía triunfante.

ESPAÇO LIVRE


DELÍRIO



À luz do dia te vi
na neblina da manhã
tua imagem a reflorir
em águas pálidas.

Consumi teu encanto
e espalhei na bela orla
a luz do crepúsculo.

E nas areias difusas
imaginei-a Deusa.

Bené Chaves



sábado, julho 01, 2006

PALAVRAS QUE INQUIETAM (3)



Þ Falando um pouco sobre o pessimismo, nos vem à tona Arthur Schopenhauer, nascido em 1788. Era uma pessoa difícil de entender, e desde logo transformou a hostilidade que tinha à sua mãe num ódio eterno. Diante disso, dizia: "desde o primeiro alvorecer de meu pensamento, senti-me em desacordo com o mundo". E por aí foi ditando sua filosofia da solidão... "Os homens de valor intelectual, principalmente quando dotados de gênio, só podem ter poucos amigos". Nem tanto, nem tanto... Pois as regras têm suas exceções. Mas, quando um homem leva uma vida mental "e pelo simples fato de existir, trabalha para toda a humanidade; está isento, portanto, de quaisquer obrigações". Justificava, com isso, sua ociosidade física, pois tinha liberdade para se ocupar com exclusividade de sua mente. Acreditou que o próprio homem era apenas um sonho, isto é, "quanto mais o conheço, menos gosto dele", finalizava. Decerto que não gostava de sonhar. E parecia não levar a sério as mulheres, sempre as desprezava, talvez como desdobramento da raiva que alimentou da própria mãe.
Também o filósofo romancista William James, nascido em 1842, corroborando um pouco do pensamento anterior, disse: "nenhum homem é psicologicamente completo se não tiver, uma vez ao menos, na vida, meditado sobre sua auto-destruição". Quanto a isto, escrevia o cientista Ernst Haeckel: "O importante problema da auto-destruição(a própria palavra é absurda - devia chamar-se autoliberação), tem-me ocorrido com muita freqüência", pois, acima de tudo, "o enigma da vida continua indecifrado".

Þ E quanto às famigeradas leis, que estão aí somente nos moídos e roídos papéis? Saint-Just exprimia uma máxima lapidar: "a servidão consiste em depender de leis injustas; a liberdade, de leis racionais". Porém o genial escritor Franz Kafka (O Processo, entre tantos outros), descreve uma bela parábola para mostrar o absurdo de suas não execuções. Eis, portanto, em síntese, tal exposição:
"Diante da Lei há um guarda. Um camponês apresenta-se diante deste guarda, e solicita que lhe permita entrar na Lei. Mas, recebe a negativa, não poderá deixá-lo entrar. E diz: 'se tão grande é o teu desejo experimenta entrar, apesar de minha proibição. Porém lembra-te de que sou poderoso. E existem, além de mim, outros e outros guardas também poderosos'. A Lei deveria ser sempre acessível para todos, pensa ele. E resolve, então, esperar sua vez. Ali espera dias e anos. Maldiz sua má sorte em voz alta, mas, à medida que envelhece, apenas murmura para si. Já lhe resta pouco tempo de vida e à beira da morte, sussurra para o guarda: - Todos se esforçam por chegar à Lei".
Mas, o pobre homem morre e não consegue penetrar naquele confuso e sombrio labirinto. O guarda resolvera fechar definitivamente sua entrada. Não é uma narração alegórica de forte impacto, sabendo-se, de antemão, que muitas portas são lacradas quando tentamos adentrá-las honestamente?

ESPAÇO LIVRE


EPÍLOGO


Depois de cobrir-te
de belos poemas
rasgarei um por um
para achá-la perene
divina e formosa
em teu corpo solidário
e solitário.

E afogarei tuas mágoas
nas miúdas letras de um
livro em decomposição.

O romance de tua vida.

Bené Chaves